Ansiedade

A semana passou rápido. Gustavo agilizou todos os processos importantes que tinha, passou mais tempo na rua do que no escritório. Entre um processo e outro pensava ansioso no dia em que estaria com Denise em sua casa de campo, podia apostar que seria um final de semana maravilhoso. Claro, Mário estaria presente também, mas nada que conseguisse tirar a sua paz. Tentaria ser o mais paciente e agradável possível.

Um dia antes da viagem para o campo, Gustavo teve uma audiência de reconciliação entre um casal pelo qual ele advogava para o esposo. Após muitos desentendimentos, finalmente conseguiu uma trégua entre o casal, dividir os bens numa separação litigiosa não é nada fácil. Há muitas acusações, muitas brigas, muitas ameaças... Ele se perguntava como duas pessoas que juraram amor eterno conseguiam chegar a esse ponto... Era de dar desgosto em ver tal situação.

_ Senhor Gustavo. _ chamava o seu cliente. _ O Senhor pretende entrar com uma ação contra a minha ex-esposa? Ela ofendeu-me bastante e levantou acusações falsas a meu respeito nesta última audiência...

Gustavo não podia acreditar no que estava ouvindo. Após tantos encontros, tantas discussões, quando pensava estar tudo resolvido aquele homem ainda queria briga?! Como poderia ter forças para continuar com tudo aquilo?

_ Senhor Renato, pensei que já estivesse tudo resolvido. _ Gustavo falava com um pouco de impaciência. _ O Juiz já bateu o martelo e resolveu a questão da partilha. Julguei que era isso que o senhor queria desde o começo.

Renato não gostou do que estava ouvindo. O seu advogado estava jogando a toalha...

_ Acreditei que houvesse contratado o melhor advogado, mas acho que estava enganado. _ Falava Renato _ Minha esposa me humilhou perante toda a sociedade e o senhor supõe que já está bom? Eu sou Renato Matos de Albuquerque. Não sou qualquer homem para que ela pense que pode fazer o que quer e estará tudo bem. Quero acabar com a imagem dela!!!! Quero vê-la na ruína, sem ter onde cair morta!!!

Gustavo já não aguentava mais. Foi muitos dias envolvido nesta briga que já era óbvio que era apenas o orgulho de um homem ferido simplesmente porque a mulher não aceitou mais continuar casada. Nesse momento Gustavo estende a mão e se despede de Renato deixando bem claro que não participaria deste circo.

_ Senhor Renato. _ Fala Gustavo apertando a mão do cliente na saída do tribunal._ A partir de hoje considero meu trabalho com o senhor finalizado. Não há porque de uma guerra, acredito que já resolvemos o caso para o qual fui contratado. Caso o senhor queira continuar com esse extermínio, aviso que não conte comigo, tenho muitos assuntos graves e urgentes para resolver... Não tenho tempo para batalhar pelo orgulho ferido de um homem que não sabe aceitar o não de uma mulher. Foi um prazer fazer negócios com o senhor.

Assim que termina dá as costas e sai do tribunal de justiça sem olhar mais para aquele cliente. Renato ficou perplexo, não conseguia soltar uma palavra com o que acabou de ouvir. Observou a saída de Gustavo permanecendo imóvel na entrada do tribunal, em sua cabeça ficou apenas o eco das palavras pronunciadas por seu advogado.

Finalmente, relaxar!!!! Gustavo já não aguentava mais tanto trabalho. Ansiedade era o nome para o sentimento que ele estava a sentir. Desde o primeiro dia em que marcaram esse passeio que ele não conseguia dormir direito. Contava os dias da semana e corria contra o tempo para deixar tudo em ordem . Desde muito novo que assumiu a empresa e a partir desse tempo nunca tirou um fim de semana longe do escritório. Ele não sentia falta, estava sempre tão ocupado que nem notava o tempo passar, mas dessa vez era diferente, estava empolgado... ansioso, contava as horas para se encontrar com o pessoal na empresa e ver se estava tudo certo para amanhã. Sairíamos bem cedo para aproveitar ao máximo.

Chegando a empresa, correu para a recepção.

_ Mariana. Senhorita... _ chamava Gustavo.

Todos na recepção pararam para ver, ninguém estava acostumado com a presença do chefe naquele local. Ultimamente ele tem estado diferente com o pessoal, mais animado, saudando a todos... E esse contato com a recepcionista não era normal.

_ Senhor. _ responde Mariana. _ Vejo que conseguiu um tempo para andar com os pobres. _ falava a rir discretamente.

Gustavo rindo continuou a falar:

_ Sim. Estava ocupado a colocar meu trabalho em dia . Amanhã sairemos,não é? E então está tudo em ordem para amanhã? _ perguntava ansioso pela resposta.

Mariana nunca tinha visto seu chefe tão ansioso por um passeio, esse homem só se divertia trabalhando ! Ele está bem mudado mesmo, o que teria acontecido com ele?

_ Sim. Pelo menos da minha parte está tudo ok.

Gustavo pergunta preocupado,já que Mariana deu certeza apenas de sua parte em específico.

_ E Denise? Ela não mora com você? Ela está pensando em não ir? _ perguntava já nervoso. _ Não acredito que ela perderia esse passeio...

Mariana não entende o interesse,mas responde.

_ Não sei. Ela tem estado meio estranha ultimamente. Até tentei conversar com ela, mas não consegui saber o que está a preocupando. O Mário foi lá em casa na quinta a noite , tentamos conversar para ver se descobríamos, mas nada. Espero que ela não desista de sair um pouco, relaxar é o melhor combustível para a mente.

Gustavo sentiu um aperto no peito ao ouvir que Mário havia ido à casa das meninas. Seria ciúme? Não era possível isso...

_ Mário esteve lá? _ pergunta fingindo não se importar tanto. _ Ele deve ser muito legal com vocês, tem se mostrado muito preocupado.

_ Sim. O Mário é especial... Parece se importar muito com Denise. Queria muito que os dois se acertassem... Talvez ela ficaria mais feliz com um cara como ele ao lado. _ Explicava Mariana. _ Ela não está aberta a relações no momento, tem estado muito fechada... Talvez, nessa viagem, Mário consiga algo mais com a nossa amiga e a anime novamente.

Gustavo torceu a cara e respondeu fingindo concordar:

_ É... seria bom...

Após conversarem um pouco mais, Gustavo despediu-se de Mariana e foi para o seu escritório. Precisava de um tempo para pensar e entender o que estava sentindo ao ouvir todas aquelas informações.

_ Boa tarde Angelina. _ falou com a secretária enquanto entrava em sua sala.

_ Senhor. _ interrompeu Angelina. Gustavo parou para ouvi-la. _ Esteve aqui a faxineira nova. Estava a sua procura... Parece que precisava conversar algo importante com o senhor. É mole.... uma empregada supondo que possa ter uma reunião com o senhor... Mas eu já cuidei disso.

Gustavo encarou Angelina e começou a gritar.

_ E quem te deu permissão para decidir quem eu atendo ou não? Isso quem decide sou eu, você é paga somente para cumprir as minhas ordens,Angelina. Chame imediatamente a Senhorita Denise ao meu escritório. _ quando Gustavo ia bater a sua porta,voltou e continuou a sua fala. _ E não é para chamar depois. É AGORAAAAA!!

Angelina ficou abismada. O que ela havia feito agora? Gustavo nunca teve contato ou fazia trabalhos para seus empregados. O que estaria acontecendo com essa faxineira que seria tão importante ao ponto de Gustavo atendê-la?

Angelina ligou imediatamente para a sala dos empregados da limpeza e pediu para que Denise se apresentasse a sala presidencial,pois o seu chefe queria vê-la de imediato.

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