CAPÍTULO 16 | O JANTAR.

Sofia

Essa semana parece não ter fim. Ainda é quinta feira e eu já me sinto esgotada. Visto meu uniforme, meu casaco, coloco uma toca e calço as minhas botas de cano longo. Hoje o dia está muito, muito frio. A temperatura está na casa dos -2°C.

Eu e o Sean entramos juntos na sala de aula que ainda está vazia. Me sento em minha carteira e tiro os meus livros de dentro da minha mochila para estudar. Tenho estudado pouco essa semana e não posso me descuidar dos estudos, pois preciso entrar em uma boa faculdade de Medicina.

Stefan entra na sala e, ao me ver, abre um largo sorriso. Depois ele caminha em direção a sua carteira e senta-se nela.

"Sof, é... eu gostaria de falar com você na hora do intervalo.". Diz.

"Tá bom.", falo e sorrio.

O Matteo ainda não chegou. Será que ele vem para a aula hoje? Os alunos começam a entrar, mas nada dele aparecer. Eu sacudo a minha cabeça para afastá-lo dos meus pensamentos e volto a me concentrar no meu livro de Anatomia.

Na hora do intervalo, eu e o Stefan saímos da sala juntos. Vamos até o refeitório da escola e nos sentamos em uma mesa.

"Sof, eu estava pensando se a gente poderia sair hoje à noite juntos. Poderíamos ir ao cinema, se você quiser.". diz e parece estar um pouco agitado.

É impressão minha ou Stef está me chamando para um encontro?

"Stef, eu adoraria sair com você hoje.", falo um pouco encabulada. "Mas eu prometi ao meu pai que iria a um jantar na casa de uma amiga dele. Nós podemos marcar para outro dia, pode ser?". Sinto-me triste por ter que dispensá-lo. Eu realmente adoraria sair com o Stefan.

"Sim, claro. Bom... que tal se eu te buscar no Sábado para irmos juntos para a casa do Erick?". Sugere.

Seus olhos azuis me encaram cheios de expectativa aguardando por minha resposta.

"Combinado!". Respondo empolgada.

Stefan abre um largo sorriso parecendo estar tão empolgado e satisfeito quanto eu.

Matteo

Eu não pude ir para a aula hoje. A merda da bateria do meu carro não funcionou e eu estava sem grana para pegar um táxi. A minha mãe está de plantão, e só chegará depois do almoço. Então acabei ficando preso em casa. Provavelmente o idiota do Stefan deve estar se aproveitando da minha ausência tentar dá o bote em cima da Sofia agora.

Eu fico p#t% só de imaginá-lo se aproximando dela. Para piorar o meu humor, hoje vou ser obrigado a participar de um jantar que a minha mãe vai organizar para um amigo dela que também é médico. Ela disse que foi graças a ele que ela conseguiu o emprego no Hospital e esse jantar é uma forma de agradecimento pelo que ele fez por ela.

"Tudo pela felicidade da mamãe, Matteo.". - falo como uma forma de me conformar.

Pego o controle da televisão que está sobre a mesa de centro da sala e coloco no canal de esportes. Está passando uma reprise da NBA dos New York Knicks jogando fora de casa contra Washington Wizards. Já havia assistido essa partida, mas resolvo assisti-la novamente.

Sento-me no sofá e estiro as minhas pernas nele. Mesmo estando devidamente agasalhando com a uma calça de moletom, uma camisa de lã cinza e calçando meias de algodão, embrulho-me em um edredom. Hoje o dia está congelando a ponto de encolher o tamanho do meu pênis. O meu celular vibra. É uma mensagem de áudio da minha mãe.

🔊"Filho, quando você sair da escola, passe no supermercado e compre esses ingredientes que vou mandar para você, por favor.".

Eu envio outro áudio para ela:

🔊"A bateria do carro morreu e eu não pude ir para a escola hoje. Quando a senhora chegar eu saio para comprar, ok?".

🔊"Certo. Não se esqueça do nosso jantar hoje.", lembra-me.

🔊"Não se preocupe, dona Andrea. Eu não me esqueci.". Respondo revirando os olhos de tédio.

Sofia

Me arrumo para o jantar. Visto a minha calça jeans azul clara, uma camisa branca de mangas compridas e gola alta. Calço as minhas botas cano curto da cor preta. A camisa é justa ao meu corpo. Umas das poucas roupas que eu tenho que ficam justas em mim. Faço um coque frouxo nos meus cabelos e algumas mechas ficam soltas redor do meu rosto. Visto o meu casaco e vou até a sala onde meu pai e Sean estão me aguardando.

O estilo da roupa e o coque de cabelo dela são assim, porém as cores das roupas são as descritas acima.

...

...

A casa da amiga do meu pai é um pouco menor que a nossa, porém é bem bonita. Ela é toda pintada de branco e tem um pequeno pátio na entrada com duas cadeiras de angelim também pintadas de branco.

Meu pai aperta o botão da campainha. Ele segura um vaso com orquídeas brancas para presentear a dona da casa. Uma mulher alta, dos cabelos castanhos e ondulados caídos até a altura dos ombros abre a porta. Ela tem olhos verdes bem vivos como se fossem duas esmeraldas. É uma mulher muito bonita e parece ser um pouco mais jovem que o meu pai.

"Olá Andrew. Por favor entrem. Podem tirar os seus casacos e os pendurem aqui.". Pede.

Tiramos os nossos casacos e o penduramos em um mancebo que fica logo na entrada da casa.

"Sof, Sean, essa é minha querida amiga Andrea. Andrea, esses são a Sofia e o Sean. Lembra deles?".

Andrea abre um largo sorriso para mim e para o meu irmão e sinto que o sorriso dela me parece familiar.

"Nossa Andrew! Os seus filhos estão muito crescidos e bonitos. Sofia, você se tornou uma linda garota!". Elogia-me sorrindo ternura para mim.

"Obrigada! Não é para tanto.". Falo com modéstia sentindo-me um pouco tímida. "A senhora que é uma mulher muito bonita.". Sorrio simpaticamente para Andrea.

"Obrigada, querida.", agradece-me Andrea.

Ela nos guia para o interior da casa e nós a seguimos em silêncio. A casa por dentro é bonita e muito bem decorada. A sala tem um sofá grande cor de creme, um tapete de veludo da mesma cor do sofá. A TV de LED é maior que a da minha casa. Tem uma estante de carvalho branco com alguns vasos de cerâmica e uns porta-retratos sobre ela. O que chama mais a minha atenção são os três quadros emoldurados em aço que estão pendurados na parede ao lado esquerdo da TV. Um deles é o uma pintura hiper realista de uma moça que se parece bastante com a Andrea. Talvez seja ela mesma quando era jovem. Nele, ela está num jardim, usando um vestido longo de alças finas e estampa de flores vermelhas. Seus cabelos estão soltos com umas mechas espalhas em seu rosto e outras sobrevoam o ar. Uma flor vermelha está pendurada em sua orelha e ela está sorrindo descontraidamente.

A segunda pintura é de um lugar: uma charmosa cafeteria com pessoas sentadas nas mesas espalhadas sobre a calçada da rua com piso de concreto. Há uma viela ao lado dessa cafeteria, por onde passam algumas pessoas andando de bicicleta. A última pintura é um lago com alguns patos nadando sob uma charmosa ponte feita de madeira. No lago, também há uma canoa vazia flutuando.

São todas pinturas naturais e extremamente bonitas.

"Você gostou? São do meu filho. Ele é um grande artista.". Diz Andrea.

"Realmente, seu filho é um excelente artista. É alguém que enxerga beleza nas coisas simples.". Falo admirando os quadros.

"Obrigado, Sofia.". Congelo ao escutar a voz de Matteo atrás de mim.

A primeira reação que eu tenho é olhar para os porta-retratos sobre a estante. Vejo que são todas fotos de Andrea, de Matteo e a moça do desenho pendurado na parede.

Continua...

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