Capítulo 12

Alguns minutos antes quando Ned seguiu até Vicky

Vicky estava ainda focada na fazenda que exibia não muito distante suas belas árvores. A luz do sol ainda forte fazia da estrada uma maré de lava, com um brilho que reluzia batendo em seus olhos inibindo boa parte da sua visão, foi nesse momento de mínima importância que seus olhos foram levados à figura de um homem que caminhava pela estrada. Com um semblante caído e mancando o mesmo se aproximava aos poucos em extrema calmaria.

- Ned!- ela o chamou, vendo que se aproximava- tem um sobrevivente.

- Espera, não podemos confiar em qualquer um- ele afirmou aonde um tanto distante.

- Mas ele está machucado... temos que ajudá-lo - ela falava, ciente de que podia estar errada, mas querendo acreditar que um pouco de humanidade ainda havia restado.

- Não faça nenhuma besteira- ele falou depois de chegar até ela – todas as criaturas estão machucadas – enquanto Ned dizia, Vicky se afastava calmamente do mesmo – e ainda, não sabemos nada sobre eles direito, temos que tomar cuidado – Suas palavras foram interrompidas quando uma sombra atormentadora apareceu atrás de Vicky, instintivamente ele a empurrou e olhando para os olhos daquela criatura sem vida ele disse suas última palavras.

- ... Vic ... C-corre!!!

Quando terminou ao mesmo tempo tal criatura que parecia ter derretido ao sol o agarrou dando uma única e voraz mordida no seu rosto, Vicky que não tinha corrido viu com os olhos em lágrimas a criatura arrancar a bochecha e uma parte da boca de Ned deixando vários dentes a mostra, e foi nesse momento que se ouviu o grito, vindo de Vicky

Liza também a ouviu de onde estava e logo ficou alerta, Sam que ainda olhava para o que acontecia: a criatura devorando com intensa vontade o rosto de Ned que agonizava e tremia já no chão de dor, Vicky tinha caído de joelhos diante de tal cena e observava também fixamente enquanto chorava, a mesma parecia obedecer algum tipo de aviso que fora dado pelo olhar da criatura que a fitava de minuto a minuto "se você correr, eu vou ir atrás de você e vou te pegar"... Sam observava tudo aquilo e pensava consigo mesmo 

"... porque... porque... porque...porque.. estava tudo dando certo…por que"

O mesmo também estava paralisado diante de tal situação, suas pernas tremiam e na tentativa de socorro, elas não obedeciam, o mantendo mais confuso e assustado diante de tudo aquilo, Alice, que mostrava em seu rosto uma mistura de raiva e angústia se viu também paralisada, seus olhos foram de Liza, Sam, Vicky a Ned e ela pensou.

" Todos no mundo estão morrendo, todos se desfazem em lágrimas e dor, não faça isso com elas também  ... são só crianças...  só crianças... que droga … pequenas – ela olhou pra Liza confusa - assustadas - olhou pra Sam e Vicky - e merecem viver – ela olhou pra Ned – não faça elas sofrerem... você não pode ... " 

Lembra daquele sorriso sombrio, daquela voz grave e feroz que a atormentava, que se contorcia dentro de si tentando a manter viva, aquela mesma voz que apareceu quando eles ainda estavam na escola, pois então, ela estava aos poucos se manifestando e com ela viria também a personalidade cruel e maníaca da professora. Seus olhos que expressavam mistura de medo e terror, decaíram aos poucos e se fecharam até ela os abriu mais uma vez, dessa vez estava tonta, quase que anestesiada, enquanto via tudo ao seu redor se desfazer como água.

Ela estava correndo, correndo em direção a criatura, correndo para salvar aqueles que ela queria proteger e correndo… de si mesma. Ela passou por Sam, avistou Liza e quando viu sua bolsa que desde a escola ainda carregava consigo gritou e não foi sua voz habitual que saiu, foi aquela, assombrosa e fria.

- Liza... me joga a bolsa vermelha!! 

Talvez Liza não a tenha entendido, ou nem a ouvido, mas foi como se suas palavras tivessem-na atingido como uma flecha, por que no mesmo intervalo de tempo entre chegar a criatura Alice sentiu em suas mãos a alça da bolsa, que fora arremessada com tamanha precisão por Liza. Naquele segundo, naquele milésimo de segundo o tempo parou e todos viram exatamente a mesma coisa....

Sofy até tinha saído do carro ainda sem entender o que acontecia, Vicky chorava com os olhos manchados pelas lágrimas e pelo sangue que de minuto a minuto jorrava de Ned, Sam estava ainda distante paralisado sem acreditar na cena e Liza agora observava atentamente com a mão erguida depois de ter jogado a bolsa, e foi aí que todos por um segundo, um segundo de loucura e dor viram a mesma coisa.

O bater de asas de um anjo,  asas tingidas de vermelho... e aquele sorriso animado e conturbado. Alice tinha pulado, agarrado a bolsa, aberto, tirado aquele objeto reluzente e enquanto caía cravado aquela tesoura prateada no crânio da criatura fazendo com que um tipo de sangue preto e gosmento jorrasse por todos os lados.

Como qualquer outro ser vivo, a criatura soltou um suspiro leve e gélido caindo logo em seguida e Alice por um segundo voltou a si, também confusa com a situação, ela respirava cansada e quando se deu conta do que segurava, olhando para a tesoura em sua mão, agora vermelha e viscosa ela a soltou rapidamente, a jogando no chão, voltando sua atenção para Vicky.

- vic ... vic ... vic !! – a professora gritava a sacudindo pelos ombros tentando tirá-la daquele horror – vá até a Liza.

Vicky estava de joelhos, com os cabelos soltos e bagunçados, os braços jogados à toa enquanto seus olhos perdidos derramavam lágrimas e se manchavam do vermelho do sangue.

-Vic... Vic - Alice continuava a chamando, até ela voltar a si. - Vá até a Liza.

-  e N-ned ... ?- ela falou junto de suas lágrimas que caiam, não víamos mais a garota provocante e divertida, mas uma criança assustada e com medo.

- Não se preocupe com ele... agora vá até ela.

- Está bem – Vicky se levantou ainda trêmula e foi na direção de Liza.

- Ned – Alice o observava atentamente – vai ficar tudo bem ... só ... aguente mais um pouco.

- hughf – foi o barulho que saiu de sua boca junto com uma bola de sangue gosmenta

- Se acalme ... espere- um barulho estranho chamou sua atenção.. – isso só pode ser brincadeira...

Bem diante dela a criatura tremia no chão, seu corpo parecia estar sendo tomado por algo que aos poucos mas rapidamente a trazia de volta, depois de alguns segundos  pra sua surpresa a criatura se encontrava mais uma vez de pé, com os olhos agora com um brilho esverdeado musgo.  A criatura avançou pra cima de Alice e derrubando-a no chão enquanto tentava mordê-la, era possível sentir seu bafo úmido enquanto evitava as diversas dentadas inúteis que a criatura dava, Alice evitava ao máximo ser atingida,

Mas ainda expressou o que pensava quase tendo seu rosto arrancado a mordidas.

-Seu …hurg- ela falava enquanto tentava tirá-lo de cima dela - saco de merda …

-Oh, faz muito tempo que não te vejo- a criatura falou ou melhor, aquela voz fria e cortante saia por entre a boca da criatura. Alice ouviu, mas naquele momento pensou ser só coisa da sua cabeça.

Alice não deu muita atenção a aquelas palavras ao notar que bem próximo ao seu ouvido estava a  tesoura afiada e pontuda que ela rejeitara e ao notar-la, tentou pegá-la com a boca virando o rosto e mesmo só estando a alguns centímetros dela e seus olhos podendo até encostá-las, era um tentativa inútil, ela teria que usar as mãos, mas essas já estavam ocupadas sendo usadas para se  manter longe das mordidas da criatura. Nada mais podia ser feito, era o fim e a professora estava começando a aceitar isso, ela não iria aguentar aquele monte de carne morta por mais tempo, não tinha nada mais a ser feito.

" Todos já foram salvos, eles podem correr, estão longe o bastante... Ned? ... não há mais nada que possa ser feito por ele…"

Ela o olhou uma última vez e sem expressão... bem diante dela ... Ned tinha se arrastado com pequenos gemidos em sua direção e segurava com seus dedos manchados de sangue a tesoura ... naquele momento ela pensou em sorri, pensou em se odiar por estar pensando no fim, mas pensou principalmente em resolver o que estava diante de si, e dessa vez não precisou que nada dentro de si se materializasse e a desse a força necessária para agir. Ela o olhou e com a boca agarrou o cabo da tesoura e a direcionado para cima a cravou em um dos olhos da criatura fazendo a mesma perde a atenção em sua carne, momento esse que ela usou para tirá-lo de cima dela enquanto a gosma que saía do olho caia sobre seu rosto, assim que levantou a mesma se afastou e pareceu ir em direção aos outros, ela podia ter corrido, podia ter gritado por ajuda, ou simplesmente deixado a criatura ali e Ned também... mas ela seguiu naquela direção somente por um objetivo, ela tinha que dar um fim aquilo, ela precisava se quisesse os salvar, precisava das outras tesouras, por que ao olhar praquilo que se levantava todas as vezes que caia ela sentiu a necessidade de derrubar de verdade aquele monstro que já tinha morrido uma vez  …

Ela foi até a bolsa vermelha no chão e com três tesouras em formatos peculiares, ela se aproximou devagar daquilo (A criatura), as tesouras presas a seus dedos brilhavam junto da luz do sol, e ao chegar perto o suficiente ela às girou e com um único golpe na perna ela o derrubou e pondo-se sobre ele ela o atacou ou melhor o tesourou diversas e diversas vezes e dessa vez os outros não notaram mas Ned ainda com um dos seus olhos viu mais uma vez em seu rosto o sorriso que tomava conta da sua face, era algo indescritível, como se ela estivesse extasiada com o que fazia, como se aquilo lhe desse prazer enquanto deixava sua raiva sair em forma de palavras.

- Eu ...– ela tesourava o peito -… já – o rosto -… te matei – estômago- …. uma vez …- ela esfaqueava também seu pescoço diversas e diversas vezes - então … trate… de ficar morto – no final do seu ato a criatura encontrava-se sem os braços, sem o pescoço e com o órgãos totalmente exposto e  imóvel ... e na última tesourada que ela daria no coração, aquele brilho esverdeado incomum finalmente chamou sua atenção, pulsando por todo o corpo, circulando entre os órgãos e no lugar do tão importante órgão encontrava-se o que parecia uma bola de vidro, ao cravar as mãos no peito daquela criatura que  ainda estava viva depois de diversas tesouradas, Alice arrancou com desdém aquele magnífico coração, era algo macio e circular e dentro se encontrava  uma chama esverdeada que ardia com fervor, a primeira coisa que veio a sua mente foi que aquilo estava o mantendo vivo então com as próprias mãos nuas ela o apertou e de uma vez o esmagou fazendo aquele brilho verde se esvair levando junto o vigor da criatura que agora com certeza tinha morrido, foi como se o ar dos pulmões de tal monstro tivesse sido sugado pois o mesmo secou mostrando a aparência de um cadáver que já estivera morto a diversos dias.

-Sua… - antes dos minutos finais a mesma voz de antes se esvaiu junto daquela luz verde.

- Não mexa com as minhas crianças – ela falou enquanto se levantava com roupas, braços, mãos, rosto e cabelos tingidos do vermelho do sangue não só da criatura mas também de Ned... que estava perdendo muito... muito sangue. 

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