Capítulo 09 - Yuki Matsumoto

Eu sabia que esconder tudo da minha filha seria uma idéia ruim, então quando ela fez Dez anos meu marido e eu combinamos de contar tudo a ela quando faltasse apenas uma semana para seu aniversário de Dezoito anos. Mas tudo aconteceu diferente quando ele foi embora a dois anos, eu havia decidido contar tudo que Mia precisava saber o quanto antes, mas a cada dia...quando ela me fazia aquele olhar inocente eu pensava: "Amanhã eu conto" e desde então eu sempre penso esta mesma fraze, todos os dias e em todos os momentos que tomo coragem para contar tudo.

Por isso dei à ela o diário de sua avó na semana passada, porque eu sabia que Mia o leria em seu próprio tempo e isso à ajudaria a entender tudo que ela tinha dúvida, principalmente o sonho com aquele Lobo que ela tem desde que começou a guardar lembranças, quando era criança; É certo que eu não esperava que os pensamentos dela o trariam até aqui em casa em tão pouco tempo.

Quando a Universidade Wolf me ligou a meia hora atrás e eu soube que ela não estava na aula, fiquei com medo que algo ou alguém tivesse feito mal a ela. Arrumei tudo o mais depressa possível na creche e voltei correndo para casa e agora, ela está de costas para mim.

Mia:

-Eytril mamãe, você o conhece?

Que desrespeito dessa menina...

-Olhe para mim enquanto falo com você Mia!

Ela se virou e eu me assustei com o que vi. Parte de sua face estava coberta com belos castanhos claros, seus olhos estavam vermelhos e seu maxilar revelava toda a arcada dentária de um lobo. Ela precisa de mim, precisa da minha ajuda! Eu me aproximei, olhei bem ao fundo do vermelho de seus olhos e disse:

-Mia, você precisa aprender a respeitar sua Loba.

Eu acariciei o topo de sua cabeça, sempre faço isso na Mia quando ela não está bem e sempre funciona. No mesmo instante, ela ficou calma e a carinha inocente da minha filha voltou os olhos banhados em lágrimas me revelando tristeza e magoa:

-Filha, eu estou para te contar isso a dois anos.

Ela apenas enxugou uma lágrima que caiu e esperou que eu continuasse. A levei para sofá, ela se aninhou em meus braços e eu disse:

-Antes do falecimento do seu pai nós tínhamos combinado de te contar contar tudo quando faltassem poucos dias para seu amadurecimento, que você já deve saber, será quando sua loba e você se uniram pela primeira vez.

Mia:

-Contar? Mãe parte da casa ficou destruída por uma semana inteira e você agiu como se fosse cega!

Ela gritou saindo de meus braços, os olhos da loba dela já estavam a mostra novamente:

-Baixe o tom comigo que ainda sou sua mãe. Eu criei você e tento fazer meu melhor para que você possa seguir com sua vida, então me respeite que não sou qualquer uma!

Mia:

-Respeitar? Você escondeu um fato extremamente anormal de mim e quer, que euzinha aqui, abaixe a cabeça como Bayster que eu faça!! Hein Yuki?

A loba de Mia tomou o controle, não vai ser agora que vou ter medo, este não é o primeiro lobo que encontro e enfrento.

-Esta conversa é entre Mia e eu, saia!

Ela rounou e minha filha voltou. Andava de um lado para o outro com os braços cruzados, continuei a observando e disse:

-Porquê acha que nos mudamos para cá filha? Porquê acha que te dei aquele livro?

Ela parou, pensou, esperou que eu continuasse e então eu disse:

-Eu não sabia como te contar, seu pai estava me ajudando com isso com pequenas coisas.

Então Mia pareceu se atentar, ela se sentou na poltrona perto do sofá e disse:

-Como? Eu não me lembro nada mãe...

Ela abaixou o olhar, e ainda estando triste ela colocou uma das mãos na cova do seu pescoço e ajeitou o cabelo em seguida. Eu acabei me sentando no sofá dando risada e disse:

-Eu já vi esta marca filha, não precisa esconder.

Mas ela ainda não estava aberta para mim e disse:

-Por quê não continua o que estava dizendo?

Prendi os cabelos, retirei os saltos pretos que já estavam esmagando meus pés, e relaxando no sofá eu continuei:

-Lembra quando ganhou a tapeçaria da vovó quando fez quinze anos? Seu pai, antes da vovó Amélia morrer, foi até o hospital para se despedir e lá ele ganhou aquele diário. Quando ele voltou para casa nós o embrulhamos e o guardamos para quando ficasse de maior.

Mia:

-Mas ele morreu...Entendi.

Eu suspirei e disse:

-Sim. Quando chegamos em MoonWolf e seus sonhos ficaram mais intensos, eu demorei para encontrar uma forma de te contar tudo e então decidi pegar o diário da sua avó e te dar, como fiz semana passada.

Mia:

-Eu já o li, não tem nada de mais nele só... os sentimentos da vovó, como ela amava o vovô e como seus lobos se uniam quando-

Ela interrompeu sua fala ficando corada, eu ri e disse:

-Nossa familia guarda o Livro Sagrado dos Lobos a milênios. Quando a feiticeira da alcatéia Alpina profetizou que eu daria a luz a Luna Suprema, seu pai e eu achamos melhor te dar uma vida ou uma infância comum em outro lugar, talvez numa cidade próxima...que foi o que fizemos. Não queriamos que vocês dois se unissem tão cedo, eu queria que você vivesse coisas mais normais filha..

Mia:

-E você acha que desta forma está bom? Ah já sei! Vocês só queriam que eu fosse a inocente e intocável mocinha de conto de fadas não é?

Ela estava claramente perdendo o controle de novo, se levantou e foi em direção a escada, eu a interrompi dizendo:

-Mia!

Ela me olhou, e pela primeira vez não consegui decifrar sua expressão:

-Eu sinto muito, eu só queria te dar uma vida boa pelo máximo de tempo possível...

Mia:

-Me escondendo de quem realmente sou? Me afastando de Eytril? E todo esse tempo...Esse tempo todo que venho me confessando à você, mãe como você pode?

Sua vós estava trêmula, seus olhos estavam cheios de lágrima e as pílulas ficaram vermelhas. A loba de Mia estava no controle de novo, eu sentia que minha filha sabia disso mas de alguma forma, não se importava ou conseguia controlar. Seu nome ecoou em minha mente, ela colocou as garras no corrimão e me disse aos prantos antes de subir:

Myr:

-Bayster é meu companheiro Yuki, você não tinha o direito... não tinha.

A última coisa que escutei foi a porta de Mia batendo, eu realmente não fazia ideia do que fazer ou dizer. Quando a casa estava aos pedaços eu fiquei ainda mais sem palavras e sem reação, então só precisei esperar.

Olhei para o retrato de meu marido na lareira, caminhei sentindo o frio nos meus pés adentrando pela porta, peguei...olhei...beijei e disse:

-Ah querido, porque tinha que ir embora?

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