CAPÍTULO 4 | PLANETA OU COMETA MATTEO?

Sofia

"Bom dia, Sof!". Stefan entra na sala e só então eu saio do Planeta Matteo (ou seria um cometa?) e volto para o Planeta Terra.

"Oi! Você deve ser o novato. Eu me chamo Stefan. Seja bem-vindo!". Stefan cumprimenta Matteo.

"Eu me chamo Matteo. Obrigado.". Diz Matteo, finalmente desviando os seus olhos de mim.

Eu ainda não consegui dizer nenhuma palavra depois que Stefan chegou. Numa forma de tentar desviar a minha atenção que até então estava toda concentrada no Matteo, opto levantar-me da cadeira e dar um abraço no meu melhor amigo.

"Bom, existe alguma cadeira aqui que esteja desocupada para que eu possa me sentar?". Matteo pergunta.

"Tem aquela ao lado da Sof.". Stefan aponta para a carteira do outro lado da minha.

Matteo

Uma noite neblinada e sombria cobre o terraço do Edifício Village Fox. O vento gélido que sopra em meu rosto me faz estremer em um calafrio de medo e angústia. Sinto-me aflito e atordoado a procura de alguém que não consigo me lembrar exatamente quem é. Meu coração bate descontroladamente em meu peito e respirar está ficando cada vez mais difícil. Aos poucos, vou perdendo totalmente o controle dos meus sentidos e ficando mais e mais afobado.

A voz de Bianca chamando pelo meu nome ressoa através do assovio agudo do vento:

"Matteo... Matteo...".

Eu não consigo enxergá-la por causa da neblina. Porém meu corpo estremece em outro calafrio quando a voz dela soa perturbadoramente triste:

"Ajude-me... ajude-me...".

"Bianca! Bianca, me espera!", grito em súplica para que ela não vá embora.

Olho para todos os lados daquela cobertura, mas não consigo encontrá-la em lugar nenhum. A neblina está cada vez mais densa. E eu estou ficando cada vez mais desesperado.

Levo um choque de susto quando o rosto pálido de Bianca aparece diante dos meus olhos.

"Por que você demorou?". Sangue começa a escorrer pela boca dela e um sorriso assombrosamente macabro se forma em seus lábios.

Abro os meus olhos e o rosto pálido de Bianca ainda está diante de mim. As retinas negras e dilatadas dos seus olhos encaram fixamente os meus. O corpo dela flutua acima do meu e seus cabelos negros quase encostam em meu rosto enquanto eu estou com o meu corpo completamente paralisado em minha própria cama. Tento de forma fracassada mover as minhas pernas e braços, mas o meu corpo parece não querer me obedecer. Terror. Eu estou completamente aterrorizado. Tento desesperadamente gritar por ajuda, porém meus lábios nem se quer se abrem. Sinto as lágrimas quentes escorrem em meus olhos e são apenas elas que me dão a certeza de que eu estou acordado e de que isso não é um pesadelo.

Acordo ofegante e atordoado. Meus cabelos e camisa ensopados de suor depois de mais um, dos inúmeros pesadelos que venho tendo nesses últimos dois anos.

Com as minhas mãos, enxugo as lágrimas que umedeceram o canto dos meus olhos. Olho ao redor do meu quarto e, por causa das caixas de papelão que estão espalhadas pelo chão, percebo que já não estou mais no meu quarto antigo. Aqui não é Toronto. Agora eu estou em minha nova casa em Niágara Falls. Pensei que aqui eu pudesse fugir desses malditos pesadelos. Pelo visto, tolamente eu me enganei.

Confesso que eu não estou feliz em ter de vir para essa cidade. Ainda bem que já estou no último ano do Ensino Médio. Só não volto para Toronto porque não quero voltar a olhar para a cara do Orlando (quem infelizmente, é o meu genitor). Esse idiota só fez uma merda atrás da outra. Não foi capaz de cuidar nem da própria família. Se eu pudesse acertar a cara dele novamente, eu juro que o faria. Só não faço, por causa da minha mãe que diz que ele é meu pai e que eu devo respeitá-lo como tal. Ela fica muito triste por saber que eu não consigo perdoá-lo. Mesmo depois de todo o mal que ele a causou, minha mãe diz que não guarda mágoas dele. Ao contrário de mim. A raiva e o ressentimento que eu sinto por ele, entranharam em mim dos meus pés até o meu último fio de cabelo.

Orlando Ferraro, é italiano e se mudou para o Canadá para abrir uma empresa muito bem-sucedida no ramo de equipamentos de transportes. Ele é um dos caras mais desgraçados que eu tive o desprazer de conhecer e, pior ainda, de ser filho. É um miserável podre de rico. Ainda bem que a minha mãe finalmente conseguiu se livrar dele. Depois de tantos anos de um casamento fracassado por traições e tragédias, ela conseguiu reunir coragem para pedir o divórcio. A mamãe não quis ficar com nenhum centavo do dinheiro dele. Viemos embora apenas com o dinheiro que ela guardou de suas economias como médica.

Depois de toda a dor que a minha mãe enfrentou - que nós enfrentamos -, ela merece ser feliz. Eu não posso falar para ela que não gosto daqui (muito menos que os pesadelos ainda continuam). Quero que ela possa recomeçar a vida dela sem preocupações e eu tenho certeza de que eu consigo me virar sozinho para organizar essa merda de bagunça que se formou na minha cabeça.

Pelo menos quero foder com o máximo de garotas daqui dessa cidade. Quantas eu quiser e quantas caírem na minha rede. Isso, infelizmente, eu herdei de Orlando. Além da aparência, tenho uma ótima persuasão com o sexo feminino.

Eu, Matteo Ferraro, dos meus quase 19 anos de vida, não consigo acreditar no amor sincero e nunca me apaixonei e nem me apeguei emocionalmente a nenhuma outra mulher que não fosse a minha mãe e a Bianca - infelizmente ela morreu há dois anos. - Então agora só me restou a minha mãe.

Eu até tentei namorar uma vez, porém, não deu muito certo. Só fico com uma garota tendo uma única finalidade: transar. Acredito que esse seja meu maior defeito e, para ser honesto, não faço por mal. Apenas não consigo ser diferente. Considero-me como sendo um quadro cinza, opaco e frio. Daqueles que não expressam nada além de um sentimento profundo de uma sombra vazia e obscura de emoções. Talvez eu deva ser isso mesmo. Talvez eu não tenha nascido para amar ninguém.

Meu humor é muito sombrio pela manhã, então prefiro chegar cedo na minha nova escola para não ter que falar com outras pessoas. A minha mãe teve sair mais cedo para o seu primeiro dia no hospital. Então acabamos nem nos encontrando hoje pela manhã.

Fico feliz pela coordenadora Cortez apenas guiar-me ao caminho da minha sala de aula sem puxar nenhuma conversa comigo. Nós dois somos acompanhados apenas pelo barulho agudo dos saltos dela que ressoam no piso de mármore do corredor que dá acesso às salas de aula. Talvez o humor dela esteja tão ruim quanto o meu hoje.

"Aqui é a sua sala. Seja bem-vindo.", diz de cara fechada com um esboço de sorriso que mais parece uma careta de desgosto. Pelo visto ela está bastante mal humorada.

"Obrigado.", agradeço sem nem me dar ao trabalho de esboçar um sorriso. Confesso que estou tão mal humorado quanto ela.

Acho que o dono dessa escola deveria prestar mais atenção na simpatia dos seus funcionários. Sem mais nem menos, ela vira-se de costas para mim e caminha pelo corredor levando embora aquela cara azeda e o barulho ensurdecedor daqueles saltos. Provavelmente essa noite eu terei outro pesadelo. Dessa vez, será com essa senhora de quadris largos e antipática.

Entro na sala de aula, vejo que já tem uma bela jovem sentada em sua cadeira lendo um livro que eu conheço bem. Ela tem cabelos castanhos escuros que estão desembaraçadamente presos em um rabo de cavalo. Seus traços são diferentes das típicas garotas americanas. Talvez ela seja latina, igual a senhora Cortez.

Como ela está sentada em sua carteira, eu não consigo visualizar muita coisa do seu corpo. Noto apenas a largura exacerbada dos seus quadris e a grossura de suas coxas se pressionam na cadeira. Ela está lendo justo um dos livros que mais gosto. Bingo! Acabei de chegar nessa escola e já achei o meu primeiro alvo.

Continua...

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