O INÍCIO DO IMPROVÁVEL

Eu estava perdida em meus pensamentos, segurando o contrato com as mãos, quando o celular tocou. Era uma vídeo-chamada de minha tia Fernanda. Fiquei surpresa, já que ela raramente me procurava. Ao atender, logo vi a imagem desfocada da casa humilde da minha avó, antes mesmo de ouvir o som das vozes.

“Ariane, é bom que você tenha atendido. A vovó não está bem e ela quer te ver.” – Fernanda falava com pressa, a preocupação evidente em seus olhos.

Meu estômago apertou. Lágrimas começaram a ameaçar minha visão enquanto tentava controlar a respiração. Minha avó, que sempre foi a rocha da nossa família, estava visivelmente debilitada. Seu rosto pálido, mais magro do que o normal, refletia uma batalha silenciosa que eu não queria enfrentar.

"Não, precisa se preocupar. Fernanda está exagerando." disse minha avó, fraca, mas tentando sorrir.

"Vó..." Minha voz falhou. Não sabia o que dizer.

A minha tia logo entrou na conversa. “Você precisa saber que a situação aqui tá feia. A grana não tá entrando, e a sua mãe… não estamos conseguindo arcar com suas despesas na reabilitação. Você sabe que a gente sempre teve dificuldades, mas agora está insustentável. Você bem que poderia ajudar, agora que é atriz né?”

Era como se algo tivesse estalado dentro de mim. Eu via a situação difícil, a pobreza que envolvia a minha família, e eu, a única que tinha oportunidades de algo maior na vida, me sentia impotente. Eu sabia que, por mais que eu não gostasse de como Heitor estava me manipulando, não tinha mais como fugir da realidade.

O que mais eu poderia que fazer para salvar minha mãe e dar conforto para minha avó, para salvar a minha família?

“Eu vou ajudar, tia , vou fazer o que for preciso.” A resposta saiu sem que eu pensasse direito. Eu tinha que aceitar a proposta de Heitor, nem que fosse para sair dessa situação difícil.

Desliguei a ligação com o coração pesado. Eu tinha que ir atrás do que fosse necessário. Não estava feliz, mas era o único caminho que eu via.

Olhei para o contrato novamente. Agora, era como se ele estivesse se tornando meu único refúgio, meu único caminho. Eu respirava fundo, tentando afastar o tumulto dentro de mim. Aceitar a proposta de Heitor significava entrar em um jogo perigoso, mas eu não tinha outra escolha. Eu precisava disso.

O telefone tocou novamente, e ao ver o nome na tela, não precisei pensar muito para atender. Era Heitor, e sabia que, dessa vez, ele tinha algo mais para me oferecer.

"Ariane, podemos nos encontrar?" A voz dele estava calma, mas havia algo em sua maneira de falar que me dizia que ele tinha a carta na manga.

Aceitei sem hesitar. Eu já sabia o que precisava fazer, mas os próximos passos pareciam mais difíceis do que eu imaginava. Talvez, se eu tivesse uma vantagem, poderia lidar melhor com o jogo que estava prestes a começar.

Nos encontramos num café discreto, bem diferente do lugar onde ele me havia dado o contrato.

Ele estava sentado em uma mesa afastada, com uma xícara de café na frente. Quando me aproximei, ele me cumprimentou com um sorriso profissional.

"Você pensou sobre o que falei?" - ele estava tentando ser persuasivo, mas eu sabia que ele já sabia a resposta.

"Sim,"- respondi com um suspiro, tentando me manter firme. "Eu aceito o contrato. Mas preciso de algo em troca." Ele arqueou uma sobrancelha, curioso, como se já soubesse o que estava por vir.

"Fale, o que você quer?"

"Eu quero um adiantamento. Não posso entrar nisso sem uma segurança. Preciso garantir que estou fazendo a escolha certa." - minha voz estava calma, mas firme. Ele me observava, como se estivesse avaliando a minha ousadia.

"No contrato diz que você ganhará cem mil."- ele começou, "Mas entendo que você precisa de algo mais imediato. Então, o que você sugere?"

Eu olhei para ele, sem hesitar. "Cada mês, eu quero uma parcela da metade do pagamento. Só assim eu estarei realmente segura para dar esse passo."

Ele me estudou por um momento, com os olhos intensos e avaliadores, como se estivesse vendo mais do que eu queria mostrar.

E ele disse finalmente. "O pagamento... vai ser transferido, como você pediu. Mas lembre-se, você está entrando em um jogo onde ninguém pode sair ileso."

Eu acenei com a cabeça, absorvendo tudo. Sabia que ele estava tentando me intimidar, mas eu estava pronta. O que ele não sabia era que eu também estava jogando o meu jogo. Agora, o papel de namorada de aluguel não parecia mais tão fora do meu alcance. Era uma oportunidade, e eu estava decidida a tirar proveito dela.

"Ótimo," falei, tentando manter a compostura. "Eu começo quando?"

Ele sorriu, um sorriso calculista, como se já soubesse que eu não tinha mais volta. "Logo, mas se prepare-se, Ariane. O que vem pela frente vai mudar sua vida."

Eu respirei fundo, sabendo que a partir daquele momento, nada seria como antes. Agora, eu estava dentro do jogo. E não tinha como voltar atrás.

Eu já estava com a resposta em mente, mas uma dúvida surgiu enquanto ele falava sobre a escola de atuação de Tomás que eu deveria entrar e o pagamento. Algo que estava me incomodando desde o começo, e não pude deixar de perguntar.

"Você falou sobre o contrato, sobre o pagamento... mas e Tomás? Ele deveria estar aqui também, já que eu seria... a nova namorada dele, não é?" A pergunta saiu mais direta do que eu esperava, mas precisava entender o que estava realmente acontecendo. O que exatamente ele esperava de mim, além de fingir ser outra pessoa?

Heitor me encarou por um momento, o olhar grave, quase como se eu tivesse tocado em um ponto sensível. Ele fez uma pausa antes de responder, e eu sabia que a resposta não seria simples.

"Tomás não está aqui porque ele ainda não sabe do contrato, Ariane." Ele falou com uma calma desconcertante, quase como se estivesse me dando um detalhe insignificante. "Ele não tem ideia de que você fará parte do nosso acordo. Ele vai descobrir mais tarde, quando a situação se desenrolar."

"Mas então, o que eu faço? Como vou conquistar alguém que nem sabe da minha existência?" Eu estava começando a ficar mais desconfortável com a ideia. O que ele estava esperando de mim?

Ele sorriu, como se estivesse esperando que essa pergunta surgisse. "Você tem o perfil perfeito para ele, Ária. Tomás é o tipo de homem que gosta de mulheres autênticas, que sabe se impor e que não tem medo de ser quem é. E, honestamente, você tem todas as qualidades dele. O charme, a atitude... ele vai se encantar por você, tenho certeza."

Aquela resposta me pegou de surpresa. Eu não sabia se deveria me sentir lisonjeada ou nervosa. O que significava "o perfil perfeito"? Eu não sabia mais o que pensar sobre o jogo que estava sendo armado. Heitor estava falando sobre Tomás como se eu fosse uma peça já escolhida para ele, como se fosse apenas uma questão de tempo até que a engrenagem começasse a funcionar.

"E se ele não gostar de mim?" Eu não conseguia deixar de questionar, precisava de alguma certeza, alguma explicação que me tranquilizasse.

"Heitor, como você sabe que vai funcionar?"

Ele deu de ombros, como se fosse a coisa mais simples do mundo. "Porque Tomás é como qualquer outro homem. Ele gosta de mulheres com atitude, que sabem o que querem. E você, Ária, é exatamente o tipo de mulher que ele procura. Só precisa dar o primeiro passo."

Eu não sabia se deveria acreditar nele ou se estava apenas sendo manipulada em um jogo que não compreendia totalmente. Mas, uma coisa eu sabia: ele tinha o controle. E, de algum modo, eu também estava começando a me convencer de que esse caminho seria o único para garantir minha segurança e, quem sabe, conquistar algo mais.

"Eu entendo," disse, respirando fundo e tentando manter a compostura. "Vou fazer o que for necessário."

Ele sorriu novamente, com minha resposta. "Isso é o que eu queria ouvir. Agora, vamos acertar os detalhes, e você estará pronta para começar. E em breve, Tomás vai ser seu."

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