Caminhos paralelos

O final de semana passou como um borrão, mas para Aurora, os momentos com Davi no parque permaneceram vivos em sua mente. Ela revivia cada detalhe: o reflexo do pôr do sol no lago, o tom de vulnerabilidade na voz dele, o silêncio que dizia tanto.

Quando a segunda-feira chegou, Aurora sentiu uma mistura de ansiedade e expectativa ao entrar na escola. Mas Davi não estava na sala quando as aulas começaram, e a ausência dele a incomodou mais do que ela gostaria de admitir.

Renata percebeu imediatamente.

— Você tá olhando pra porta desde que chegou. Tá esperando alguém, por acaso? — Renata provocou, com um sorriso malicioso.

— Claro que não. — Aurora respondeu rapidamente, mas a expressão de Renata mostrava que ela não acreditava.

A manhã passou devagar, mas, no intervalo, Aurora finalmente o viu no corredor. Davi estava ao lado de alguns colegas, rindo de algo que disseram. Ele parecia despreocupado, como se o fim de semana não tivesse tido o mesmo impacto para ele.

Aurora hesitou, mas decidiu se aproximar.

— Oi, Davi.

Ele se virou, parecendo surpreso e, ao mesmo tempo, satisfeito em vê-la.

— Oi, Aurora. Como foi o resto do seu final de semana?

Ela deu de ombros, tentando soar casual.

— Tranquilo. E o seu?

— Bem ocupado. Me envolvi com um projeto da minha mãe.

Aurora sabia que ele estava tentando manter a conversa superficial, mas sentiu uma ponta de frustração. Ela queria falar sobre o que havia acontecido entre eles, sobre como ele quase disse algo importante no parque, mas não conseguiu.

— Bom, vejo você na aula. — Ela disse, forçando um sorriso antes de se virar para sair.

Mas Davi a chamou de volta.

— Aurora, espera.

Ela parou, com o coração acelerado.

— O que foi?

Davi parecia prestes a dizer algo, mas parou, olhando ao redor como se tivesse medo de serem ouvidos.

— Você está livre depois da aula?

Aurora o olhou com desconfiança, mas assentiu.

— Sim. Por quê?

— Quero te levar a um lugar.

Ela hesitou, mas a curiosidade acabou vencendo.

— Tudo bem.

Quando as aulas terminaram, Aurora o encontrou esperando por ela no portão. Desta vez, ele a levou até uma biblioteca pública que ficava em um bairro tranquilo. Era um prédio antigo, com janelas altas e um cheiro de livros envelhecidos que preenchia o ar.

— Uma biblioteca? — Aurora perguntou, surpresa.

— Não é só uma biblioteca. — Davi disse, conduzindo-a até uma seção nos fundos.

Era uma sala pequena, com mesas de madeira e paredes cobertas por prateleiras. Havia um silêncio absoluto, interrompido apenas pelo som ocasional de páginas sendo viradas.

— Eu venho aqui quando preciso me concentrar. — Ele explicou, puxando uma cadeira para ela.

Aurora se sentou, observando o ambiente. Havia algo de mágico naquele lugar, uma sensação de que o tempo passava de forma diferente ali.

— E por que me trouxe aqui? — Ela perguntou, genuinamente curiosa.

Davi deu de ombros.

— Achei que você poderia gostar.

Eles passaram algum tempo explorando as estantes. Aurora escolheu um livro de histórias curtas, enquanto Davi parecia fascinado por uma biografia de um autor que ela nunca tinha ouvido falar.

Enquanto lia, Aurora não conseguia evitar lançar olhares furtivos para ele. Havia algo em Davi que a intrigava cada vez mais. Ele parecia carregar um mundo dentro de si, um mundo que ele ainda não estava pronto para compartilhar completamente.

— Aurora.

A voz de Davi a tirou de seus pensamentos.

— Sim?

Ele hesitou por um momento, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas.

— Eu gosto de passar tempo com você.

O comentário a pegou de surpresa. Não era uma declaração romântica, mas havia algo na simplicidade e sinceridade da frase que fez o coração dela bater mais rápido.

— Eu também gosto de passar tempo com você. — Ela respondeu, com um sorriso tímido.

Por um momento, o silêncio voltou, mas desta vez era confortável, quase cúmplice. Aurora sentiu que algo estava mudando entre eles, mas a mudança era lenta, como um rio que escava seu caminho através de uma rocha.

Enquanto caminhavam de volta para casa, Aurora percebeu que, pela primeira vez em muito tempo, ela estava ansiosa pelo que o futuro reservava.

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