Calmaria

Denise acordou com os pássaros que cantavam em sua janela. Não sabia ao certo o que estava acontecendo, só sabia que não estava sozinha. Acordou abraçada à Gustavo. Denise não se assustou... Sentia-se em segurança. Fazia tempo que não se sentia assim. Mesmo estando casada com Mauro, já tinha alguns anos que não partilhavam da mesma cama de forma tão agradável, geralmente ele a usava para se satisfazer e logo após se levantava a deixando ali, sozinha... Não conseguia lembrar da última vez que ficaram assim, abraçados...

Denise se mexeu um pouco acordando Gustavo.

_ Denise... _ acordou meio confuso de onde estava. _ Desculpe... Vi você dormindo, vim te cobrir e acabei pegando no sono. _ Gustavo se desculpava mantendo-se abraçado a ela.

_ Sim... Acordei agora e vi você dormindo. Não tive coragem de te acordar, estava num sono tão bom... _ falava Denise sem se incomodar em se afastar.

Os dois ficaram em silêncio, um olhando para o outro. Um misto de emoções envolviam os dois... Gustavo não conseguia ordenar os seus pensamentos, Denise não pensava em nada... Gustavo aproximou-se dela e quando ia beijá-la é interrompido com o bater da porta. Denise se assusta se levantando o mais rápido que pode de sua cama.

_ Quem é?_ pergunta Denise sem abrir a porta fazendo sinal para que Gustavo levantasse e entrasse no banheiro.

_ Sou eu, amiga. _ falava Mariana. _ Vim te chamar pra gente comer alguma coisa e dar um passeio pelas redondezas. Não viemos para ficar em casa,não é??

Denise observa Gustavo correr para o banheiro, disfarça a voz e responde em seguida:

_ Claro amiga, já vou sair. Estou no banheiro, mas já vou.

Mariana acredita e fala rindo:

_ Tá bom. Vou estar te esperando com Mário lá embaixo. _ após falar, Mari sai.

Denise segue para o banheiro e vê Gustavo sentado na privada segurando o riso.

_ Me senti um adolescente se escondendo dos pais da menina que estou saindo ... _ falava Gustavo rindo.

Denise não se aguentou com o comentário e soltou uma gargalhada. Seu chefe sentado na privada estava Hilário! Que loucura ver aquela cena tão constrangedora e, ao mesmo tempo engraçada.

_ Gustavo, espero que você não esteja fazendo o número 2. _ falava rindo.

Gustavo só se deu conta de onde estava após ouvir o comentário de Denise. Ele levantou-se de imediato se explicando:

_ Claro que não!! Eu sentei aqui para esperar você desfazer-se da visita. _ falava Gustavo rindo daquela situação.

Denise continuou a agir como se nada tivesse acontecido entre eles antes de Mari bater na porta e se pôs a falar:

_ Vamos, eles estão nos esperando para andar pelos arredores da casa. Não viemos para nos internar num quarto, não é? _ falava enquanto empurrava Gustavo para fora .

Antes dele sair, parou na porta e segurou Denise pela cintura. Ela podia sentir o calor em seu ventre... Só o toque daquele homem a fazia ficar sem ar.

_ Gustavo, pare... _ Denise lutava contra suas emoções falando baixinho. _ Não vamos a lugar algum com isso,você sabe muito bem....

Gustavo a apertava mais.

_ Porque luta? _ falava Gustavo aproximando-se de sua boca. _ E se eu não quiser parar? vai me processar? _ ele falava roçando os lábios nos dela sem invadir a sua boca completamente. Queria deixar ela apenas na vontade. _ Quer mesmo que eu pare??

Denise junta o resto de suas forças e o empurra para longe dela o colocando para fora de seu quarto trancando a porta em seguida.

Ela encostou-se na porta e o respondeu baixinho:

_ Não... não quero que pare. Esse é o problema. _ falou tentando se recompor.

Gustavo estava nas nuvens, ela o queria tanto quanto ele queria ela ... Acabara de constatar que Denise também estava a fim dele, só estava lutando contra. Ele respondeu:

_ Eu não quero parar... _ tentava falar enquanto lutava para puxar o ar que faltava em seus pulmões devido tamanha tensão que sentia. _ Não faça nada... Só não me pare, deixa que eu faço tudo sozinho...

Denise queria fugir dali, pular a janela, correr em meio aquele mato para bem longe daquele lugar. O seu quarto parecia diminuir a cada palavra que Gustavo pronunciava, estava a apertando ao ponto de deixá-la sem fala. Gustavo podia sentir a respiração de Denise ainda pesada por trás da porta, mas ela não falava mais nada... Esperou alguns minutos e partiu para junto do pessoal.

Denise se levantou, arrumou-se e saiu. Precisava respirar ar livre, ela não podia se envolver com um cara que nunca assumiu um compromisso de verdade. Ouviu pelos corredores da empresa o quanto Gustavo era insensível... pagava mulheres para satisfazê-lo simplesmente por não querer que nenhuma das que ele se envolvia o cobrasse uma posição futura. Não poderia colocar o seu coração numa corda bamba e acreditar que estará tudo bem. Estava saindo de um relacionamento que ela achava ser o ideal para ela e hoje tem certeza de que vivia um relacionamento abusivo onde a estrada não era uma via de mão dupla, era uma via de mão única onde o caminho só dava para o cara e nunca levava para ela. Denise Colocou sua máscara de força no rosto e seguiu ao encontro de seus amigos.

Definitivamente a visão da natureza é algo inexplicável. Denise admirava aquela paisagem enquanto os outros conversavam.

Caminharam durante horas conhecendo as plantações, vendo o gado, os cavalos... Estar próximo à natureza era maravilhoso.

_ O que achou,Denise? _ Pergunta Mário enquanto caminhava de mãos dadas com Mariana. _ Gostou do campo?

Denise com os olhos brilhando responde:

_ Só pode estar louco.... É maravilhoso! Olha quanta fartura!!!! _ falava apontando para a plantação.

Gustavo prestava a atenção na conversa de Mário e Denise, estava amando ver a animação dela. Nunca viu o campo da forma que estava vendo hoje, para ele aquela fazenda sempre foi motivo de tristeza. Sua mãe o levava para lá quando ela e seu pai discutiam , ela se sentia bem estando longe de tudo. Mas para ele era uma tortura... ver a sua mãe triste, se afastar dos únicos amigos que tinha na infância e ficar ali, isolado envolvido nessa disputa adulta entre estar ou não casado, ser ou não fiel, respeitar ou não um ao outro.... isso era cruel. Lembra como se sentia, uma criança tendo que lidar com tantas coisas ruins...

Denise se aproxima de Gustavo que olhava para o horizonte perdido em suas lembranças.

_ Vinha muito aqui quando menino, Gustavo? _ ele surpreende-se com a pergunta e sem pensar, responde:

_ Sim, vinha com a minha mãe... Ela gostava de se esconder do mundo e de seus problemas ao invés de lutar. _ falava com a voz triste.

Denise percebeu haver mágoas em Gustavo,mas ela não poderia ajudá-lo agora. Não tinha o direito de palpitar num assunto que desconhecia, então, se reservou a apenas pegá-lo pela mão e sair caminhando até um lago mais adiante. Gustavo,se sentindo enfraquecido mediante as lembranças que insistiam em voltar após tanto tempo, aceitou sua mão e a seguiu para distante do pessoal.

_ Pelo que fala, você foi um menino muito responsável com a sua mãe. _ começou a falar Denise sentando-se na margem do lago com os pés tocando a água. _ Olha, uma criança não precisa se envolver em assuntos de adultos... muitas vezes os adultos fazem escolhas ruins e precisam resolver as consequências dessas escolhas tentando evitar ao máximo que seus filhos sejam afetados.

Denise convidou Gustavo a sentar ao seu lado e continuou a falar enquanto ele permanecia calado.

_ Não sei como era sua relação com sua mãe, mas olha para esse horizonte. _ mostrava-lhe enquanto falava _ Todos os dias o sol nasce e vence a escuridão, isso é uma tarefa diária... Ele nos mostra que mesmo quando a escuridão é total, nós podemos vencê-la... Basta nos permitirmos brilhar.

Ao ouvir isso, Gustavo deixa cair algumas lágrimas. Denise, notando isso, o abraça na tentativa de conforta-lo.

Ao sentir aquele abraço Gustavo desmorona deixando vir a tona tudo o que guardou durante toda a sua infância... A vida toda se sentindo afogado por essas lembranças, nunca teve a oportunidade de colocar para fora com ninguém. Não confiava em ninguém, não podia deixar que as pessoas o vissem tão fraco... No ramo que ele trabalhava não havia espaço para traumatizados, para fracos... Mas agora, ali, com Denise... Sentia poder se libertar finalmente daquela dor que o acompanhava a tantos anos.

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Comments

Maria Aparecida Barbosa da Silva

Maria Aparecida Barbosa da Silva

Que lindo adorei esse capítulo ❤❤❤❤

2023-02-22

1

Adriana Neri

Adriana Neri

a cena do banheiro foi hiĺaria. kkkk

2022-12-19

2

Marilene Klauch Maito

Marilene Klauch Maito

Que triste

2022-10-31

1

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