A PORTA QUE SE ABRE

De banho tomado, eu me deliciava com um parmegiana de lamber os beiços feito por Poliana no almoço.

 Estava tão tranquila, saboreando cada garfada, que quase esqueci de todo o caos que estava acontecendo em minha vida.

 Mas, então, ouvi um batido na porta. Como não havia porteiro no prédio e eu já estava tão acostumada com vendedores de ovos e outros tipos de visita indesejada, nem liguei que ainda estava com a toalha na cabeça. Decidi ir logo dispensar quem quer que fosse, sem pressa de me arrumar ou de manter qualquer tipo de formalidade.

"Já vai... Heitor Guedes? O que faz aqui?" - eu arregalei os olhos assim que o vi.

 Ele, o homem que tinha me dispensado mais cedo, de repente estava ali, na minha porta.

 Por um segundo, um nó se formou na minha garganta. Será que ele estava arrependido? Ou talvez queria me dar mais uma chance de brilhar? Mas... ele parecia tão distante, tão difícil de ler. Me senti vulnerável, exposta, e nem sabia direito como reagir.

"Eu..." Ele estava sem palavras, me olhando com uma intensidade que me desconcertou. Aquela postura dele, aquele jeito de me observar como se eu fosse alguma coisa distante... meu estômago revirou. Mas eu tentei manter a compostura. Respirei fundo.

"Você está bem? Quer uma água? Emergência? Se sentar? Sabe quantos dedos tem aqui?" Levantei três dedos para o rosto dele, tentando disfarçar a preocupação com o estado dele. Estava começando a ficar realmente preocupada.

"Quer parar de fazer perguntas?" Ele se zangou, abaixando minhas mãos de forma rude. O que estava acontecendo? Por que ele estava tão... estranho?

"Desculpe, mas... Não creio!" Eu gritei, agora realmente acreditando que aquilo não era real. Estava em choque.

 Heitor Guedes na minha porta, e eu com uma toalha na cabeça, como se fosse um pesadelo que eu não sabia se queria acordar ou viver.

"Que isso?" Ele se assustou, dando um passo para trás, talvez até achando que eu estava fora de mim. Ele não podia me culpar.

 Nunca imaginei que esse dia chegaria, que ele viria até aqui, depois de tudo o que aconteceu.

"Eu entendi! Eu entendi por que você está aqui! Eu consegui!" Comecei a pular pela sala, sem pensar nas minhas reações. Eu estava tão feliz, tão aliviada!

 Finalmente, parecia que as coisas estavam tomando o rumo certo, que o meu sonho estava se realizando. Mas logo depois, me perguntei, quase em pânico: será que ele estava ali por outro motivo? Eu estava confundindo as coisas?

"O que?" Ele me olhou confuso, ainda sem entender minha reação.

"Você me deu uma oportunidade de ser sua atriz. Muito obrigada, Heitor!" Gritei, sem medir minhas palavras, e pulei nos braços dele, esquecendo de tudo.

Nem do meu espaço pessoal eu lembrei, só queria que ele visse o quanto estava feliz.

"Oi? Não!" Ele se afastou de mim com um movimento brusco, e eu senti um frio na barriga. Será que ele estava se arrependendo? Meu coração começou a bater mais rápido.

"Não? Não veio até minha casa por isso? Veio por quê então?" A pergunta saiu da minha boca sem eu pensar muito, e a dúvida me invadiu de novo. Ele parecia tão distante, tão formal, como se estivesse em outra dimensão. Como se tudo que eu estivesse imaginando não fosse real. Ou eu estava vendo o que queria ver?

"Er... Quis dizer... Não me agradeça, foi tudo graças ao seu potencial." Ele sorriu, tentando me confortar, mas eu pude ver a máscara de profissionalismo no rosto dele.

"Me belisca se eu estiver sonhando." Eu estendi o braço, emocionada, sem conseguir controlar o sorriso no rosto. A ideia de que tudo estava dando certo finalmente me encheu de uma felicidade que eu não sentia há muito tempo.

"Abaixa essa mão, menina." Ele negou com a cabeça, tentando se manter firme. Eu queria que ele sorrisse mais, que fosse mais genuíno comigo. Mas o que ele dizia parecia ser o suficiente. Eu queria acreditar nele.

"Me desculpa novamente! Começo quando? Agora?" Perguntei, quase sem conseguir esperar mais um minuto.

"Tenho outros compromissos hoje." Ele tentou se recompor, mas estava óbvio que ele estava ansioso para sair. "Amanhã de manhã, o meu motorista vem te buscar." Ele disse, por fim, e quando saiu pela porta, uma sensação estranha tomou conta de mim.

"Que horas?" Perguntei, correndo atrás dele, mais uma vez tentando encontrar alguma forma de me sentir segura em meio a esse turbilhão de emoções.

"Na hora que ele vier te buscar, esteja pronta. Odeio atrasos." Ele me disse com uma frieza que me deixou tensa.

Era tarde da noite quando Poliana chegou em casa. Ela parou ao me ver pranchando o meu cabelo.

"Vai sair?"

"Senta." Eu sorri, feliz da vida, mas também ainda tentando processar tudo que aconteceu.

"Porque?" Ela olhou pela sala, procurando algum tipo de explicação, provavelmente confusa com minha animação repentina.

"Se não, você vai cair sentada quando descobrir que eu consegui o papel!" Gritei, pulando do sofá de tanta felicidade, mas no fundo, uma parte de mim ainda estava com receio. Eu sabia que minha vida estava prestes a mudar, mas isso me dava tanto medo quanto excitação. O que aconteceria agora?

"Ai meu Deus, Ária, isso é muito bom! Te daria um abraço se pudesse, mas estou toda suada!" Poliana sorriu, feliz também por mim.

"Claro que pode, menina. Hoje pode tudo!" Eu a abracei, desprevenida. Eu precisava desse momento. Precisava dividir essa felicidade com alguém que entendesse a minha luta, a minha jornada.

Depois de toda aquela algazarra, nos sentamos no sofá, quase sem fôlego.

"Caramba, nem consigo respirar de tanta emoção." Poliana sorria enquanto tentava inalar com sua bombinha. Eu me senti culpada, mas também não podia negar que minha cabeça estava a mil. Como poderia ter medo de ser feliz agora? Será que tudo daria certo?

"Calma." Eu ri, tentando aliviar a tensão, mas a preocupação com a saúde de Poliana estava me deixando ainda mais nervosa. "Se você morrer, não posso te contar os detalhes."

Depois de contar todos os detalhes para Poliana, me acomodei sozinha no sofá, sem conseguir tirar os pensamentos da cabeça. Eu só queria que o dia de amanhã chegasse logo, que as coisas começassem a acontecer como eu imaginava. Mas a tensão me tomou de jeito, e eu acabei adormecendo ali mesmo, completamente exausta das emoções.

No entanto, acordei de madrugada com um pesadelo leve, mas logo percebi que ele não passava de um pesadelo acordado: a realidade estava me esmagando lentamente. Eu não sabia o que esperar de Heitor, o que ele realmente pensava de mim. Dormi com essa dúvida e acordei com ela, o coração pesado. Será que eu realmente conseguiria esse papel? Ou ele estava só brincando comigo, me dando falsas esperanças?

Quando o sol começou a raiar pela janela, eu ainda estava ali, no sofá, com a cabeça cheia de expectativas e a alma cheia de inseguranças. A manhã passou lentamente, e eu mal consegui fazer algo para passar o tempo. Estava apenas aguardando a chegada do motorista, que ele havia prometido. A ideia de que tudo poderia ser um erro começou a me consumir. Será que ele me esqueceria? Será que eu estava apenas criando uma ilusão de algo que nunca aconteceria? Ele tinha dito que odiava atrasos, então não deveria ser difícil para ele me encontrar, certo? Mas, à medida que o tempo passava, o desânimo foi tomando conta de mim.

Fui até a cozinha e preparei o almoço, mas o gosto de cada garfada parecia amargo. Não consegui me concentrar em nada, a não ser na sensação de frustração que se acumulava em mim. Será que ele não ia mais aparecer? Eu me senti tão estúpida por ter ficado tão animada. Como pude acreditar que algo tão grande e bonito ia acontecer comigo, como se eu fosse merecedora de tudo aquilo? Eu realmente tinha me enganado.

Foi então que ouvi batidas na porta. Eu levantei para atender, com o coração batendo forte, tentando disfarçar o nervosismo.

Atrás da porta estava um homem alto, de uniforme, que parecia sério e profissional. Ele olhou para mim e disse, com uma expressão imutável:

"Bom dia, senhorita. O senhor Heitor Guedes pediu para que eu a acompanhasse. Por favor, siga-me."

Eu congelei por um momento, não acreditando no que estava ouvindo. Ele não tinha me esquecido! O motorista estava ali, pronto para me levar. Eu não sabia se sentia alívio ou mais um turbilhão de emoções. Mas, uma coisa era certa: o momento finalmente tinha chegado. Eu estava prestes a começar minha jornada.

Com as mãos trêmulas, peguei minha bolsa e segui o segurança, tentando esconder a ansiedade que me consumia por dentro. O que seria daquele momento? Eu não fazia ideia, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia que poderia estar no caminho certo. Eu só precisava confiar. Confiar que ele, de algum modo, estava me dando a chance que eu tanto queria.

Mais populares

Comments

Jandira Araujo

Jandira Araujo

desculpa autora mais nada a ver essas fotos,parece fotos de desenhos.

2025-04-13

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!