o cansaço

meses se passaram ela já havia perdido totalmente a noção de tempo, não conseguia mais reagir a nada apenas ao toque dele que lhe causava náuseas, e ela vomitava com frequência, seu corpo estava magro mas devido ao tratamento endovenoso ela não estava nem desidratada nem com anemia.

o que acontecia a ela diariamente tinha tirado sua razão de viver, a tortura diária já tinha virado rotina, ela não usava mas os remédios pra dormir no soro, como não reagia mais ele parou de dar. agora ela via quem tratava seus ferimentos mas também não tinha forças pra pedir ajuda. ela se sentia morta.

as vezes ela sentia o aroma do bosque ao redor da cabana, ela imaginou ser primavera, imaginou que se não fosse a situação em que se encontrava ela adoraria a paisagem.

ela imaginou que em algum momento se ela pudesse sair ela veria flores, ou dependendo da época do ano, poderia haver todas aquelas folhas de outono no chão ou neve ela nunca tinha visto neve, ela queria ver.

mas ela sabia que esse dia não iria chegar, ele chegou, eu agora consigo sentir seu cheiro mesmo antes dele entrar no quarto esse cheiro me dá nojo, é assim que me sinto em relação a mim também a cada toque dele sinto vontade de vomitar, já vomitei algumas vezes, mas se isso acontece enquanto ele tá em cima de mim eu levo uma surra então eu tento aguentar até ele sair de cima então vômito. ele se irrita mas não me bate, ele acha que estou com reação a alimentação endovenosa, a mulher que faz os exames e a medicação vem hoje, eu já tentei falar uma vez ele aplicou um sonífero, as vezes eu penso que seria melhor não acordar, permanecer dormindo eternamente, mas ele também não deixa que eu durma eternamente.

tenho me sentido cada dia mais fraca, acho que mesmo que ele liberte meus pés e mãos eu não conseguiria mais fugir. acho que meu corpo já desistiu de lutar, minha mente será a próxima, acho que não falta muito para isso acontecer.

a doutora chegou com ele, ele me olha nos olhos e eu vejo seu aviso no olhar, eu fico calada, parada sem me mexer, ela fala

-oii, você tá acordada hoje, você consegue falar ?

eu continuo sem olhar pra ela, continuo imóvel, continuo muda.

-ela precisa de exames mais profundos, talvez não seja possível traze-la de volta filho. precisamos saber se não há danos neurológicos.

-mãe se o Nick vê ela, ele vai querer ela pra ele, e eu vou perder ela.

- você tem razão meu filho.

é a mãe dele, então também mesmo se eu falasse não aconteceria nada, eu não seria salva. a minha última esperança se esvai. uma lágrima escorre em meu rosto, ela passa despercebida, assim como o momento que perco completamente minha esperança de ser salva, de que um herói ou heroína me salvaria, heróis não existem na vida real, apenas monstros e esse monstro tinha me escolhido para ser assombrada por ele, acho que nunca vou conseguir fugir, acho que ele vai me manter viva sendo torturada indefinidamente.