Cicatrizes do passado ( +21)

Olá queridos(queridas) leitores(leitoras)

Um capítulo beeem difícil, mas necessário, pra que não fique nenhuma ponta solta e vocês entendam algumas atitudes da Larissa e todo o cuidado que a família tem com ela, e também pra falar sobre um personagem que vai aparecer nos próximos capítulos, mas será muito importante para o desenrolar da trama...

*Aviso da Jussara: Esse capítulo tratará sobre depressão, abuso psicológico, entre outros. Se você não quiser ler, pule para o próximo capítulo, ok!? Por ser um capítulo muito forte, vou classificar como +21.

O capítulo será uma conversa bem difícil, entre a Larissa e o Felipe, na noite em que eles saíram pra beber com o Igor e a Mônica...bora lá e, preparem os lenços...

Felipe

-Amor, definitivamente, você não aguenta beber.

-Às vezes umas cervejas a mais são necessárias pra nos dar coragem, Felipe...- não sei como, mas instantaneamente, ela pareceu sóbria.

-Você não estava toda animadinha, segundos atrás, mulher?

-Senta aqui amor. - ela sentou na nossa cama e deu batidinhas ao seu lado. - Eu preciso ter essa conversa com você a muito tempo...e se não for agora, não sei quando terei coragem novamente...

-Larissa...estou ficando preocupado, princesa. Aconteceu alguma coisa, hum...- segurei suas mãos, estavam geladas e suando.

-Eu preciso te contar a minha história...a verdadeira. Não vai ser bonito de ouvir, mas se vamos passar o resto das nossas vidas juntos, não quero segredos entre a gente...talvez eu não consiga falar tudo de uma vez, por isso eu peço que tenha paciência. É difícil pra mim, relembrar tudo...são feridas muito profundas, que deixaram Cicatrizes que doem até hoje...mas eu preciso falar ou eu vou explodir...

Seus olhinhos verdes já estavam marejados. Eu sei algumas coisas, porque o Igor descobriu e me contou, mas agora vou ouvir diretamente dela, e sei o quanto será difícil ela falar sobre isso...eu tenho que estar preparado pra segurá-la e ser o seu suporte, se ela desabar.

-Eu não sou filha biológica da Sônia, na verdade ela é minha tia. A minha verdadeira mãe, ou melhor, a mulher que me gerou, se chama Solange, ela é irmã mais nova da Sônia. Meu pai era um homem incrível...ele era carinhoso, amoroso, sempre cuidou de mim e do meu irmão mais velho, Ricardo. Eu era feliz, pelo menos quando meu pai e meu irmão estavam por perto.

-A Solange nunca me deu carinho, e sempre fez questão de me dizer o quanto se arrependia de ter engravidado, ela sempre dizia que eu era um erro, um descuido, e a pior coisa que aconteceu na vida dela. Desde que comecei a entender as coisas, ela me desprezava, maltratava e humilhava. Às vezes até com algumas agressões físicas, mas nada que deixasse marcas, pois meu pai nunca permitiria. Na frente dele ela era distante e fria, mas nunca agressiva.

-Mas com o Ricardo era diferente...ela era amorosa, carinhosa. Sempre o abraçava e fazia carinho, coisa que eu nunca tive. Eu não sentia ciúmes, mas queria saber como era um abraço de mãe, um carinho. Queria saber como era sentir minha mãe pentear meus cabelos com cuidado, já que era meu pai quem fazia isso, pois a Solange sempre me machucava e puxava meu cabelo, dizendo que até nisso eu era inferior, pois o Ricardo tinha os cabelos lisinhos...

-Quando ela me maltratava, meu irmão vinha escondido, e me abraçava, dizendo pra eu não ter medo e não chorar, pois ele estava ali comigo. Ele tinha só 9 anos e eu 4. Éramos duas crianças, passando por algo tão destrutivo.

-No dia do meu aniversário de 5 anos, o Ricardo pediu pra irmos no parque, mas sei que ele fez isso por mim, pois se fosse eu a pedir, a Solange nunca me levaria. Eu me diverti com o meu irmão. Na volta, ela comprou um sorvete pra ele, mas quando eu pedi um, ela me negou. Quando estávamos no carro, a caminho de casa, o Ricardo estava no banco da frente e me ouviu chorando baixinho. Ele tirou o cinto e se virou pra me dar o sorvete, mas a Solange se virou pra trás e tentou me bater dizendo que eu não teria o sorvete que ela comprou para o único filho que ela amava. Ela perdeu o controle da direção e o carro bateu com força, e meu irmão foi arremessado...- ela tremia as mãos e chorava sem parar. - ele morreu no local do acidente.

-Eu tive alguns ferimentos e bati a cabeça no vidro e desmaiei. A Solange também se feriu. Acordei no hospital, meu pai estava ao meu lado e parecia desolado. Eu não lembro muito bem, mas ouvi os médicos dizerem que ele precisava ter cuidado, pois a Solange dizia sem parar que eu quem deveria ter morrido naquele acidente, então meu pai decidiu me levar pra casa da tia Sônia, pra passar uns dias, até a Solange se acalmar.

-Eu soube, dias depois, que a Solange foi embora, largou meu pai e sumiu. Ele não suportou perder o filho e a mulher que ele tanto amou e por quem ele foi capaz de enfrentar os próprios pais. A tristeza tomou conta dele e o consumiu, dia após dia, até ele precisar ser hospitalizado, já muito fraco e abatido. Ele pediu que me levassem ao hospital para vê-lo. Nesse dia ele me abraçou e chorou, me pedindo perdão por não ter enxergado o quanto a Solange me fez mal. Me disse que o dia do meu nascimento foi o mais feliz da vida dele e que eu era o maior e mais lindo presente que ele recebeu na vida. Ele me olhou com carinho e disse que tinha muito orgulho de mim e que um dia, ele tinha certeza de que eu seria uma mulher forte, determinada e incrível. Que eu ficaria com a tia Sônia e que deveria continuar sendo uma boa menina. Foi a nossa despedida, pois na mesma noite, ele teve um infarto e não resistiu.

Vi a Larissa tremer e chorar sem parar...era muita dor, vindo de uma única vez...era demais.

-Amor, por favor...para! Eu não aguento te ver assim, Lari...

-Eu preciso continuar, Felipe. Só...me abraça ...

Abracei ela, que chorou no meu peito.

- Eu precisei fazer acompanhamento com uma psicóloga, por muitos anos. A tia Sônia e o esposo dela me receberam de braços abertos e cuidaram de mim. A Cris e o Vitor me trataram como uma Irmã de verdade. Eu me senti amada, assim como me sentia quando estávamos só eu, meu pai e o Ricardo. Os anos passaram e a Solange nunca mais apareceu...até o dia em que eu e o David terminamos...

-Mas, o que a Solange tem a ver com isso? - perguntei, pois até onde eu sei, o tal David a traiu com a melhor amiga dela.

-No dia em que eu fui até a casa dele, eu peguei ele na cama com outra, e eu disse pra todo mundo que era a minha melhor amiga...- ela se encolheu mais. - Mas quem estava na cama com o meu namorado, era a Solange...

Aquilo me revoltou o estômago. Como essa mulher foi capaz?

- Eu saí correndo ao ver os dois aos beijos, pelados. Mas ela se enrolou no lençol e veio atrás de mim, me impedindo de sair. Naquele dia ela contou que contratou o David, um ano atrás, pra me conquistar e me convencer a passar os bens que meu pai me deixou como herança, para o nome dela. O plano era ela se esconder e filmar nossa primeira vez, depois usar as imagens pra me chantagear. Como eu me neguei a transar , ele ficou nervoso e acabou me dando um tapa e eu terminei o namoro.

A Solange me disse coisas horríveis...mas eu descobri que meu irmão, na verdade, era filho de um ex namorado, que ela amava muito, mas que era pobre. Por isso ela enganou meu pai, dizendo que foi abandonada grávida, e ele assumiu a criança. Foi nesse dia que ela me disse que nunca me amou, que eu fui fruto de um descuido, concebida numa troca de anticoncepcional, e que jamais, ela engravidaria de um homem fraco, meloso e sem sal, como o meu pai. Minha raiva foi tanta, que eu dei um tapa nela e a joguei no chão, antes de sair e a ouvir gritar que eu não fui mulher suficiente nem pra segurar um homem, que ele precisou procurar nela o que eu não fui capaz de dar.

-É muito vergonhoso admitir que a mulher que me gerou foi capaz de uma atitude tão baixa e cruel...por isso eu inventei essa história do David ter me traído com a minha amiga, de uma certa forma, era menos vergonhoso...quando voltei pra faculdade, dias depois, o David tinha espalhado panfletos por todo o campus, com minha foto e número de telefone, me oferecendo como garota de programa...eu passei dias recebendo ligações de caras querendo saber o valor de uma "rapidinha" e coisas que nem tenho coragem de falar.

Abracei ela mais forte...não consigo imaginar a dor da minha esposa, o sofrimento...

-Eu estava no limite, quando um cara passou a mão em mim, na saída do banheiro da faculdade. Eu me virei pra reclamar e ele jogou uma nota de 50 na minha cara e disse que me daria muito mais se eu fizesse ele feliz, por alguns minutinhos, ali mesmo no banheiro...eu nunca me insinueu pra ninguém, eu era virgem, nunca me comportei como ou p**a, Felipe...

-Eu sei meu amor, eu sei...chega desse assunto...para, amor. Vamos deixar isso...

-Não...eu preciso pôr pra fora...isso tá me matando...

O corpo da Larissa sacudia, aos trancos, tamanho o desespero daquele choro...ela estava em pedaços. Mas eu sentia que ela precisava falar...ela respirou e continuou.

-Eu cheguei no meu limite, naquele dia. As conversas com a psicóloga não ajudavam mais. Eu só queria acabar com todo meu sofrimento...Foi então que procurei um cara da faculdade, que vendia umas tais "balinhas". Algumas meninas usaram e disseram que era uma sensação boa, de estar voando e totalmente em paz, e era exatamente isso que eu buscava, paz.

Comprei 2 comprimidos com ele. Fui pra casa e me tranquei no meu banheiro com 2 garrafas de cerveja e as tais "balinhas". Tomei tudo, e minutos depois, meu corpo parecia anestesiado, eu sentia e via, tudo flutuar...até começarem as alucinações...foi horrível. Eu queria paz, pelo menos antes de chegar ao fim daquela agonia que estava sendo a minha vida. Não me lembro de muita coisa, só de sentir minha cabeça parecer que iria explodir e tudo foi se apagando.

-Acordei num hospital, com o Vitor ao meu lado. Ele estava abatido e com os olhos inchados. Quando me viu abrir os olhos, eu vi medo e decepção nos olhos dele. Ele me abraçou tão forte que quase me sufocou, era um abraço desesperado. Choramos muito... eu estava envergonhada por ter tentado suicídio e por ainda estar viva, e dando trabalho a ele. Naquele quarto, ei vi o quanto ele estava sofrendo por me ver daquele jeito. Ele pegou um espelho e me fez olhar...eu estava pálida, magra, abatida. Era qualquer pessoa, menos a Larissa. Ele me disse que teve que arrombar a porta do banheiro, e se desesperou ao me encontrar caída, praticamente morta. Quando ele chegou ao hospital, me viu morrer nos braços dele, depois de uma parada cardíaca. Os médicos desistiram, mas ele continuou tentando me reanimar, até eu voltar à vida, mesmo com os batimentos muito fracos. Foi horrível ver o quanto minha família estava abalada por minha causa...Eles me abraçaram e me fizeram prometer que nunca mais eu faria algo assim, porque nenhum deles suportaria a dor de me perder, pois eu era o verdadeiro milagre na vida deles, e sem mim, eles não aguentariam seguir em frente. E eu achando que era um peso, alguém que só trazia problemas...mas eles me amavam.

- Um mês depois eu mudei de campus, na faculdade. Continuei a fazer acompanhamento psicológico, comecei a correr todos os dias. Meus irmãos sempre estavam comigo, me apoiando, e minha verdadeira mãe, a Sônia, cuidava de mim com todo amor e carinho de sempre, me mostrando que eu era muito amada e desejada naquela família...e assim eu fui juntando meus pedaços, vivendo um dia de cada vez, me refazendo...Não tive mais nenhum relacionamento, até conhecer o Diogo...e o resto da história você já conhece...

Eu não vou negar que, ouvir tudo isso, da mulher que eu amo, foi muito difícil. Ela estava quebrada, as feridas totalmente expostas e sangrando. Eu precisava ser forte, por ela.

Peguei ela no colo e a levei até a banheira, liguei o aquecedor da água, pois o banho seria longo...ela precisava relaxar.

Entrei na banheira e a coloquei no meu colo, com o corpo grudado no meu e o rosto deitado em meu peito.

O choro que eu ouvi e os gritos de dor, tristeza e desespero, foram horríveis, mas eu sei que era necessário ela botar tudo isso pra fora.

-Pode chorar, meu amor...eu estou aqui, com você e pra você, sempre!

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Então meninas...é isso. Eu chorei muito escrevendo esse capítulo, mas foi necessário.

Agora é seguir em frente...

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Comments

Johnson Vera Luiza

Johnson Vera Luiza

emoção desespero, quando aconte isso pois a mente enfraquece e o desespero te leva a qualquer momento

2024-05-04

4

Maria Rosa Soares Vitorio

Maria Rosa Soares Vitorio

eu pulei algumas partes, não aguentei.

2024-05-19

0

Eli Alves

Eli Alves

Coitado, saber que vai morrer e deixar a filha sozinha no mundo 😭

2024-05-16

0

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