Entre reflexos e revelações

O fim de semana chegou como um alívio, mas também trouxe consigo uma inquietação que Aurora não conseguia ignorar. Enquanto folheava distraidamente um livro no sofá de casa, sua mente não parava de revisitar os momentos no café com Davi. Cada sorriso, cada pausa na conversa parecia carregar algo mais profundo.

— Você está com a cabeça nas nuvens ultimamente. — Comentou Renata, que estava jogada no chão, mexendo no celular.

Aurora piscou, voltando à realidade.

— Só estou pensando.

Renata ergueu uma sobrancelha, evidentemente cética.

— Pensando em quem, né?

— Não começa, Renata.

— Tá bom, não vou insistir. Só acho engraçado como você fica meio aérea quando ele está por perto.

Aurora tentou ignorar o comentário, mas era inútil. Renata sempre conseguia arrancar verdades dela, mais cedo ou mais tarde.

— Tá, talvez… talvez ele tenha me mostrado um lado diferente, algo que eu não esperava.

Renata largou o celular, claramente interessada.

— E você gostou do que viu?

Aurora hesitou antes de responder.

— Eu acho que sim.

Renata abriu um sorriso travesso, mas antes que pudesse dizer algo, o telefone de Aurora vibrou. Era uma mensagem de Davi.

— Falando no diabo… — Renata provocou.

Aurora revirou os olhos e abriu a mensagem:

“Aurora, está livre hoje? Quero te levar a outro lugar.”

Aurora sentiu o coração acelerar. Ela digitou uma resposta rápida, dizendo que sim, e Davi combinou de buscá-la em uma hora.

— E então? — Renata perguntou, curiosa.

— Ele quer me levar a algum lugar.

Renata a olhou com expectativa, mas Aurora se levantou antes que ela pudesse fazer mais perguntas.

Davi chegou pontualmente, com seu habitual sorriso discreto.

— Pronta para mais uma aventura? — Ele perguntou.

— Sempre. — Aurora respondeu, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.

Dessa vez, ele a levou até um parque nos arredores da cidade, um lugar tranquilo e quase deserto. O parque tinha um lago, e as árvores ao redor estavam pintadas pelos tons vibrantes do outono.

— É lindo aqui. — Aurora disse, olhando ao redor.

— É um dos meus lugares favoritos. Sempre venho aqui quando preciso pensar.

Eles caminharam lado a lado por um tempo, até encontrarem um banco próximo ao lago. Aurora observava os reflexos das árvores na água enquanto o silêncio confortável se estabelecia entre eles.

— Você sempre escolhe lugares assim. — Aurora comentou.

— Lugares assim?

— Silenciosos, isolados… É como se você fugisse do mundo.

Davi sorriu, mas havia algo melancólico em seu olhar.

— Talvez eu fuja mesmo. Mas é aqui que eu consigo ser eu mesmo, sem expectativas, sem julgamentos.

Aurora sentiu um nó na garganta. Davi sempre parecia tão confiante, mas agora ela podia ver que ele também carregava suas próprias inseguranças.

— Você não precisa fugir, sabia? — Aurora disse, olhando diretamente para ele.

Davi desviou o olhar para o lago.

— Às vezes, é mais fácil assim.

O silêncio voltou, mas dessa vez estava carregado de tensão. Aurora queria dizer algo, mas não sabia por onde começar.

Depois de alguns minutos, Davi se levantou.

— Quero te mostrar uma coisa.

Ele a guiou até uma pequena trilha que levava a um mirante. Quando chegaram lá, a vista era deslumbrante: o lago abaixo refletia o céu tingido pelos tons do pôr do sol, e as árvores ao redor pareciam abraçar o cenário.

— Uau. — Aurora disse, sem conseguir disfarçar o encantamento.

Davi se sentou na beirada do mirante, e Aurora fez o mesmo.

— É aqui que eu venho quando preciso lembrar que o mundo é maior do que os meus problemas.

Aurora sentiu a sinceridade em suas palavras, e pela primeira vez, percebeu o quanto ele confiava nela.

— Obrigada por compartilhar isso comigo.

Davi a olhou, e por um momento seus olhos se encontraram de forma intensa.

— Aurora… — Ele começou, mas parou, como se não tivesse certeza de como continuar.

— O que foi?

— Nada. Só… obrigado por vir.

Aurora sorriu, mas por dentro sabia que ele estava escondendo algo. Mesmo assim, decidiu não pressioná-lo.

Quando voltaram para o carro, o silêncio entre eles era mais pesado, mas também mais significativo. Havia muito sendo dito nas entrelinhas, e Aurora sentia que algo estava prestes a mudar entre eles.

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