o acordo

Mauro chegou ao seu local de trabalho totalmente transtornado, não queria que a conversa com Denise tivesse tomado o rumo que tomou. Queria fazê-la entender que o seu lugar era ao lado dele e não brigar com ela na presença de todas aquelas pessoas... E tem também aquele advogadosinho de araque. No que ele estava pensando quando se meteu no meio de sua conversa com a sua esposa, isso não ficaria assim. Ninguém falava com ele daquele jeito e saia impune.. Denise não poderia humilha-lo daquela forma. O que o pessoal da empresa pensaria a seu respeito? Separado?? Sem uma vida estável? Como lidaria com os fuxicos dos corredores da empresa que trabalhava? Isso ele não aceitaria, Denise voltaria com ele por bem ou por mal...

Mauro não queria nem pensar na hipótese de uma separação, conquistou o seu prestígio através da aparência de ser um homem com um longo casamento, um homem respeitado por todos. Ele não permitiria que ela destruísse tudo o que conquistou. Teria que tentar vê-la sozinha, teria que conversar com ela sem que tivesse aquele homem a tira-colo , dessa forma ele a convenceria da volta.

Enquanto Mauro pensava numa maneira de reatar com Denise, Gustavo pensava em tudo que aconteceu com ele nesta manhã envolvendo a faxineira enquanto caminhava retornando à empresa. Como ele poderia estar tão perturbado com o que viu naquele restaurante? Isso não deveria tê-lo afetado daquela maneira... Na entrada do prédio cumprimentou o pessoal da recepção e seguiu direto para o elevador, teria que pensar numa forma de acabar com essa rixa que ele mesmo criou com aquela mulher, isso não poderia continuar. No 3 andar, onde ficava instalado o pessoal da limpeza, Gustavo desceu do elevador e seguiu pelo corredor até a sala dos empregados de modo a encontrar Denise, precisava fazer as pazes com ela e seguir a sua vida adiante.

Ao chegar na sala, antes de bater na porta, pôde ouvir alguns soluços vindo de dentro. Alguém estaria chorando ... Gustavo não bateu, simplesmente abriu a porta e entrou devagar para não assustar seja lá quem estivesse chorando. Assim que entrou identificou uma pessoa sentada no chão num canto da sala. Era Denise. Ela estava com a cabeça apoiada entre as mãos chorando copiosamente. Sem pensar ele se aproximou bem devagar e quando chegou perto pegou em suas mãos e a levantou aconchegando-a em seu abraço.

Denise pensou em se afastar, mas estava tão machucada, tão envergonhada que não conseguia mais lutar... Não conseguia mais brigar... Não queria mais. Gustavo notou uma pequena resistência e falou baixinho em seu ouvido:

— Shiiiuuuuuu... calma... _ Gustavo a apertava um pouco mais com os seus braços enquanto a acalmava _ Não fala nada, não quero saber... Só me deixa te abraçar.

Denise não resistiu, apenas se permitiu sentir aquele toque. Necessitava disso, desse calor humano, desse carinho. Estava tão carente de proteção naquele momento que a presença do Gustavo veio em boa hora.

_ Denise, perdoe-me por ter sido uma péssima pessoa com você _ Gustavo continuava a falar enquanto Denise se mantinha calada _ Sei que passei do meu limite, mas não consegui me manter distante vendo você nesse estado. Se quiser conversar e falar o que aconteceu, pode contar comigo... Estou aqui para te ajudar. Foi alguma coisa aqui na empresa? O Mário falou alguma coisa que te feriu ?

Quando Denise ouviu Gustavo pronunciar o nome de Mário , imediatamente ela afasta-se dos seus abraços.

_ Como sabe que fui almoçar com Mário hoje? Estava me espiando? Porque o Mário teria feito algo comigo?

Gustavo já não sabia mais o que dizer ou fazer com aquela mulher, quando parecia estar a dar certo algo sempre dava errado no final.

_ Não estava te seguindo,Denise. Fui almoçar hoje e vi vocês juntos, por isso que imaginei ter sido ele. Mas foi apenas uma pergunta, nada demais. Caso queira falar sobre o que está te machucando eu estou aqui disposto à te ouvir. Poxa! estou desarmado, querendo uma trégua e você está lutando ainda... Me dá uma chance, não sou um cara ruim como tenho parecido.

Denise viu sinceridade na fala de Gustavo e finalmente decide baixar a guarda .

_ Sinto muito, estou cansada de brigar... cansada de ser forte. Me perdoe. O Mário é um homem muito elegante, jamais faria nada para me ofender. Na verdade, até me defendeu hoje.

Gustavo pregunta curioso:.

_ Defendeu? De que ele precisaria te defender ?

Denise continua:

_ Você nem imagina o que aconteceu. Sei que não te interessa os assuntos dos empregados, mas já que está querendo saber vou te contar. O meu ex-marido foi ao restaurante me ameaçar, quer que eu volte para ele de qualquer maneira, mesmo usando de ameaças como artifício para isso acontecer. Eu decidi trabalhar para pagar os honorários de algum advogado porque quero entrar com uma ação de divórcio contra Mauro... Enfim, é basicamente isso.

Gustavo não imaginava que o caso dela era tão grave assim, mas lembrou-se do momento em que seguia para o restaurante e tropeçou num homem completamente transtornado na calçada, parecia ter acabado de sair do restaurante.

_ Nossa,Denise... Não imaginava que estava a passar por algo tão sério. Quando chegava ao restaurante, pareceu-me ter visto o tal Mauro saindo de lá. Estava muito nervoso mesmo.

Denise continuou:

_ Pois é... ele mesmo. Olha, sinto mesmo por estar te atrapalhando com os meus problemas. Já tem gente demais envolvida nisso e posso garantir que Mauro é um homem perigoso... Não posso envolver mais ninguém nessa briga.

Gustavo segura as mãos de Denise e faz um pedido quase que implorando:

_ Me deixa te ajudar ? Deixa eu me redimir da forma que te tratei hoje.... me deixa cuidar de seu caso, não cobrarei nem honorários... Só deixa.

Denise se sentia muito grata, tudo o que ela mais queria era se livrar disso tudo e nunca mais ver a cara de Mauro. Gustavo a puxa novamente para seus braços a apertando bem forte.

_ É uma mulher muito forte,Denise. Vai conseguir sair desse relacionamento abusivo... Pode contar comigo. Podemos ser amigos ?

Denise,ainda abraçada à ele, ergue a cabeça e olhando dentro dos seus olhos responde:

_ Sim. Somos amigos. Obrigada por isso.

Os dois saem daquela sala e no corredor selam essa amizade com um aperto de mãos mais que especial. Naquele momento todas as barreiras que existia entre eles foram jogadas por terra.

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