Capítulo 19

Eles estavam de frente para as porteiras, no alto do monte, ainda observando atentos aquelas criaturas que andavam em circulo se esbarrando em meio a pequenos gemidos e dentadas. Sam se aproximou mais, ficando a quase um metro de distância de uma das criaturas que o fitava, como se o análisa-se, como se soubesse das suas intenções, o olhando ainda com aquele olhar vazio, esverdeado e grotresco, seus dentes sujos, suas roupas manchadas rasgadas meladas em trapos, ele ousou se aproximar mais e por um instinto mais que natural a criatura também se aproximou e os dois continuaram se fitando, Sam ainda com o mesmo casaco vermelho, com as calças velhas habituais, os tenis sujos de lama e o rosto tomado por uma ira reprimida e incomum o olhava, já a criatura também trajando um casaco em trapos que deixava a mostra suas costelas secas e roidas, uma calça velha cheia de buracos, descalso e ainda com aquele mesmo olhar no rosto, o mesmo olhar vazio e grotesco que não mudava. Sam delirou por um segundo e se viu na criatura, ali, em pé, se olhando, e como também por instinto se virou no mesmo instante.

-Vocês estão prontos? - ele falou ainda atordoado pelo que tinha visto.

-Sim! - todos responderam em uma única voz

De frente pra ele eles exibiam o mesmo olhar da criatura, Sam mais uma vez pensou está delirando e desviou o olhar, eles não ligaram pro seu ato e sem muita pressa começaram a tirar de suas mochilas o que carregavam, Mia carregava um garfo enorme e com pontas que pareciam ter sido previamente afiadas enquanto Vicky tirou da bolsa que carregava duas enormes facas reluzentes de cortar carne, e Sofy, Sofy estava carregando as enorme tisouras prateadas de Alice enquanto Lisa segurava uma enferrujada tesoura de jardineiro, já Sam carregava consigo espetos de churrasco afiados.

Depois de uma apresentação de seus equipamentos eles se aproximaram dos cercas e começaram a batucar algumas panelas que Sofy tinha trago para que pudesem chamar à atenção que tanto evitaram, não demorou muito pra que as criaturas se aproximassem, algumas sem membros, com o corpo em decomposição, com a voracidade de um leão e com fome de carne fresca, todos diferentes de rosto, mas iguais em uma única coisa, todos estavam mortos, sem vida, o que os mantinha em pé ainda era um mistério, mas sem se questionarem eles andavam e almejavam uma única coisa: Devoralos ainda vivos e quando se amontoaram em uma única parte da cerca o banho de lágrimas começou por que mesmo estando apenas matando o que já  estava morto... aqueles mortos que eles perfuravam... tinham um dia ... sido também humanos.

Conforme cravavam suas armas nas criaturas o céu estremecia a chuva se fortalecia e os trovões e raios inundavam seus ouvidos e olhos e tudo parecia mais uma vez harmônico e suave, os gritos de raiva e dor, os rugidos vorazes, e os trovões extasiados, tudo ao mesmo tempo. Quando enfim terminaram, uma longa visão se foi aberta ao redor e sobre o chão os corpos mais uma vez mortos agora descansavam ou pelo menos era o que eles achavam. Eles pararam, observando o sangue acomulado descer o monte e o cheiro de carne podre inunda-lhes o nariz, se afastaram ainda com os olhos no que tinham feito e alguns cairam.

- Todos estão bem?– Sofy perguntou tomando a liderança de Sam que chorava no chão de joelhos.

Sam se manteve calado.

- Sofy, Sofy!! – vicky gritou – a Mia, a Mia não estar bem.

- O que? Como isso foi acontecer – Sofy se aproximou já olhando de longe a mordida no braço esquerdo de Mia.

- Que droga ... Sam!! Meu deus... o que estamos fazendo aqui ... Sam!!  

 

Enquanto palavras eram soltas ao ar a chuva se mantinha forte disfarçando e atiçando o forte cheiro de carne podre, os relâmpagos ainda iluminando-os clareavam todo o céu como imensos holofotes 

- Sam!! – Sofy gritou enquanto o sacudia pelos ombros tentando trazê-lo de volta.

-  ... por que eu ainda sinto esse sentimento... essa angústia no meu peito...essa dor ... estar me sufocando – ele apertava as mãos sobre o peito dizendo em pequenos sussurros. 

- ... por que? Estar na hora de alguém te dizer umas verdades ... – ela olhou ao redor – acha que é simples acabar completamente com alguma coisa, uma coisa que já está impregnada em você, algo que te consome a cada dia, olhe pra elas – Sofy apontava – você assim como a professora tentou impor a nos um sentimento falso, mesmo perguntando o que queríamos ainda não nos ouviam e agora, olha pra mim droga- Sofy o segurou pelo rosto e olhou em seus olhos – eu disse que te seguiria e que não era contra o que você pensava mas ... mas a Mia foi mordida e você lamenta suas dores ... Sam ... achei que te conhecia.

 

Assim que terminou ela o deixou de lado, Sam parecia perdido em um objetivo já realizado, perdido nos próprios sentimentos que dessa vez o sufocavam de verdade.

- Mia, será que conseguimos volta a tempo? – Sofy perguntou apressada.

- Talvez, eu ainda tenha bastante tempo.

Ela olhou pro seu braço que estava começando a se decompor aos poucos – Acho que podemos chegar a tempo 

-Liza, me ajude a carregá-la.

Liza também estava atordoado, seus olhos estavam fixos a massa de carne que tinha se acomulado a sua frente, enquanto um pequeno e distorcido sorriso se alargava aos poucos no seu rosto até se interrompido pela voz de Sofy.

- Tudo bem - ela ainda olhava os mortos, fascinada com alguma coisa, mas com  um movimento vago balançou a cabeça e passou o olhar por todos parando em Sam - e ele?

- Não podemos ajudá-lo, ele tem que fazer isso sozinho, agora é cada um por si.

-Vicky, você vai ficar aí com ele?

Vicky tinha se desvencilhado de Mia e estava ao lado dele, também chorado, também se sentido mal demais pra fazer qualquer coisa. 

-Não tenho escolha, ele ainda é nosso amigo.

-Que seja, vamos Liza.

Elas deram o primeiro passo, mas antes que pudesse se virar e ir em direção a casa, o ar se tornou denso e uma névoa esverdeado desseu dos céus, aquele ar vivente percorreu todos eles e quando chegou aos mortos, subiu e desseu mais uma vez rapidamente como um verdadeiro choque elétrico sobre um coração parado, não demorou muito pra que todos os  mortos se levantassem, enchendo os pulmões daquele ar que os percorria, todos estavam mais uma vez de pé, mais espetos, mais fortes e mais famintos pela carne.

Quando enfim as garotas se deram conta do perigo elas ficaram paralisadas, na suas faces tinha uma mistura de medo e horror, até tentaram se mexer mas sempre que o faziam chamavam a atenção dos mortos que as observavam inertes, eles pareciam brincar com sua presa como se soubessem que aquele era um jogo que eles já tinham ganhado, Sam que ainda estava de joelhos no chão entre as garotas e os mortos ainda balbuciava pra sigo mesmo a sua falha em destruir o que sentia:

Ele estava chorando, um choro que parecia mais um riso... - ... sentimentos, também devíamos ter livre arbítrio sobre eles ... – sua voz era audível para os dois lados- ... essas dor, talvez essa seja a melhor maneira de pará-la, de da um fim a ela...  – ele se calou e em um movimento lento olhou para as garotas, uma de cada vez, quando terminou continuou a falar- … vocês, eu errei, eu errei quanto a mim mesmo e quanto a vocês, errei quando achei que estava certo, errei quando fiquei muitas vezes calados e errei por ter esperado tanto tempo ... – ele sorriu, dessa vez foi um sorriso sincero e acolhedor - ... se tem pelo menos um sentimento do qual eu não me arrependo e não quero mudar é aquele que sentir por vocês, desculpe por dizer só agora, mas durante todo esse tempo, isso foi apenas pra que pudéssemos viver uma vida de verdade, sabe...– e ele se virou pros mortos - ...somos todos sem vida nesse mundo, então corram em direção a suas, vocês terão uma única chance, não a desperdicem – ele se levantou e começou a caminhar em direção aos mortos, Sofy que estava ainda vidrada em suas palavras, desviou o olhar tentando entender o sentido daquilo que ele dissera,  começou a derramar algumas lágrimas, lagrimas que imediatamente foram limpas pelas costas de suas mãos e talvez tendo entendido tudo que precisava ela direcionou seu olhar mais uma vez para Sam e disse antes que pudesse se da conta.

- ... Sam ... Sam... Sam– nesse instante a palavra mais importante foi tirada de si, assim como aquele a quem ela era direcionada, Sam tinha entrada no cercado, a única coisa que ainda era possível ver, era a satisfação no rosto daqueles que o devoravam descontroladamente rancando- lhe os membros, os órgãos e no fim toda dor que ele sentirá era levada pela chuva que ainda caia fortemente.

Os olhos de Sofy se encheram mais uma vez de lágrimas e enquanto se concentrava no que acontecia sentiu sobre si o peso da força daqueles que a puxavam.

- Sofy, vamos – Liza falava ...- eles estão distraídos, é nossa unica chance.

- Sofy – Mia tentou falar, mas desabou em uma tosse seca.

-Vamos.

Voltando a atenção pra parte mais importante ela suprimiu o resto de suas lágrimas, engoliu os gritos e mantendo-se calada agarrou em um dos braços de Vicky que ainda se mantinha no chão e a puxou começando a correr pra longe junto com Liza e Mia, elas passaram o lago, e assim que chegaram a floresta, seus passos foram interrompidos pelo alto urro que veio do alto do monte, em contrapartida viu-se os mortos descendo descontrolavelmente, um por um, eles desciam como se o amontoamente deles nas beradas das cercas lhes fizesse uma passagem. Assim que voltaram a correr entrando na floresta, o dia começou a se esvair e o sol que estava muito inibido se pôs lentamente dando espaço a enorme e reluzente lua cheia de inverno, não demorou muito para que tudo fosse engolido pela escuridão, o que as fez parar em meio a aquele amontoado de árvores, a cada minuto que passava podia-se sentir o perigo mais perto, pois os mortos se aproximavam como se pudessem enxergar no escuro.

- Mia,ainda falta muito pra chegarmos? – Vicky a perguntou com voz consada.

- Não, temos apenas que seguir reto – Mia a respondeu no meio de longos suspiros.

- Não vamos conseguir se continuarmos assim, eu vou ganhar mais tempo pra vocês – Vicky falou enquanto se afastava do grupo, mas logo foi parada pela voz grave de Sofy

- Espera, por que estamos te levando de volta Mia? Sabemos o que acontece logo depois que se é mordido, então por que estamos te carregando, você não tem nenhum chance de sobreviver, vai morrer assim que chergarmos lá, senão até antes- ela falava com uma calma estranhamente estranha.

- Sofy, não diga essa coisas, não sabemos de nada quanto a essas criaturas.

- Não Vicky, ela tem razão, não tem sentido você morrer, só estamos atrasando minha morte e eu nem consigo mais andar mesmo – ela sorriu – isso é um tanto irônico.

Enquanto elas conversavam, Liza se mantinha inexpressiva, ainda com o braço de Mia em um dos ombros e a mantendo de pé, com aquele mesmo olha vazio.

- Vamos Vicky, ela vai ficar aqui- Sofy falou puxando mais uma vez Vicky pelo braço.

-Mas ... está tudo bem mesmo?

- Não existe mais espaço pra essas perguntas...  vocês só precisam seguir reto ... -Mia dizia alternando as palavras entre a tosse que a pouco a derrubava.

- Eu sinto muito Mia - Vicky falou enquanto era puxada por Sofy

Enquanto isso Liza ainda estava calada, apenas oberservava tudo que acontecia. Elas se olharam, o olhar triste percorrendo todas ao mesmo tempo, junto da tentativa meio falha de expressar um sorriso alegre e do grito seguido de algumas poucas palavras interrompidas.

-Eu me sinto - a tosse a interrompeu, sangue começou a sair dos seus ouvidos e olhos e ela ainda tentando falar, gritou com aquela voz grossa e voraz - Vão embora!! Corram!!

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Comments

Naira Amorim

Naira Amorim

não acredito mnooooooo eu jurava que ele era o principal.

2022-10-23

1

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