No ritmo certo

O som da chuva batendo na janela da sala de aula preenchia o ambiente com uma tranquilidade quase hipnótica. Aurora adorava dias assim, onde o céu nublado parecia combinar com o ritmo dos seus pensamentos. Ela estava sentada no seu lugar habitual, mas sua mente vagava entre o trabalho, as provas que se aproximavam e… Davi.

Nos últimos dias, ela se pegou pensando nele com mais frequência. Não era apenas sobre o projeto ou sobre as conversas que compartilhavam. Era sobre o jeito como ele a fazia se sentir vista, compreendida, e, de certa forma, importante. Era difícil admitir, até para si mesma, mas a proximidade com Davi estava mexendo com ela de uma forma que nenhum outro colega havia feito antes.

Davi entrou na sala com a mochila jogada sobre um ombro e o cabelo um pouco úmido pela chuva. Ele sorriu ao vê-la, um sorriso despreocupado que parecia iluminar o dia cinzento. Aurora desviou o olhar rapidamente, sentindo o rosto esquentar.

— Bom dia, Aurora. — Ele disse, enquanto colocava a mochila na cadeira ao lado da dela.

— Bom dia. — Respondeu ela, tentando soar casual.

— Parece que a chuva não vai dar trégua hoje, hein? — Ele comentou, sentando-se ao seu lado.

— É, mas eu gosto. Dá uma sensação de calma, sabe? — Aurora respondeu, sem olhar diretamente para ele.

Davi concordou com um aceno de cabeça, e, por um momento, os dois ficaram em silêncio, ouvindo o som da chuva. Não era um silêncio desconfortável; na verdade, parecia natural.

— Sabe, estava pensando… — Davi começou, rompendo a pausa. — Sobre o que conversamos outro dia, de sairmos depois que o projeto terminar.

Aurora sentiu o coração acelerar.

— Ah, sim. — Ela respondeu, tentando parecer despreocupada.

— Pensei que seria bom fazer algo simples, tipo tomar um café ou andar pelo parque. Nada demais, só para relaxar um pouco. — Ele disse, olhando para ela com um sorriso tranquilo.

Aurora respirou fundo. A ideia parecia inofensiva, mas, ao mesmo tempo, carregava um peso que ela não sabia explicar. Não era só um passeio casual; era mais um passo em direção a algo que ela ainda não sabia como definir.

— Parece uma boa ideia. — Disse finalmente, oferecendo um sorriso tímido.

Davi pareceu satisfeito com a resposta e mudou o assunto para o trabalho. Eles passaram o resto da aula discutindo os detalhes finais do projeto, mas, mesmo assim, Aurora sentia que havia uma tensão no ar. Não era desconfortável, mas estava lá, como uma melodia de fundo que ela não podia ignorar.

No intervalo, os dois decidiram ficar na biblioteca. O som da chuva continuava, agora misturado com o murmúrio baixo de outros alunos. Eles se sentaram em uma mesa próxima à janela, onde podiam ver as gotas de chuva escorrendo pelo vidro.

— Você já pensou no que vai fazer depois do ensino médio? — Davi perguntou de repente.

Aurora olhou para ele, surpresa pela pergunta.

— Ainda não tenho certeza. Talvez faculdade, mas não sei exatamente o que quero estudar. — Ela respondeu, dando de ombros. — E você?

— Eu também não sei. Às vezes, acho que quero seguir algo mais prático, mas, em outras, penso que poderia tentar algo criativo. — Ele disse, com um sorriso pensativo.

— Algo criativo? Tipo o quê? — Aurora perguntou, curiosa.

— Talvez escrever, ou algo relacionado a design. Sempre gostei de criar coisas. — Ele respondeu, desviando o olhar para a janela.

Aurora ficou surpresa. Nunca imaginara Davi como alguém interessado em algo tão artístico. Era uma faceta dele que ela não conhecia, mas que o tornava ainda mais interessante.

— Acho que você seria bom nisso. — Ela disse, sinceramente.

Davi a olhou, e por um momento, parecia surpreso com o elogio.

— Obrigado. Isso significa muito, vindo de você. — Ele disse, com um sorriso genuíno.

Aurora sentiu o rosto esquentar novamente, mas não respondeu. Em vez disso, voltou a olhar para a chuva, tentando acalmar os pensamentos que insistiam em circular em sua mente.

O dia terminou como qualquer outro, mas, para Aurora, cada momento ao lado de Davi parecia carregar um significado maior. Eles estavam avançando, lentamente, no ritmo certo. E, por mais que ainda existisse incerteza sobre o que viria a seguir, ela começava a aceitar que talvez não precisasse ter todas as respostas agora.

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