Capítulo 3 – O Passado Sempre Cobra

A manhã nasceu cinzenta no vilarejo, como se o próprio céu refletisse o peso nos ombros de Rafael. Depois da conversa com Dona Sebastiana, ele dormiu poucas horas, e mesmo assim, o sono foi repleto de pesadelos. Imagens de rostos sem nome o perseguiam, sombras do passado que ele nunca conseguiria apagar.

Mas, ao acordar, a primeira coisa que viu foi Eduarda. A menina estava sentada no chão da sala, brincando com suas bonecas, como se nada no mundo pudesse machucá-la. Rafael sabia que aquilo era uma ilusão.

Ele se levantou devagar, sentindo o corpo tenso, como se sua alma estivesse em constante alerta. Foi até a cozinha, onde encontrou Dona Sebastiana preparando café. O cheiro forte preencheu o ambiente, trazendo uma sensação de lar que ele não sentia há muito tempo.

— Dormiu bem? — ela perguntou sem olhar para ele.

Rafael suspirou, pegando uma xícara.

— O suficiente.

Sebastiana o observou por um instante antes de dizer:

— E agora? O que pretende fazer?

Ele sabia que a pergunta viria. Mas a resposta... essa ele ainda não tinha.

— Eu não posso ficar aqui para sempre. Mais cedo ou mais tarde, eles vão me encontrar.

Sebastiana cruzou os braços.

— "Eles"?

Rafael olhou para a porta, como se esperasse que a qualquer momento alguém a arrombasse.

— O grupo que eu trabalhei. Eles nunca deixam ninguém sair com vida.

Dona Sebastiana apertou os lábios.

— Então quer dizer que, todo esse tempo, você estava se preparando para fugir?

E Lara? Já sabe sobre o seu passado?

Rafael ela é uma moça boa, e está gostando muito de você! Ela vem todos os dias aqui pra saber de você e já faz dois anos que ela cuidou de você, então acho que ela merece saber de tudo você não acha fillho?

Ele não respondeu de imediato.

— Não. Estava-me preparando para proteger vocês.

...E sobre Lara sim ela merece saber, hoje a noite vou conversar com ela sobre tudo isso....

A resposta fez um silêncio pesado cair sobre eles. Dona Sebastiana apoiou as mãos na mesa e olhou diretamente para ele.

— Rafael, eu não tenho medo. Já passei por muitas coisas nessa vida. Mas essa menina... ela já perdeu tudo uma vez. Você está disposto a fazer o mesmo com ela?

Rafael sentiu um aperto no peito. Ele olhou para Eduarda, que agora cantarolava baixinho, alheia ao perigo que os cercava.

— Não — respondeu firme. — Eu não vou deixar que nada aconteça com ela.

— Então tome uma decisão logo — Sebastiana falou séria. — Porque, mais cedo ou mais tarde, seu passado vai te alcançar.

Naquela mesma noite, Rafael sentiu algo diferente no ar. Era um instinto que ele nunca ignorava. Ele pegou uma arma pequena que mantinha escondida dentro de um compartimento na parede e caminhou até a varanda.

O vilarejo parecia tranquilo. Mas Rafael sabia que o perigo nunca fazia barulho antes de atacar.

Foi quando ele viu.

Um carro preto, parado do outro lado da rua, sem ninguém à vista. Os vidros escuros escondiam qualquer coisa lá dentro.

O passado finalmente o encontrou.

Rafael sentiu o sangue gelar. Ele voltou para dentro rapidamente e fechou a porta, trancando-a. Caminhou até Dona Sebastiana, que lia um livro no sofá.

— Pegue Eduarda e vá para o quarto do pânico — ordenou em voz baixa, mas firme.

Sebastiana não discutiu. Apenas assentiu e chamou Eduarda, que, confusa, a seguiu.

Rafael voltou para a porta e pegou o celular. Seu coração batia forte no peito.

Ele não ia mais fugir.

Ia enfrentar.

E, dessa vez, ele lutaria não por ele, mas por aquelas que amava.

Rafael manteve os olhos fixos no carro preto do outro lado da rua. O motor desligado, as luzes apagadas. Mas ele sabia que não estava vazio. Eles estavam ali. Observando. Esperando.

Ele respirou fundo, apertando a arma em sua mão. O passado finalmente o encontrou, e ele não tinha outra escolha senão enfrentá-lo.

Atrás dele, o barulho sutil da porta se fechando indicava que Dona Sebastiana e Eduarda estavam em segurança no quarto do pânico. Agora, só restava ele.

Com passos silenciosos, ele caminhou até a janela lateral, desviando-se das sombras da casa. Analisou a rua com atenção. Não havia movimento algum, exceto pelo leve balançar das folhas ao vento. A espera era sempre a pior parte.

Então, aconteceu.

A porta do motorista se abriu lentamente, e um homem saiu do carro. Alto, vestido de preto, com uma postura rígida de quem estava acostumado a caçar. Rafael reconheceu o andar, a forma como ele analisava o ambiente. Um profissional.

E ele não estava sozinho.

A porta traseira do carro também se abriu, e outro homem saiu. Este era mais baixo, mais compacto, mas tão letal quanto o primeiro.

Rafael praguejou baixinho. Eles não enviavam novatos para missões como essa. O que significava que a ordem era clara: eliminá-lo.

Mas o que eles não sabiam era que Rafael já estava pronto para isso há muito tempo.

Ele deu um passo para trás, se misturando às sombras da casa. Pegou o celular e digitou rapidamente uma mensagem para Lara.

"Se algo acontecer comigo, cuide de Eduarda. Ela confia em você."

Ele enviou antes de apagar o histórico.

Seus olhos voltaram para os homens que agora cruzavam a rua. Eles se aproximavam com calma, confiantes demais. Achavam que o tinham encurralado.

Mas Rafael tinha uma última surpresa para eles.

No exato momento em que os dois passaram pelo portão, ele disparou.

O primeiro tiro atingiu o menor no ombro, derrubando-o no chão com um grito abafado. O segundo foi para o outro, que se jogou para o lado a tempo de evitar um tiro fatal.

O silêncio da noite foi rompido pelo eco das balas. O homem que ainda estava de pé sacou uma arma e atirou de volta. Rafael se abaixou, sentindo o impacto da bala acertando a madeira da parede atrás dele.

O cheiro de pólvora se espalhou no ar.

Ele precisava acabar com isso rápido.

Com movimentos ágeis, Rafael saiu pela lateral da casa, contornando os invasores. O ferido tentava se levantar, enquanto o outro procurava um novo ângulo para atacar.

Rafael não lhes deu essa chance.

Com um chute rápido, desarmou o que ainda estava em pé, pegando sua arma antes que ele pudesse reagir. Apontou para o ferido no chão, que ergueu as mãos, respirando com dificuldade.

— Quem mandou vocês? — Rafael perguntou, sua voz fria.

O homem hesitou.

— Você sabe quem foi.

Rafael sentiu um gosto amargo na boca. Sim, ele sabia.

O passado não ia deixá-lo em paz.

E esse era só o começo.

Ele respirou fundo antes de puxar o gatilho.

A guerra havia começado.

Parte 2

O cheiro de pólvora ainda pairava no ar quando Rafael limpou a cena do ataque. Ele moveu os corpos para longe da casa, apagou os rastros de sangue e recolheu qualquer evidência que pudesse indicar sua localização. A experiência lhe ensinara que deixar rastros era pedir para ser caçado.

Quando voltou para dentro, abriu a porta do quarto do pânico. Dona Sebastiana segurava Eduarda nos braços, os olhos preocupados.

— Podemos sair? — ela perguntou.

Rafael assentiu.

— Sim. Mas não podemos ficar aqui.

Sebastiana não questionou. Sabia que, se ele dizia isso, era porque o perigo ainda não havia acabado.

Depois de colocar Eduarda na cama, Rafael permaneceu acordado. Arrumou suas armas, verificou munição e começou a fazer as malas. A casa que um dia fora um refúgio agora era apenas mais um lugar que ele precisava deixar para trás.

Pegou o celular e viu a resposta de Lara:

"O que está acontecendo? Você está bem? Estou preocupada."

Ele digitou rapidamente.

"Fique calma. Vou te explicar tudo. Podemos nos encontrar no píer, onde os barcos ficam?"

Ela demorou um pouco, mas respondeu:

"Sim. Estarei lá."

O céu começava a clarear quando Rafael chamou Sebastiana e Eduarda.

— Temos que sair agora.

No quintal, ele revelou um carro escondido sob uma lona. Era um veículo blindado, preparado para situações como essa. Carregou as malas e suas armas, verificando cada detalhe antes de partir.

A viagem até o píer foi silenciosa. Eduarda dormia no banco de trás, e Dona Sebastiana segurava sua mão, olhando pela janela com expressão séria.

Ao chegar ao píer, Rafael avistou Lara. Ela estava parada perto da água, abraçando os próprios braços, olhando ao redor com preocupação.

Ele desceu do carro e caminhou até ela.

— Você está me assustando, Rafael. O que está acontecendo?

Ele respirou fundo e começou a contar tudo. Desde seu passado no grupo, as missões, os erros que cometeu e sua tentativa de escapar. Contou sobre o ataque em sua casa naquela noite e sobre como precisou fugir.

Lara ouviu tudo em silêncio. Quando ele terminou, ela suspirou.

— Eu acredito que o amor pode redimir uma pessoa, Rafael. Se você quer se redimir, eu estou com você.

O coração de Rafael acelerou. Ele não merecia aquele apoio, mas queria acreditar que talvez, só talvez, ainda houvesse esperança para ele.

— Eu me apaixonei por você, Lara. Eu não queria, mas aconteceu.

Lara sorriu suavemente.

— Eu também.

Mas o momento foi interrompido pelo som de pneus cantando no asfalto. Rafael olhou para trás e viu os carros pretos chegando.

Sem pensar duas vezes, ele puxou Lara pela cintura e a jogou dentro da lancha.

— Segurem-se! — gritou, ligando o motor.

Dona Sebastiana segurou Eduarda firme, enquanto Lara tentava entender o que estava acontecendo. Os tiros começaram a ecoar enquanto a lancha se afastava rapidamente.

O vento batia forte no rosto de Rafael, mas ele não podia parar. Eles precisavam ir para longe.

Horas depois, já em um local seguro, Lara respirou fundo e olhou para ele.

— Eu não posso ficar. Tenho meu trabalho, minha família... minha vida.

Rafael a encarou com seriedade.

— Não tem mais volta, Lara. Eles te viram. Agora, você também está em perigo.

Ela fechou os olhos por um momento, absorvendo o peso daquelas palavras.

— O que vamos fazer?

Rafael olhou para Dona Sebastiana e Eduarda.

— Vamos lutar. Vou proteger vocês. Com minha vida, se for preciso.

E assim, com o passado os perseguindo e o amor tentando se firmar em meio ao caos, Rafael seguiu em busca de sua Redenção.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!