Com o último formulário preenchido e a assinatura no final, senti um peso se levantar dos meus ombros. Era oficial. Eu havia sido aceita como intercambista na escola de Talentos Martins Muniz, a escola que eu sempre sonhei.
O nervosismo misturado com uma sensação de conquista me invadiu, como se a partir daquele momento tudo fosse se transformar.
Cada portão, cada sala, cada rosto novo era como uma etapa que me afastava da minha vida anterior. Martins Muniz era exatamente o que eu queria, mas ao mesmo tempo, o medo de não estar à altura, de ser apenas uma forasteira, me engolia.
“Ária Fernandez”, eu disse para mim mesma em voz baixa, tentando me acostumar com o som do meu nome aqui
A diretora havia me avisado que o próximo passo seria me apresentar aos colegas de quarto, mas eu não sabia o que esperar. Sabia que a escola era cheia de jovens talentosos e com diferentes histórias, mas ninguém me preparou para o que viria a seguir.
Fui chamada pelo assistente da recepção e me dirigi até o corredor onde a nova fase da minha vida realmente começaria.
Ao virar a esquina, me deparei com uma garota que estava praticamente encaixada entre o glamour.
Seu uniforme, de um tecido que parecia quase brilhar, se ajustava perfeitamente ao seu corpo, e a tiara com pedrinhas reluzentes dava o toque final de ostentação. Ela estava parada ao lado da recepcionista, seus olhos atentos me observando como se eu fosse um experimento em seu laboratório..
“Essa é a sua nova colega de quarto, Clarissa”, disse a diretora, com uma confiança que eu quase achei desconcertante.
Eu olhei para Clarissa, ainda tentando assimilar a situação. A diretora sorria, como se estivesse apresentando a melhor amiga da minha vida, mas, ao meu lado, o ar parecia pesado, como se algo estivesse prestes a desabar.
“Oi, você deve ser Ariane!” – ela exclamou com uma empolgação tão grande que quase me fez rir. Ela parecia genuinamente feliz em me ver, e seu brilho nos olhos só intensificava o calor do seu sorriso.
“Sim, é isso”, respondi, tentando não mostrar o desconforto. Eu podia sentir meu coração batendo mais rápido, e uma onda de insegurança me tomou. Eu era a típica garota fora do lugar.
Clarissa, ao contrário de mim, parecia tão à vontade. Com um sorriso exagerado, e eu me forcei a corresponder. “Vamos ser melhores amigas, tenho certeza disso. Vai ser incrível.” Ela passou o braço ao redor de mim de forma possessiva, puxando-me em direção à escada, sem esperar por minha resposta.
Eu tentei não mostrar minha surpresa, mas seu toque me fez apertar a mandíbula. Não me surpreenderia se ela estivesse fazendo isso apenas para se divertir. Eu nunca fui boa em me encaixar em padrões, e Clarissa parecia estar criando um bem peculiar.
Eu estava ainda processando a ideia de ter uma colega de quarto tão... diferente. Quando chegamos ao quarto, ela foi a primeira a quebrar o silêncio:
“Bom, esse é o nosso ‘lar’. Espero que você não seja muito bagunceira, porque eu não gosto de desorganização.” Ela olhou para mim, os olhos castanhos parecendo medir cada movimento meu.
Eu, em um misto de surpresa e timidez, acenei com a cabeça. O que mais me chamou a atenção, além da animação de Clarissa, era o fato de que ela estava impecavelmente arrumada, como se fosse parte de um estilo pessoal bem definido.
Me senti um pouco tonta com a rapidez da interação, mas a energia dela era contagiante.
"Ah, e eu arrumei tudo aqui. Você vai adorar!" — continuou, apontando para a cama que já estava arrumada e para as prateleiras cheias de livros e objetos decorativos, todos escolhidos a dedo. "Meu estilo", ela disse, com aquele entusiasmo que mais parecia de uma criança ganhando um brinquedo novo.
Eu tentei disfarçar meu desconforto. Sentir-me pequena ao lado de alguém tão exuberante e confiante estava começando a ser mais difícil do que eu imaginava.
"Obrigada, mas... você não precisa ter feito isso. Eu posso arrumar minhas coisas..." — tentei responder, mas ela me interrompeu antes que eu pudesse terminar.
"Claro que não! Eu adoro arrumar as coisas. Vai ser super divertido, não se preocupe com nada, tá?" — Ela sorriu ainda mais, como se me estivesse fazendo um favor ao ter feito tudo. Eu não sabia se deveria rir ou ficar quieta. Acabava de me sentir como um pequeno cachorrinho sendo tratado com uma ternura exagerada.
Senti um pequeno nó na garganta, mas tentei manter a compostura.
"Eu... vou ver as coisas que trouxe. Obrigada de novo." — Me afastei um pouco para começar a organizar meu lado do quarto, mas Clarissa ainda não parecia disposta a me deixar fazer nada sozinha.
Ela me seguiu como uma sombra, animada com cada pequeno detalhe da minha chegada.
"Ah! Você trouxe livros de teatro? Me empresta um desses, quero saber o que você lê! Eu amo aprender coisas novas!" — Clarissa se aproximou e pegou um dos meus livros com um sorriso brilhante, como se eu tivesse lhe dado um presente precioso.
Eu me senti... observada. Não era que ela fosse de mal, mas estava sendo tão carinhosa e prestativa que parecia um pouco demais, como se eu fosse uma mascote. Mas, com o tempo, talvez eu me acostumasse com isso. Talvez.
Ainda assim, ao ver o entusiasmo nos olhos dela, eu não pude deixar de pensar que, por mais que ela parecesse ser um encanto, Clarissa tinha uma maneira peculiar de me tratar, quase como se fosse minha tutora ou protetora, me envolvendo na sua energia sem nem pedir permissão.
Então, enquanto ela continuava a mexer nas minhas coisas, eu percebi que ali, naquele novo mundo, eu talvez tivesse que me adaptar muito mais do que imaginava.
Ela parecia estar no seu próprio mundo.
Eu fiquei ali, de pé, com o peso da situação caindo sobre mim. Como poderia ser que o destino tivesse me colocado com alguém tão... indiferente?
A sensação de isolamento começou a se intensificar, mas eu respirei fundo e me lembrei do motivo de estar ali.
Meu sonho de ser atriz não poderia ser prejudicado por uma colega de quarto complicada. Se eu quisesse estar no Teatro Muniz, eu precisaria aprender a lidar com tudo – até com Clarissa.
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Atualizado até capítulo 33
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