Capítulo 16

Cauã Narrando

Os dias têm passado depressa demais. Já estou há um tempo longe do Brasil. Os meses se foram e com eles a minha alegria, não vejo mais graça nas coisas, a felicidade que eu carregava dentro de mim, está indo embora junto com o tempo.

Os meus pais vêm me visitar uma vez por mês pelo menos, mas não sinto que seja o suficiente. Estar longe deles, da minha família, tem sido cada vez mais difícil e doloroso. Alguns dias eu acordo pela madrugada, sonhando que estou em casa, com eles, mas logo em seguida vejo que tudo não passou de um sonho.

Nos últimos dias, tenho sonhado muito com a Sofia, tenho pensado cada vez mais nela, mas eu me afastei e foi escolha própria. Eu decidi ficar distante dela, pois eu não queria sofrer com a saudade, mas vejo que foi a pior decisão que tomei, pois agora, tenho que lidar também com a sua frieza e eu não a julgo por isso, fui eu quem agi assim e fiz o que eu prometi não fazer.

Hoje é o aniversário dela e eu liguei para a minha mãe para me ajudar a encontrar um  presente para dar a ela. Então, ela deu a ideia de enviar uma cesta de guloseimas e um buquê de rosas, pois segundo ela, toda mulher ama e eu sei que a Sofia é uma delas. Porém, na nossa atual situação, não sei se isso será uma verdade.

Estava sentado no sofá da sala, quando ouço o som do meu celular, me dispersando dos meus pensamentos. Vejo a mensagem da minha mãe, que avisava que o presente já havia sido entregue e então, resolvo enviar uma mensagem para a Sofia, a fim de saber se ela "gostou" do presente, mas tudo o que eu recebo de volta, é a sua frieza e indiferença.

O meu coração ficou despedaçado e eu não estou sabendo lidar com nada do que vem acontecendo nos últimos dias, venho tendo algumas crises de pânico ultimamente. Os meus pais têm ficado mais aqui comigo, justamente por perceberem que eu não estou bem psicologicamente.

Deixo o meu telefone de lado, ao perceber o meu pai entrando pela porta do meu quarto, não sabia que ele já havia chegado.

Rick: Oi, meu amor! Como você está? — Ele sabe que hoje é o aniversário da Sofia e veio para cá justamente por isso.

Fiz um enorme esforço e me levantei abraçando-o bem apertado. A minha mente está conturbada, o meu coração está sangrando e eu não sei mais o que fazer para mudar essa situação. A vontade que eu tenho, é de jogar a toalha, abandonar tudo e voltar para lá. Às vezes me sinto arrependido por ter vindo viver esse sonho, mas no fundo eu sei que esse não é o problema.

Cauã: Ela está me tratando com indiferença. Mal me agradeceu pelo presente, nem disse se gostou ou não.

Rick: Não quero fazer você sofrer mais, meu filho, mas você sabe que esse é o resultado das suas próprias atitudes, certo?

Olhei para ele e senti o nó se formar na minha garganta. Não dá para negar, eu fui um idiota e agi de maneira precipitada mais uma vez. A única coisa que ela me pediu, foi para não me afastar dela, manter a nossa amizade, mas me afastar foi a primeira coisa que eu fiz tentando não sofrer, contudo só restou o sofrimento para os dois lados.

Cauã: Eu sei, pensei que estaria me poupando de um sofrimento maior, mas tudo o que vem acontecendo agora, é apenas dor e sofrimento. — Volto a me sentar na cama com as duas mãos na cabeça e sinto as lágrimas se formando nos meus olhos.

Rick: Isso se chama imaturidade, meu filho. Você não consegue bloquear os sentimentos por alguém, somente se afastando dela. — Ele se senta ao meu lado e pousa a sua mão no meu ombro esquerdo. — Eu passei por isso com a sua mãe no nosso início e eu sofri muito pelo afastamento dela e acabei a machucando também. Pensei que se não ficasse perto dela, o sentimento morreria e ficaria tudo bem, pensei que você não sofreria, mas eu só me machuquei, machuquei a você e a sua mãe por pensar assim.

Me recordo dessa época, eu estava doente, fiquei internado por muitos dias por conta de uma cirurgia de apendicite aguda e quase morri. Nesse período, a minha mãe ainda não era namorada do meu pai, mas já existia um sentimento entre ambos.

Cauã: E agora eu tenho que lidar com a indiferença dela comigo. Como eu fui burro! — Puxo os meus cabelos e o meu pai segura a minha mão para eu não continuar a me machucar.

Rick: Fazer isso não ajuda em nada. Sabe disso... Você vai superar, daqui um tempo será o seu aniversário de dezoito. O que vai querer?! — Fala mudando de assunto.

Cauã: Não sei ao certo ainda, mas quero todos vocês aqui comigo. Estou sentindo falta dos meus irmãos.

Rick: Seu pedido é uma ordem!

Cauã: A minha mãe e os meus irmãos não vêm mesmo? — Falo esperançoso.

Outro arrependimento que tenho é ter me afastado dos meus irmãos, sendo ainda tão pequenos. E a Eloah?! Eu escolhi me afastar de tudo e de todos por um sonho que eu nem sei ainda se dará certo no futuro.

Rick: Seus irmãos ficaram doentes, filho. Quase que eu mesmo não consigo vir, mas jamais deixaria você aqui sozinho num momento tão complicado.

Cauã: Obrigada, pai! Eu te amo. Sinto falta de vocês diariamente.

Rick: Nós também, filho, mas logo tudo isso passará. Pensemos positivo!

Conversamos por mais um tempo e eu comecei a me sentir melhor. O horário do jantar chegou e nós fomos para a mesa, os caras chegaram em casa e se juntaram a nós.

Mais tarde, naquele mesmo dia, estava deitado no meu quarto vendo algumas coisas no Instagram e vi uma foto da Sofia, uma postagem que a Ju fez sobre o aniversário dela.

Me peguei viajando naquela fotografia e me lembrando dos momentos que tivemos juntos desde o início da nossa adolescência, o nosso primeiro beijo... É impossível não pensar nela. O medo de que ela conheça outra pessoa, se apaixone novamente. Tenho receio de que ela me esqueça para sempre e não reste mais nada de nós dois.

Fiquei por tanto tempo naquela situação, que quando percebi, já estava chorando de novo. Afinal, isso é a única coisa que tenho feito ultimamente.

No dia seguinte, acordei tarde, já passava do meio dia. Não sei bem a que horas eu consegui dormir, pois fiquei nas redes sociais, vagando, pensando e tentando ver o que ela fez em comemoração ao seu aniversário.

Ao abrir os olhos, uma fortes dor de cabeça me atingiu, era insuportável. Mas mesmo assim, peguei o meu celular, abri as minhas redes sociais e procurei pelos seu contato no WhatsApp, mas dessa vez, a foto havia desaparecido.

Sentei-me rapidamente na cama e procurei pelos Instagram, nada encontrei. Fiquei com o coração acelerado, parecia que iria explodir a qualquer momento. Ela me bloqueou nas duas redes e isso marca verdadeiramente o nosso fim.

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