Sofia Narrando
Após um longo tempo, a Cris entrou na cozinha e tentava disfarçar sua tristeza a todo custo. Notei que ela estava com o nariz e os olhos avermelhados, como alguém que acabara de chorar, mas decidi disfarçar também e continuar colocando os pratos na mesa.
Alguns minutos depois, o meu irmão entrou também no cômodo e nem sequer olhou na direção da Cristiane, o que deixou ainda mais evidente para mim que algo aconteceu. Percebi que ela se incomodou com a atitude dele e principalmente, pelo fato de ele estar todo arrumado para sair de casa. Pelo jeito a coisa foi séria, pois o meu irmão nunca agiu com indiferença com alguém, pelo menos não na minha frente.
O tempo foi passando e o incômodo dela parecia ter aumentado. Ela olhava o tempo todo para a porta como se esperasse que alguém entrasse por ela, que ELE entrasse por ela. No almoço, ela comeu pouco e estava com os pés e as mãos inquietos. Ela precisa conversar e eu sei disso. Algo a incomoda.
Sem poder mais suportar ver o seu sofrimento, fiz um sinal para que ela me acompanhasse até o meu quarto e assim o fizemos.
Ao chegarmos no recinto, notei que ela estava extremamente abalada e que dava todos os indícios de que iniciaria um choro a qualquer momento, então tranquei a porta, a abracei e deixei ela colocar para fora os seus sentimentos. Nunca a vi tão vulnerável. Assim que ela se acalmou, a encaminhei para a varanda, onde ficaríamos um pouco mais à vontade e não correríamos o risco de alguém nos ouvir.
Sofia: Agora que está um pouco mais calma, me conte o que foi que aconteceu entre você e o meu irmão.
Cris: Como sabe que alguma coisa aconteceu entre nós? Ele te contou?
Sofia: Não, nada disso. Mas eu percebi o seu jeito transtornado desde que voltou de sabe Deus onde você estava e o meu irmão ignorou você completamente quando foi à cozinha. Eu só juntei os pontos. Me conte...
Cris: A verdade é que eu sou uma boba, uma verdadeira idiota. — Ela fala com o olhar perdido e respira profundamente— Passei a vida inteira esperando alguém especial, alguém perfeito, que eu pudesse dar a ele a honra de ser o primeiro a beijar os meus lábios. Eu idealizei tudo na minha cabeça, pensei que seria um momento perfeito, que nos apaixonaríamos e que esse homem seria meu para sempre. Mas eu nunca imaginei que pudesse acontecer o que aconteceu hoje. Jamais imaginei que eu me sentiria tão mal em ter o meu primeiro beijo, não pelo beijo em si, mas sim pelo que veio em seguida.
Sofia: Por favor, me conte o que aconteceu exatamente.
Cris: Eu estava na varanda, olhando para o céu e pensando em tudo o que aconteceu aqui hoje, em como vocês foram generosos e aproveitei para agradecer a Deus e orar pela vida de vocês. Foi quando o seu irmão apareceu ao meu lado e trocamos duas ou três palavras, nada demais. Mas o pior de tudo foi quando ele segurou-me pela nuca e beijou-me. De início, eu fiquei sem reação, mas logo me entreguei e eu não sei te dizer nem por quanto tempo ficamos nos beijando. O problema foi o que veio logo em seguida. Ele usou a seguinte expressão: "O beijo foi bom, mas não se apaixone por mim... Não faço compromissos com ninguém." Não é que eu esperasse que iniciaríamos um namoro logo após o beijo, mas eu não esperava que ele fosse me dizer isso, com um sorriso tão cafajeste quanto as suas palavras. E para piorar a situação, ainda se arruma todo e sai, com certeza para encontrar outra pessoa.
Sofia: Eu não acredito que o meu irmão foi capaz de ser tão insensível. Eu estou sem palavras.
Cris: Amiga, eu sei que ele não me deve nada, não temos o menor compromisso. Eu não esperava e nem espero que ele me peça em namoro ou nada disso. Eu só acreditava que quando o meu primeiro beijo acontecesse, seria com uma pessoa especial e que o momento seria especial. Eu não rejeitei o beijo dele, foi ótimo. O problema foi o que eu coloquei na minha cabeça que aconteceria logo após e que na verdade, foi só um balde de água fria.
Sofia: Olha, eu não sei o que dizer, pois a vontade que eu estou agora, é de ir buscar o meu irmão de onde ele estiver e fazer com que ele se desculpe com você pelo que ele fez. Ele não tem esse direito.
Cris: Sofia, o seu irmão é só um adolescente e, por mais que ele não pareça, ele ainda é só um adolescente. Deixe ele, foi só coisa de momento, o problema aqui sou eu e não ele. Não quero fazer disso um evento ou um escândalo, vamos fazer de conta que nada aconteceu e eu vou seguir a vida. Deixe ele, isso vai passar.
Sofia: Ele te deve nem que seja um pedido de desculpas. Ele não pode agir assim com as pessoas, nem como uma brincadeira. Eu estou assustada porque não conhecia esse lado dele.
Cris: Por favor, não fale nada. Por mim...
Sofia: Ok, mas só porque você está me pedindo.
Após ter dito isso, o meu celular deu sinal de duas notificações. Uma delas era do Cauã e a outra do tal Edu, que começou a me seguir no Instagram ontem. Resolvi abrir a dele primeiro e ele havia feito um comentário na foto que eu postei ontem.
"Linda!"
Foi só isso e eu ignorei completamente. Logo em seguida, abri a do Cauã e o mesmo havia respondido a minha postagem, porém no privado.
"Linda. Sinto a sua falta..."
Respirei fundo e deixei o celular de lado. Ao olhar para frente, Cristiane me encarava com um olhar questionador, como se quisesse entender o que havia acontecido no celular, que me fez ficar um tanto irritada.
Sofia: Eu acho que nunca contei a minha história para você. É sempre tudo tão corrido na faculdade, que nunca tivemos tempo de falarmos sobre esses "por menores" da vida. — Dou uma risada forçada — Eu tive um namorado, ele foi o primeiro e único, fizemos um "compromisso" um com o outro quando eu tinha 12 anos, de que quando crescessemos, iríamos ficar juntos e assim aconteceu. Começamos a namorar no ano passado, assim que eu completei 17 anos. Porém, no final do ano, ele me deu a notícia de que se mudaria para os Estados Unidos para fazer faculdade e eu descobri que não estava incluída nos seus planos.
Cris: Como assim?
Sofia: Ele me contou que iria embora, faltando praticamente poucos dias para a sua partida e não havia nada que eu pudesse fazer. Porém eu resolvi deixar isso de lado e prometemos que jamais perderíamos o contato e que aquilo seria um "até breve" e não uma despedida. Mas não foi assim que ele agiu. Desde que chegou lá, ele passou a ignorar-me completamente e, simplesmente, sempre estava ocupado demais para me mandar que fosse um bom dia ou boa noite. Só que, ao que tudo indica, ele se arrependeu e está me mandando mensagens desde ontem, enviou-me um buquê de flores e chocolates e ele sinceramente acredita que isso é o suficiente por toda a sua ausência.
Cris: Não acredito, que cafajeste ele foi!
Sofia: Eu sofri tanto no início, que precisei fazer terapia por muito tempo. Praticamente precisei fazer uso de remédios controlados por conta das crises de ansiedade que desenvolvi. Eu era extremamente apegada a ele e à família dele, aos irmãos e, simplesmente, todos eles passaram a ignorar-me. No dia que o levamos para o aeroporto, foi a última vez que vi alguém da sua família.
Com o passar do tempo e com a volta do meu pai, tudo foi melhorando, mas parece que ele quer me ver definhando. Porque quando eu começo a viver, me sentir feliz, ele volta e começa a me perturbar a mente novamente.
Cris: Então agora, nós tomaremos uma atitude com essas redes sociais.
Ela pega o meu telefone e começa a mexer rapidamente. Logo ela vira o aparelho na minha direção e mostra o contato para saber se é realmente ele. Só confirmo com a cabeça e ela volta a mexer no celular.
Cris: Pronto. Agora ele não vai mais te perturbar ou saber da sua vida. Pelo menos não por você...
Sofia: O que você fez? — Pego o celular da sua mão rapidamente.
Cris: Só bloqueei ele, algo que você já deveria ter feito há muito tempo.
Olhei para a Cristiane rapidamente, ainda sem acreditar no que ela fez. Desviei o olhar novamente para o aparelho a fim de conferir se era verdade e sim, ela havia feito isso mesmo.
Dei uma risada alta e ela me abraçou apertado, ficamos ali dando apoio uma para a outra, mas logo os pais dela a chamaram para irem embora. Eles darão início à mudança e estou muito feliz com isso.
Me despedi deles, combinando o horário que iremos buscar a minha amiga e o local específico e, quando estávamos na porta de casa, o meu irmão desceu de um carro, onde uma mulher loira o dirigia. Ele se despediu dela com um beijo e veio na minha direção. Apenas dei uma olhada nele, que sorriu disfarçadamente e encarei a minha amiga que já estava dentro do carro e olhava sorrindo para o Sr. João, ignorando completamente a existência do Miguel e o que acabou de acontecer. Daí eles foram embora e nós entramos para a nossa casa.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Lorrainecristinioliveira Oliveira
autora vai ter alguma passagem de tempo ??
2024-11-26
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