Capítulo 7

A escola que eles frequentavam era desprovida de muitos recursos, a energia vinha de uma antiga usina ainda dentro da cidade e a água de um rio que passava perto da mesma, por isso logo esses recursos foram perdidos, e a explosão que os atordoou tinha vindo da sala de eletricidade da escola, o que só foi descoberto mais tarde. 

Depois dos barulhos cessarem, desde as cinco horas a escola se encontrava em um escuro incomum que vinha ficando cada vez mais avassalador e tomando conta de todo o ambiente, logo a única coisa que veriam seria a luz da lua. 

E como era previsto, não demorou muito para anoitecer, era mais ou menos 19 horas e a lua iluminava boa parte da sala através de uma pequena janela na parte contrária à porta, os alunos não tinham nenhuma escolha a não ser dormir, alguns estavam abalados, alguns normais, outros ainda pensativos. 

Todos já tinham começado a se ajeitar pelo chão áspero da sala, uns usavam suas mochilas como travesseiros e outros apenas se escoravam na parede. A professora que ainda estava preocupada que alguém pudesse ter sobrevivido propôs uma ideia: 

- Eu vou ficar acordada e vigia a porta - ela disse enquanto evitava olhar para os alunos - aquelas coisas podem tentar entrar aqui a noite… - usou a desculpa de disfarce e se escorou do lado da porta abraçando os joelhos. 

Suas palavras não receberam muita atenção, Sofy não estavam mais se importando com o que pudesse acontecer. O término dos gritos, como o término de uma música triste, tinha deixado todos pra baixo. Todos dormiram afastados, guardando um lugar para os seus pensamentos e o que viria a seguir. 

Liza, porém antes de se isolar como os outros foi até a professora e sentando ao lado dela começou a falar: 

- Profes... Alice, você vai ficar bem certo? 

- Eu que deveria estar me preocupando com vocês, até agora acho que só agi como uma criança, indefesa, assustada e chorona– ela apertou as pernas buscando segurança- mas tem essa sensação estranha que tenho sentido...  isso ... sabe eu não quero sentir isso, você entende? 

- Acho que não  – ela sorriu descontraida. 

- Tudo bem, nem eu a entendo– ela retribuiu o sorriu - eu vou ficar bem, pode ir dormir, espera, você se manteve calada e todo esse tempo esteve ao meu lado. Por que?

- ...  Liza pensou um pouco consigo mesma – Como todos os outros eu estava com medo, assustada, tentando fugir de tudo isso, e eu me sentia segura ao seu lado, desculpe se eu fui rude com você no início, era só o medo se manifestando, mas depois de pensar um pouco eu descobri. Do que adianta, o medo sempre vai existir não importa pra onde eu vá ou pra onde eu corra, ele sempre vai estar lá, não temos escolha, o medo é involuntário e injusto, a única coisa que posso fazer é determinar como ele vai me afetar, e não vou deixar que ele faça de mim uma medrosa e covarde, não deixe que ele te afete também Alice - Liza terminou dizendo talvez tudo que ela precisasse ouvir. 

-Obrigado Liza. 

-Pelo o que? 

-Por ficar ao meu lado. 

Liza soltou um sorriso de satisfação e voltou ao lugar onde tinha decidido dormir. 

Depois de algumas horas todos os alunos já dormiam. A sala estava escura e nenhuma luz ou barulho passava por ela, apenas o leve som dos gemidos e passos ainda era audível mas tudo estava muito calmo, a professora ainda estava acordada e ficou por um longo tempo  observando os alunos dormirem enquanto diversas coisas passavam por sua cabeça. 

“Eu sou fraca…fraca... fraca, não posso se quer protegê- los, dentre eles pareço a mais assustada, a mais afetada, a mais inútil. Eles me apoiam, me ajudam, eu não posso continuar assim, não posso continuar com essa expressão merecedora de pena, eu tenho que ser forte, eu preciso ser forte !! – as palavras saíram rangendo entre seus dentes e ela começou a deixar algumas lágrimas escorrerem - mas pra ser forte eu tenho que deixar isso sair, essa coisa, essa outra voz, a mesma daquele momento, esse monstro dentro de mim. 

-Eu não posso... 

-mas é preciso! 

-Não vale a pena... 

-Mas é necessário! 

A voz alternava com sua, a melancolia e o sarcasmo embutidas nas palavras também alternavam e por um segundo enquanto repetia contrariando a si mesma, as palavras de Liza surgiram em sua cabeça "não deixe o medo te afetar "

-Isso é mesmo injusto – ela limpou as lágrimas enquanto soltava um sorriso - o mundo é injusto, vocês foram injustos comigo, mas tá bom, eu vou ser forte, não vamos chorar mais ok. 

-Ok, não vamos chorar mais, Alice. - A segunda voz se fez mais uma vez presente, junto com uma aura verde em tom como se se deliciasse de prazer e no mesmo instante cessou. 

Depois de passar alguns minutos pensando e repensando na mesma coisa a professora caiu no sono. Eram 22 da noite e todos estavam dormindo, a lua era sufocada  por entre as nuvens densas deixando todo ambiente escuro, por um segundo nenhum problema parecia existir, parecia apenas mais uma noite qualquer envolta pela serenidade do momento. 

Aquela noite foi longa, e o sono reconfortante enquanto uma mudança acontecia no interior de cada um deles. 

Sam estava deixando o medo de lado enquanto se enovelava nos mistérios que envolvem o mundo e no desejo de descobri-los e desbravar cada um. 

Sofy estava deixando de lado a agonia que a estava atormentando e abraçando um futuro incerto, onde as escolhas dependessem só dela. 

Vicky estava recobrando sua sensibilidade, enquanto imaginava o que poderia ter acontecido com seu pai e sua família. 

Ned, ou melhor, Nedus estava torcendo de si todas as incertezas e o que pudesse atormentá-lo, enquanto pensava em viver para descobrir cada terror que o mundo escondia. 

Liza estava rejeitando sua timidez, seus medos, suas inseguranças, enquanto se enlaçava a uma vida de terrores e o que quer que pudesse acontecer a partir daquela noite. E pensando em sua irmã.

Todos eles estavam mudando.

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