- Procurei ajuda com um médico que a acompanhou durante a gravidez, tive que lhe dar dinheiro para que ele me contasse a verdade, perguntei-lhe porque é que o aborto tinha sido inicialmente recomendado, ele disse-me que se havia anomalias nas ecografias, que não era mentira o que viu e que se ele realmente tinha visto a malformação, também me revelou que ela pediu o aborto porque lhe iriam pagar por um bebé saudável, e que o bebé que ela estava a carregar vinha com defeito--
- Como é que ela se pôde referir à sua filha como se fosse mercadoria?-- comentei.
- Exatamente, mas devido à minha exigência ela teve de ter a Ana, felizmente a minha menina nasceu bem, só que, como te disse, ela não chorou nem se mexeu quando nasceu, e isso foi muito estranho, mas aproveitei isso para procurar alguém que me desse um parecer, para examinar a minha filha e me dizer o que ela tinha, um neurologista muito conhecido e que se tornou meu amigo, disse-me que ela estava muito bem, que talvez durante a gravidez a Corina tivesse feito coisas que afetaram as emoções da Ana--
- Por isso é que os médicos recomendam que nos cuidemos durante a gravidez, nada de emoções fortes -- comentei.
- Exatamente, mas ela não o fez, o importante é que a Ana nasceu muito bem, mas depois pedi-lhe o favor de me dar um parecer falso, já conhecia os planos dela, era óbvio que se ela descobrisse que a nossa filha estava bem, iria arranjar maneira de a levar e desaparecer com ela-- contou o Gonçalo e eu percebi tudo.
- É por isso que ele age desta forma, quando eu era bebé só o meu pai tomava conta de mim, ele contou-me-- disse a Ana.
- Sim, embora nos primeiros dois meses tenhamos partilhado a custódia, mas era aí que ela chegava com as nódoas negras que te contei, partia-me o coração imaginar o que aquela desalmada estava a fazer à minha filha, por isso denunciei-a e voltei a ganhar-lhe, consegui reunir provas, ela passou alguns meses na prisão por maus-tratos infantis, mas saiu ao pagar uma fiança, depois disso, ela só aparece esporadicamente em casa para perturbar a paz, então quando a Ana cresceu, falei com ela e decidimos continuar com esta encenação --
- Mas por quanto tempo é que pensam continuar com isto, porque é que simplesmente não a enfrentam?-- perguntei.
- Ela tem muito dinheiro, pode aproveitar-se de eu ter de ir trabalhar e magoar a minha filha, sei que estão sempre a cuidar dela, mas mesmo assim não confio em ninguém-- respondeu o Gonçalo.
- Eu confio em si-- disse-me a Ana, segurando a minha mão, eu sorri para ela.
- Obrigado por me dizeres isso, prometo-te que vou ajudar o teu pai a proteger-te-- assegurei-lhe.
- É muito esperta, descobriu muito depressa--
- A Ana deu-me muitas pistas... Além disso, numa ocasião ouvi-vos sem querer, vocês estavam no quarto, vi-a levantar-se da cadeira e caminhar na sua direção, além disso ela estava a falar, fiquei surpreendida, mas era algo que já suspeitava, mas preferi ficar em silêncio, não era o momento oportuno para revelar o que sabia -- disse-lhes.
- Sempre tivemos muito cuidado, mas fico feliz que tenha sido você quem nos descobriu -- disse o Gonçalo.
- Obrigada por confiarem em mim, prometo não vos desiludir-- uma dúvida pairou na minha mente-- Mas ainda tenho uma dúvida, porque é que ela queria vender a sua própria filha? Se ela tem tanto dinheiro, que necessidade teria ela de o fazer?-- Perguntei.
- Tinha a mesma dúvida, mas há alguns meses descobri que ela queria fazer parte de uma organização de tráfico de crianças, ela tinha de dar "algo", ou seja, o seu próprio filho para poder pertencer a esta organização, como eu frustrei os seus planos eles não a aceitaram --
- É inacreditável a maldade daquela mulher, e denunciou essa organização?-- perguntei assustada.
- Denunciei, mas isto é mais obscuro do que se pensa, a corrupção que existe está espalhada por todo o mundo, os próprios governos encarregam-se de encobrir tudo isto, uma vez que recebem dinheiro destas organizações, dei todas as informações que tinha a um amigo que está a investigar tudo isto, mas não há mais nada que eu possa fazer--
- O mundo está cada vez pior -- comentei.
- É por isso que tomámos esta medida, sei que pode parecer cruel o facto de a Ana estar fechada o dia todo, e que tenha mesmo de representar a sua personagem a 100%, mas por enquanto não tenho outra opção --
- E os medicamentos que lhe administram são para quê?-- perguntei.
- São apenas vitaminas, há dias em que as enfermeiras vêm cá, mas não lhe dão nada, fazem-no para não levantar suspeitas, elas têm conhecimento do meu plano-- respondeu-me ele.
- Foi muito meticuloso --
- Tinha de ser, trata-se da minha filha-- salientou.
Terminámos o passeio e voltámos para casa, tudo isto era realmente demasiado, só conseguia pensar em tudo o que ela teve de reprimir só para que a sua própria mãe não lhe fizesse mal.
O resto da tarde continuámos com o itinerário e finalmente levei a Ana para o seu quarto para dormir, certifiquei-me de que fechava bem a porta do seu quarto, ela foi à casa de banho e tomou um duche rápido, depois vestiu o pijama, eu li-lhe uma história e ela adormeceu logo a seguir.
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Na manhã seguinte troquei de turno com a enfermeira que a acompanhava de três em três dias, eu fui para casa, desta vez a Pamela não me pôde ir buscar, por isso fui a pé até à saída do condomínio, passei por um café e comprei uns croissants e dois cafés, depois apanhei um táxi e fui para casa, quando saí a Pamela estava a sair.
- Olá Pam, já vais trabalhar?-- perguntei.
- Olá Ana, sim, levantei-me muito tarde e não tive tempo de preparar o pequeno-almoço-- respondeu-me ela.
- Toma, come no caminho -- disse-lhe enquanto lhe passava o saco com um pão e o café que lhe tinha trazido, ela agradeceu-me, despedimo-nos e ela foi-se embora.
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Atualizado até capítulo 48
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