CAPÍTULO 18 | UM GAROTO IMPREVISÍVEL.

Matteo termina de mastigar e pega um lenço rapidamente limpando os seus lábios antes de falar:

"Para ser honesto, quando cheguei aqui, achei que não iria gostar muito da cidade. Mas logo mudei de opinião. Agora acho essa cidade...", ele olha para mim. "interessante.".

Eu rapitamente abaixo os olhos para o meu prato numa tentativa de disfarçar os dois tomates que se formaram em minhas bochechas.

"Aqui é lugar muito bom, a única coisa que atrapalha um pouco é esse frio de lascar.", diz meu pai. "Fora isso, tenho certeza de que você se adaptará muito bem a cidade. Até porque o clima de Toronto não é muito diferente do daqui.". Meu pai abre um sorriso para o Matteo que, retribui com outro sorriso para ele.

Papai é um homem muito descolado, livre de preconceito e estereótipos, provavelmente nem se importou com o fato de Matteo ter tatuagens. Até porque ele também tem tatuagens espalhadas pelo corpo dele: uma tribal que circula todo o seu bíceps direito; o símbolo da medicina no seu braço esquerdo; um dragão que cobre metade de suas costas e; o nome da minha mãe na parte inferior do seu bíceps esquerdo.

"Andrea me contou que você desenha muito bem.". Diz meu pai. "Eu vi algumas pinturas suas na parede da sala. Você é talentoso, garoto.".

"Obrigado. Eu pinto e desenho mais por hobby.". Diz Matteo com um sorriso acanhado.

"Ele é um grande jogador de basquete também, pai.". Declara Sean, enquanto leva uma garfada de comida na sua boca.

"Meu filho é um garoto de muitas qualidades, Andrew.". Diz tia Andrea orgulhando-se do seu filho.

"Bom... vamos mudar de assunto? Acho que esse jantar não é para falarmos sobre os meus atributos.". Matteo esfrega a nuca encabulado por estar sendo o centro das atenções.

É a primeira vez que vejo o Matteo tímido. Eu involuntariamente solto uma risadinha por vê-lo tão acanhado e isso faz com que eu quase me engasgue com a comida que estava mastigando.

"Você está bem, querida?". Pergunta tia Andrea.

Eu rapidamente pego o copo com água e bebo um gole.

"Desculpa. É que eu achei engraçada a forma como vocês o encabularam.". Opto por falar a verdade, por mais que agora eu esteja tão constrangida quanto o Matteo.

Todos sorriem com a minha sinceridade, inclusive o próprio Matteo.

Depois que todos terminamos de comer, a tia Andrea oferece vinho para o meu pai e eles vão para a sala de estar. Eu, Sean e Matteo vamos para entrada da casa e nos sentamos nas cadeiras brancas que ficam ao lado da porta. Sean senta-se ao meu lado e Matteo na cadeira ao lado da nossa e juntos, observamos a neve cair. A noite está bastante fria, mas todos estamos bem agasalhados. Matteo está incrivelmente lindo usando uma camisa de lã cinza, uma jaqueta de couro marrom e uma calca jeans azul escuro. Ele está calçando as mesmas botas do dia em que eu o conheci. Seus cabelos estão desalinhados caídos em sua testa deixando-o incrivelmente sexy e despojado.

Sean olha para Matteo e pergunta em qual cidade ele e a tia Andrea nasceram.

"A minha mãe é italiana. Eu nasci em Toronto no Canadá". Matteo responde. Ele olha para mim. "E vocês? Você Sean, se parece com o seu pai. Mas, você Sofia, não tem semelhanças físicas com as garotas daqui da região. Se eu não os conhecesse, nem diria que são irmãos gêmeos.".

"Sofia se parece muito com a nossa mãe. Ela era brasileira e morreu a seis anos atrás em um acidente de carro.". Sean responde.

Matteo olha para mim. Percebo que seus olhos se abrandam, sensibilizado ao saber sobre a morte da minha mãe:

"Eu sinto muito.". Diz.

"Tudo bem.". Sean diz por nós dois.

Eu ainda não consegui falar nenhuma palavra.

"Obrigada pelo jantar, Andrea. Estava tudo uma delícia.". Diz meu pai, saindo pela porta de entrada da casa. Tia Andrea o segue logo atrás.

"Vocês serão sempre muito bem-vindos aqui, Andrew. A sua filha é um doce de menina e seu filho é um belo rapaz.". Diz olhando para nós dois.

"Senhor Andrew.", diz Matteo atraindo a atenção do meu pai. "Se o senhor me permite, eu gostaria de conversar com a sua filha por um instante. Eu deixá-la cedo em casa.". Matteo levanta-se da cadeira e olha para o meu pai, pegando todos nós de surpresa, principalmente eu.

Meu pai encara-o curioso e abismado. Depois olha para mim observando qual será a minha reação.

"Se a Sofia quiser, eu não vejo problema nenhum.". Diz.

Eu permaneço estática completamente estarrecida com a iniciativa de Matteo. Ele é realmente imprevisível.

Todos me encaram atentamente, aguardando a minha resposta. Ao que se parece uma eternidade, eu finalmente respondo:

"É... tudo bem pai. Não vamos demorar.".

"Certo! Vamos Sean.". Meu pai chama meu irmão e tira a chave do carro do bolso de sua calça.

Sean olha para mim e apenas com o seu olhar eu já sei que ele está dizendo:

"Qualquer coisa me liga que eu venho correndo.".

Assinto com a cabeça e ele segue o meu pai em direção ao carro. A tia Andrea sorri para mim e para o Matteo e depois entra em sua casa deixando-nos sozinhos.

Matteo rapidamente senta-se ao meu lado na cadeira.

"Por que você está me evitando?". Pergunta.

Nossa! Ele é direto.

"Eu não estou evitando você.". Minto.

"Está sim. Por quê?". Questiona-me.

"Matteo...", meus olhos o encaram. "Você me deixa confusa. Eu não consigo raciocinar direito quando estou perto de você.". Falo sincera e fito o chão.

Matteo toca o meu queixo com indicador e ergue meu rosto com delicadeza para que eu o encare.

"Sofia, eu sei que você se sente atraída por mim assim como eu estou por você. Só quero que você se permita sentir essa atração.". Diz olhando fixamente em meus olhos.

"Nós só nos conhecemos há três dias, Matteo. E no primeiro dia em que eu o conheci, lhe dei o meu primeiro beijo. Eu não me reconheço quando estou perto de você. Eu perco o controle de mim e isso me assusta.". Continuo encarando-o por um segundo e solto um suspiro para aliviar a tensão que estou sentindo agora. Então continuo a falar:

"Sim, a atração que sinto por você é inegável. No entanto, é uma coisa que eu nunca experimentei antes e confesso eu estou me sentindo um pouco assustada agora com isso. Eu nunca namorei nenhum garoto. Nunca tive experiência nenhuma com nenhum garoto. Eu apenas não sei o que fazer...". Fito as minhas mãos sentindo-me pateticamente tímida.

Esse garoto tatuado e intenso me deixa muito, muito nervosa. Estou tentando controlar o meu nervosismo para não transparecer para ele. Porém, é muito difícil me manter firme perto de Matteo.

"Então namore comigo. Tenha as suas experiências comigo, Sofia.". Diz pegando-me (novamente) de surpresa.

Encaro estupefata os olhos de Matteo. Mal acreditando que acabei de ser pedida em namoro por ele.

“Matteo, nós mal nos conhecemos…”.

Ele põe as suas mãos frias sobre as minhas bochechas e eu estremeço com o seu toque. Só que eu não sei exatamente se é devido ao frio ou se é por causa do efeito do toque dele em mim.

“Eu não me importo, Sofia. Eu só quero estar perto de você. Não paro de pensar em você desde o dia em que nos conhecemos.”. Matteo acaricia meu rosto com as costas dos seus dedos e eu recosto o meu rosto ao seu toque.

A minha respiração se acelera e eu sinto o meu coração pulsar a ponto de quase saltar pela minha garganta.

“Matteo, eu...”.

Antes que eu possa concluir a frase, Matteo me beija.

Os lábios úmidos e quentes deles cobrem os meus e nossas bocas movem-se saboreando-se em um ritmo lento e delicioso. As mãos dele acomodam-se em meu rosto e os seus dedos compridos emaranham-se nos cabelos da minha nuca, enquanto as minhas mãos percorrem dos ombros dele até os seus bíceps.

Ele é fogo.

Eu sou gelo.

E o calor que os lábios de Matteo irradia sobre mim, transforma-me em um líquido maleável que ele pode beber até não sobrar mais nenhuma gota sequer.

Matteo é química pura!

“Namora comigo, Sofia?”. Pergunta com os lábios ainda colados aos meus e percebo que a sua respiração está tão ofegante quanto a minha.

Antes que eu possa processar direito sobre o assunto, eu respondo:

“Sim...”. Minha voz sai em um simples sussurro.

Matteo olha nos meus olhos, encosta a sua testa na minha e abre um largo sorriso.

“Sério?”. Seus olhos brilham em euforia.

“Sério.”, respondo abrindo um sorriso nervoso.

Vou mesmo namorar um garoto que eu acabei de conhecer? Pelo visto, sim.

Ele volta a me beijar e eu aterrizo no planeta Matteo sem previsão de volta.