O ESTRANHO

 Acordei, cedo mesmo, com a minha barriga já roncando de fome.

Preciso de um café.

Me arrumo e saio, e graças a Deus aquele carro não está mais lá. Passo na recepção do motel e dou uma olhada nos jornais do dia, e vejo alguns classificados com vagas abertas anoto o endereço e vou de novo, pra rua.

Dentro do ônibus que me levaria ao meu destino, cobiço o café cheiroso de um dos passageiros, que só me olha e faz de conta que não me viu.  Ao descer  remexo minha bolsa, e encontro umas moedas soltas , tento comprar um lanche , mais o dinheiro só dá pra um dos itens, percebendo a minha decepção, a atendente me dá um super desconto:

Um pãozinho com queijo e um café pequeno pela metade do preço.

Sorriu pra ela e agradeço, afinal aquela seria minha única refeição do dia.

Perto do meio dia , já havia andado em todos os locais que tinha anotado, e nenhum deles me oferecia nada promissor.

Passo em frente a um restaurante , que já esta quase cheio, e o cheiro da comida quase me puxa.

Entro sem pensar e vou direto no gerente.

-Bom dia, por acaso o sr não estaria interessado em alguém pra dar uma ajuda pelo menos por hoje?

-Não obrigada, o quadro já esta completo.

-Por favor, eu posso lavar pratos , limpar o chão... e isso pelo menos por uma refeição.

Ele me olha esnobe e dá um sorriso de lado.

- Acha que é a primeira ladra que vem aqui , oferecer serviços por comida? Saia daqui ou serei obrigado a pedir que a conduzam pra fora, não vê que aqui é um local de pessoas finas? Você está poluindo o ambiente.

Abro a boca em "0".

Mais que grosso, se não estivesse tão faminta, e fraca daria um soco naquele homem.

- Obrigada , por sua atenção e gentileza em me atender.

Saio indignada  e só percebo que esbarrei em alguém, quando ele  para na minha frente e me impede de passar. Olho pra cima, ele era bem mais alto que eu, e dou um passo pra traz, era o cara gato da boate , com quem eu quase flertei outro dia. Ele me abriu um lindo sorriso de dentes perfeitos.

- Aceita almoçar comigo?

Quase não ouvi a pergunta hipnotizada com aquele sorriso.

- Não obrigada, não saio com clientes.

Me afasto rápido e saio correndo.

É muita coincidência encontra-lo ali.

Caminho apressada, e quando vejo que não fui seguida, me sento numa  mureta .

Que droga!

Acabo de perder um belo almoço, mas não posso me arriscar.

O telefone toca , é Kate.

- Amiga o Yong, quer falar com você.

-Diga pra ele ir pro inferno, se quiser, eu não quero falar com ele.

-Só vem aqui e ouve o que ele tem pra te falar. Ele tá desesperado...

-O que foi?

- O povo pede,  você de volta.

-Kate , eu não vou voltar.

-Você já conseguiu outro emprego?

-Não- digo chateada.

-Então vem aqui, almoça com a gente, estamos dando uma arrumada no lugar, estamos todas aqui, se ele tentar algo contra você, a gente pega ele.

Sorrimos ao telefone, só ela mesmo pra conseguir isso.

-Tá eu vou, mais é porque estou faminta e cansada.

Mal desligo o telefone é irmão me liga de novo.

Oh meu Deus o que aconteceu desta vez?

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