Capítulo 19

Houve um longo silêncio, eu já estava começando a perder as esperanças.

- Está bem, quando estiver pronta, estarei aqui. - Eu disse enquanto me levantava e ia até o armário para pegar a roupa para aquele dia.

De repente, senti duas mãozinhas rodeando minhas pernas, me segurei na parede para não cair, virei o rosto para ver Ana agarrada às minhas pernas, acariciei sua cabeça, então ela me soltou e eu me abaixei, ali nos abraçamos.

- Você me promete que não vai contar para ninguém? - ela disse.

- Eu prometo, ninguém vai saber. - Ela sorriu. - Mas acho que você precisa me contar muitas coisas. - Eu avisei e ela assentiu.

- Claro que sim, eu vou te contar. - Ela afirmou.

Pela primeira vez, ela entrou no banheiro e se lavou sozinha, quando saiu a ajudei a se vestir, depois ela se sentou na cadeira de rodas e fomos para a sala de jantar tomar café da manhã.

- O senhor saiu mais cedo do que o normal hoje, mas prometeu estar aqui antes do meio-dia, quer levar Ana para almoçar. - Disse Dominga após nos cumprimentar.

- Ok, então a deixarei pronta a tempo. - Eu respondi.

- A senhora também vai com eles, assim que Ana tomar o remédio, vocês vão. - Ela frisou e eu concordei.

Eles trouxeram o café da manhã e eu dei para Ana, quando terminamos fomos cumprir o itinerário, então a enfermeira chegou para dar o remédio para Ana.

- Toc toc! - Bateram na porta e ela se abriu imediatamente, era Gonzalo, que entrou e fechou a porta.

- Papai! - Ana se levantou da cadeira e correu até ele.

Enquanto retribuía o abraço de sua filha, ele olhou para mim, estava realmente surpreso, sorri para ele ao ver sua expressão.

- Não entendo, o que está acontecendo aqui? - Perguntei a Ana.

- Ele já sabe. - Respondeu a menina.

- E como ele descobriu? - Ele perguntou.

- Não me subestime, Sr. Gonzalo, eu mesma percebi. - Eu interrompi seu interrogatório.

- E há quanto tempo você sabe? Você contou para alguém? - Ele perguntou nervoso.

- Desde a primeira vez que a vi, soube que algo era estranho, mas ontem tive certeza, e não, não contei a ninguém, se esse é o seu maior medo. Não sei por que vocês fazem isso, mas suponho que tenham seus motivos e eu não vou ser quem vai estragar o que quer que estejam fazendo. - Eu enfatizei.

- Obrigado. - Disse Gonzalo.

- Não me agradeça, faço isso por Ana. - Eu disse.

- Está bem, mas mesmo assim estou muito grato, prometo que vou te contar tudo. -

- Está bem, e talvez eu possa ajudar. - Comentei e Ana sorriu.

- É, pai, vou passar o dia todo com ela, seria uma boa ideia contar a ela caso a mamãe apareça. - Acrescentou.

Gonzalo ficou pensativo, estava analisando o cenário que sua filhinha havia apresentado.

- Você tem razão... mas, mudando de assunto, vocês já estão prontas?

- Sim, senhor. - Eu disse.

- Ok, então vamos. -

Saímos de casa em direção ao restaurante, ao chegar vimos que ele havia nos trazido a um coreano, sentamos em uma das mesas, no centro havia uma churrasqueira embutida, Gonzalo pediu uma bandeja de carnes, também pediu ramen para cada um, eles trouxeram o pedido e ele começou a assar as peças que eles trouxeram, o aroma era requintado, eu nunca tinha ido a lugares como este.

- Eu não sabia que você gostava de comida coreana. - Eu disse a ele.

- Eu também não, até que um dia vim com um cliente, ele me convidou depois de fecharmos um negócio, adorei e vim aqui várias vezes com Ana, a comida aqui é boa, saudável e muito saborosa. - Finalizou Gonzalo.

Peguei um pedaço de carne que já estava pronto e o sabor era requintado, depois comemos o ramen, os noodles estavam macios e fofinhos, o meu tinha um toque bem sutil de pimenta, mas estava delicioso.

Depois de terminar, ele nos convidou para tomar sorvete, depois fomos passear em um parque que ficava em frente, Ana estava em sua cadeira de rodas, isso me pareceu estranho porque ela continuava atuando, era muito claro que eles estavam escondendo a verdade de todos.

Chegamos a um lugar bastante remoto e solitário e nos sentamos em um dos bancos que havia, Gonzalo limpou a boca da filha e depois olhou para mim.

- Imagino que você esteja se perguntando por que Ana precisa continuar atuando assim.

- Sim, eu estava pensando nisso. - Respondi com sinceridade e ele sorriu.

- Eu entendo, veja, o que acontece é que eu me divorciei da mãe dela quando Ana nasceu, ela sempre quis abortar. - Eu o interrompi.

- Por que você diz essas coisas na frente da sua filha? - Eu expressei.

- Não se preocupe, aquela mulher já me disse coisas piores, além disso, são palavras que saíram da própria boca dela. - Disse Ana com naturalidade.

- É assim mesmo, você não conhece Corina, quando nos divorciamos pedi a guarda de Ana, no começo era compartilhada, revezávamos para ficar com ela, mas depois de um tempo Ana começou a chegar com marcas no corpo, ela era apenas um bebê, eu não tinha como saber o que estava acontecendo; na gravidez da Ana detectaram uma má formação, disseram que o melhor era interromper a gravidez, ela queria, mas através de uma ação judicial que tive que entrar contra ela, ela levou a gravidez até o fim por ordem de um juiz, quando a menina nasceu, a tal má formação não existia, mas Ana não chorava, não reclamava, os médicos ficaram surpresos, mas fizeram exames para saber qual era o problema dela. -

- Mas eu vejo que Ana está muito bem. - Eu disse.

- Exatamente, ela nasceu "normal" como muita gente se refere, mas descobri que Corina havia negociado nossa filha para vendê-la, então tive que recorrer a isso, não me orgulho porque estou brincando com a saúde da minha filha, mas é a única maneira que tenho de protegê-la, Corina não pode saber que minha filha nasceu bem. -

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