Capítulo 3

A sensação que percorreu cada um deles naquele instante foi tão forte que após o estalo da porta um grito unison tomou todos, mas quando ela enfim foi aberta, todos recuaram e em um único minuto a imagem da professora adentrou trazendo consigo mais uma vez o ar assombroso que tinha sido deixado para trás, suas vestes estavam manchadas e meladas de um vermelho viscoso, seu cabelo ruivo que estava amarrado deixou evidente as várias marcas em suas costas, enquanto uma expressão voraz tomava conta de seu rosto na tentativa desesperada de fechar a porta. Ela continuou nessa cena por minutos enquanto os alunos paralisados observam ela lutando em força contra o que queria entrar, empurrando, forçando e pressionado com seus braços magros.

Ela rugiu e notando os alunos parados a observando, gritou - Me ajudemr!!! 

O pedido os atingiu de imediato e se entre olhando, continuaram parados enquanto a observavam, todos assustados, ninguém foi capaz de dá um passo à frente nem expressar uma só palavra, a professora os olhava, eles a olhavam e aquela troca de olhares composta por pequenos gritos continuou por uma eternidade, mas isso era só o que acontecia no exterior, por que no interior a professora era assombrada por um voz que dizia: 

-Que maravilhoso- etonando um tom alegre, e em suspiros longos - nunca achei que fosse capaz de presenciar uma cena como essa. 

A voz enchia a cabeça da professora se repetindo e se repetindo, mudando o tom e o contexto, às vezes feliz, melancólica, aguda e até com raiva, uma completa mistura de sentimentos. Enquanto no exterior, a professora ainda suprindo a porta o incômodo da voz começava a ficar evidente.

-Cala boca … cala boca … cala boca… cala boca - ela sussurrava cerrando os dentes e mexendo a cabeça como se tentasse conter algo, como se sentisse algo a mais. 

E enquanto tudo acontecia, a porta continuava a ser pressionada agora deixando adentra braços que se retorciam e que brigavam para seus donos entrarem...braços desfigurados. 

Diante de toda a cena alguns alunos tremiam, alguns nem se importavam, e outros só se afastavam mais e mais, porém em meio a situação o que não mudou nem um minuto foi o fato deles continuaram parados, paralisados e com medo. 

E mais uma vez após notar a expressão de todos a professora lhes dirigiu a palavra, só que dessa vez não era ela falando, era a voz na sua cabeça:

-Sabem de uma coisa, se eles entrarem, todos nós v.a.m.oss m.o.rrer…- a voz saiu leve mas carregada de um sarcasmo e um sorriso reprimido.

E foi naquele instante, naquele milésimo de segundo que alguns puderam notar em seu rosto uma expressão que no mesmo momento desapareceu. Ela não estava triste nem assustada, muito menos desesperada e com medo. Ela estava sorrindo, um sorriso assombro tomou conta de seu rosto enquanto as palavras saiam cantadas, e uma única pergunta invadia agora a cabeça daqueles que a ouviram:

-Vocês por acaso querem morrer?! 

Diante da mensagem que mais uma vez os atingiu, alguns pensaram ser o fim, outros pensaram que estava na hora de desistir, outros nem se deram o trabalho de pensar e saíram correndo para ajudar a conter a porta, e mais rápido do que o esperado a porta foi fechada e voltou mais uma vez a tensão na sala. A professora se deixando cair de fadiga escorou-se a porta, sua respiração agora estava pesada e seu coração batia acelerado deixando ela mal dizer uma única palavra, mas tentou do mesmo jeito. 

Um grito inesperado. 

- Se afastem!  - ela gritou enquanto checava seus braços e pernas- não cheguem perto de mim …- e continuou a checar… 

Os alunos estavam mais do que afastados e agora um olhar preocupado tomava conta de cada um. 

Ela suspirou pesadamente e voltou a falar, mas dessa vez mais terna: - Vamos, não me olhem assim. Vai ficar tudo bem agora. 

Os Alunos se continham para não falar, mas a expressão serena e maternal da professora fez todos desabarem. Alguns correram para abraçá-la demonstrando respeito que não tinham antes, outros a encheram de perguntas e houve aqueles que choraram de alívio junto com aqueles que continuaram encolhidos e assustados. Sam estava entre eles. 

Ned que estava entre os que a enchiam de perguntas foi o primeiro a perguntar o que todos queriam saber: 

-Professora ... o que está acontecendo e o que são aquelas coisas? 

Sofy o acompanhou nas perguntas. 

-Todos esses gritos, essa onda de desespero que inundou a escola, o que foi tudo isso, ou melhor, o que é tudo isso? 

As perguntas levaram a outras perguntas: 

- E todo esse sangue... o seu estado, o que aconteceu lá embaixo?- e dúvidas e mais dúvidas começaram a surgir entre os alunos. 

Porém a professora só lhes deu uma resposta: 

-Fiquem calmos tá legal, vai ficar tudo bem - suas palavras diziam uma coisa mas seu olhar começava a demonstrar outra- todos nós vamos ficar bem, mas antes precisamos nos preocupar em proteger a porta e não fazermos barulho, eles … 

-Mas eles quem??!- uma das outras garotas gritou deixando a emoção tomar conta de si -  quem está causando isso ... o que está acontecendo, o que é eles? E por que estar tão assustada agora? 

- E estou be…- a professora tentou dizer mas foi mais uma vez interrompida. 

-Não, você não está!! -Sofy gritou - não minta para si mesma, ninguém está bem professora - sua voz saiu rouca mas ao mesmo tempo firme. 

- Nos diga o que está havendo - mais um aluno se pronunciou. 

Enquanto a discussão acontecia, um barulho à  porta tinha começado e se tornava cada vez maior, alguma criatura parecia arranhá-la incessantemente, grunhidos e gemidos vinham da mesma, mas isso era ignorado e a discussão continuava. 

- Vocês precisam ficar quietos- a professora ordenou depois de ter notado o barulho. 

- Alice... do que estamos nos escondendo? E o que está tentando entrar agora? Liza saiu do meio dos alunos e com a voz firme e séria ao lançar tal pergunta direcionou a atenção de todos para o barulho à porta. 

A professora que ainda se recusava a dar mais explicações, respondeu em um tom pejoso. 

-Por favor… responderei todas as perguntas depois, mas me ajudem a assegurar a porta primeiro. 

Os alunos ainda curiosos e aflitos, trocaram olhares entre si, eles não estavam conformados com o que a professora afirmava, mas todos se levantaram e a ajudaram a amontoar as cadeiras frente a porta, os barulhos a cada segundo se tornavam mais intensos, o que os fez trabalhar depressa. Depois de cinco minutos todas as cadeiras e mesas da sala estavam empilhadas e um espaço amplo tinha tomado o meio da sala. As janelas também tinham sido trancadas e todos os ventiladores até então continuavam desligados ou nem funcionavam. 

Todos os alunos tinham se ajudado no mínimo que puderam, contudo assim que terminaram, deixaram as perguntas de lado para se ajudarem entre si. 

Sam mal se pronunciava, ainda parecia estar sendo atormentado por aqueles barulhos constantes e continuava a se manter no canto da sala. Sofy e Ned tentavam acalmar alguns alunos, os dois tinham começado a falar com uma garota que até o atual momento continuava a chorar, enquanto Liza estava agora ao lado da professora ainda procurando uma resposta, porém todas as suas perguntas passavam por ela sem nem percebê-la. 

As horas começaram a passar:

A uma da tarde o barulho fora da sala ainda era dominante e a cada minuto ficava pior, no início só era possível ouvir os gritos de agonia e os pedidos de ajuda, depois veio as batidas à porta os rugidos e grunhidos, o que durava horas. Mais tarde, um ar tenebroso pairou sobre os corredores, ainda era possível notar uma correria que não durava nem dois segundos, depois ouvia-se o estilhaçar de ossos e carne enquanto a vítima gritava e chegava a rugir de dor, o que fazia cada aluno da sala pensar bem antes de fazer qualquer barulho ou movimento. A professora ainda estava tentando evitar dizer qualquer coisa, deixando o tempo passar. 

As quatro da tarde, o barulho constante tinha cessado e um vento gélido pairava fortemente entre a sala e os corredores, ainda dava para ouvir gemidos e arranhões à porta, passos lentos e despreocupados pelos corredores, tudo junto como um conjunto de sons, uma verdadeira festa harmônica.

Já entre as cinco e seis da tarde, quando o sol começava a deixá-los, notou-se a calmaria entre os alunos, seus rosto não expressavam nem medo nem tristeza, apenas um sentimento vago de satisfação. O assunto sobre o que acontecerá já tinha a muito tempo sido deixado para trás, mas foi trazido mais uma vez à tona, quando um dos alunos resolveu se levantar e olhar por uma das janelas que ficava próxima a porta, seus passos trêmulos chamaram a atenção de todos que pararam para observá-lo chegar à janelas. Seus olhos percorreram todo o corredor sul e norte, e com uma visão não muito nítida, ele notou a estranha e oportuna calmaria que reinava nos corredores. Não tinha nenhum sinal de vida nem da possível causadora de tal terror, mas do mesmo jeito ele ainda evitava fazer qualquer barulho. Enquanto ainda olhava desatento, algo chamou sua atenção, alguém se arrastava no que parecia ser algo pegajoso nos corredores estando presente por toda parte, sua visão só lhe mostrava uma imagem embaçada das mãos e do rosto do indivíduo que estava se aproximando aos poucos sem dizer uma única palavra, quanto mais e mais perto ele chegava mais era possível ver o resto de seu corpo e isso intrigou o aluno que ainda observava. Quando enfim “aquilo”  chegou no meio do corredor e o resto de seu corpo foi revelado, no mesmo tempo um grito de espanto vindo do aluno tomou conta da sala. O aluno se afastou aos poucos e se encolheu no canto dizendo algumas palavras mal audíveis, outro aluno, um dos que observam, se levantou e foi satisfazer sua curiosidade, ele pôs seu rosto contra a janela e forçou os olhos tentando entender o que o outro tinha visto, porém quando enfim conseguiu uma visão clara, seu rosto foi tomado por uma expressão de impotência e ânsia, todos os alunos da sala notaram suas mãos tremerem e ele perder todas as suas palavras. Ele se afastou, assustado, com seu coração quase saindo pela boca, seu consciente provavelmente estava tomado por aquela imagem quando ele tropeçou e caiu diante de todos ...tremendo...

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Comments

Unmei

Unmei

o negócio tá tenso em

2022-10-07

2

Ver todos

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