Capítulo 8

Sofia Narrando

Os dias passaram rápido demais e, amanhã, já é o dia da viagem de Cauã. Eu passei a madrugada chorando, com muita tristeza dentro de mim pela sua partida, mas sei que devo apoiá-lo nesse momento.

Não sei quando e nem se algum dia nos veremos novamente, mas prefiro nutrir essa esperança e fazer dos próximos dias, os melhores que eu puder para mim mesma.

Preciso seguir a minha vida, o meu caminho, sei que ele ficará feliz por mim também.

Essa semana ainda terei a resposta sobre a minha inscrição no curso de medicina. Me inscrevi para as Federais de Curitiba, São Paulo e do Rio de Janeiro.

O meu pai ficou morrendo de orgulho por eu querer seguir os seus passos. Me apoiou e aconselhou muito sobre essa decisão, mas isso é algo que bate forte dentro de mim, há muito tempo. Não tem como ser diferente, ainda mais com um grande exemplo como ele.

Estava sentada no computador, estudando alguns textos sobre medicina pediátrica, amo essa área, creio que seguirei por esse caminho. Então, a porta do meu quarto foi aberta e por ela passou o Cauã, com uma sacola de papel na mão e o semblante entristecido, que tem feito parte dos nossos últimos dias.

Sofia: Oi, amor!

Cauã: Oi, linda! Vim ver você mais cedo hoje, quero ficar um pouco mais de tempo com você.

Sofia: Então venha, vamos deitar na cama e ficar grudadinhos um pouco.

Ele mal esperou, já me puxou e deitamos juntos na cama. Senti que ele estava tenso, enrijecido, parecia travado.

Sofia: O que aconteceu? — Levanto o rosto, olhando na sua direção e observei a lágrima escorrendo dos seus olhos.

Cauã: Não queria precisar me afastar de você.

Sofia: Eu também não queria, mas é necessário, é o seu sonho. Você será o melhor profissional na sua área e eu também serei. Daqui a alguns anos, pensaremos diferente de agora. Sentiremos muitas saudades, mas conforme for passando, nós nos acostumaremos. Agora, só precisamos aceitar.

Cauã: Não queria precisar me acostumar com a sua ausência. Queria que pudesse ir comigo.

Sofia: O tempo passará rápido. Vamos pensar positivo.

Cauã: Você está sendo otimista demais.

Sofia: Só não quero que sofra tanto, estou tentando ser positiva. — Nesse momento, as lágrimas que eu me esforçava em segurar, rolaram com força pelo meu rosto.

Cauã: Me desculpe, eu só estou sofrendo e parece que a ficha caiu agora. Serão muitos anos afastados, tenho medo disso.

Sofia: Eu também tenho, mas não está na hora de pensar nisso. Manteremos contato, mesmo que não seja a mesma coisa, estaremos sempre juntos, no pensamento e no coração. Quando sentir saudades, olhe para o céu e se lembre que mesmo com tanta distância, estaremos sempre juntos, no coração um do outro.

Cauã: Eu comprei uma coisa e gostaria de dividir com você. — Ele seca o rosto, pega a sacola de papel e tira uma caixinha de dentro — Quero que independente de qualquer coisa, sempre use isso, eu usarei também.

Era um pingente de coração rosa e o dele era um pingente azul. Colocamos no pescoço um do outro e eu senti o meu coração quentinho naquele momento.

Cada vez essa despedida fica ainda mais difícil. Se eu pudesse, sequestraria ele, não o deixaria ir, o obrigaria a ficar, mas não posso.

Ficamos em silêncio por um tempo, abraçados, forçando-nos a aceitar aquela situação. Acabamos por dormir um pouco, acordamos com o toque do telefone dele, avisando que a noite havia chegado e era o meu sogro quem ligava, provavelmente preocupado pelo seu "sumiço".

Ele atendeu rapidamente e logo desligou.

Cauã: Eu preciso ir. Vamos dormir comigo? Depois do aeroporto, os meus pais trazem você para casa.

Sofia: Vou só avisar à minha mãe.

Assim o fiz e logo ele se despediu dela e do meu irmão com um abraço forte e a promessa de um dia retornar.

Chegamos à sua casa e fomos aproveitar um pouco a família dele juntos. Comemos, assistimos filmes juntos, brincamos com os seus irmãos, ficamos de preguiça na sala e nos arrumamos para dormir.

Como sempre, fizemos um amor gostoso, nada demorado ou muito barulhento, mas precisávamos daquela despedida e assim foi.

Dormimos tarde e muito cansados para o dia seguinte.

No dia seguinte... 🍃

Acordamos por volta das 9h, ajudei o Cauã a terminar de organizar as suas coisas e descemos para tomar o café da manhã em família.

O voo sai em duas horas, então aproveitamos juntos por mais um tempo e depois fomos para o aeroporto. Rick viajará junto com ele para instalá-lo no local e voltará em dois dias.

Quando estávamos saindo, o Paulo, a Bianca e as crianças chegaram juntos dos outros tios e dos avós dele. Foi aquela comoção e despedida em clima de velório.

Ao chegarmos no aeroporto, o meu coração estava disparado, mal conseguia respirar, queria chorar, mas precisava segurar a onda. Carolina estava sofrendo muito como mãe, eu não queria fazer uma cena na frente de todos.

Segurei a sua mão com um pouco mais de força e o mesmo olhou-me com compreensão. Ele acariciou o meu rosto e sorriu fraco, deu-me um beijo demorado, abraçou o meu corpo e eu não pude mais segurar as minhas lágrimas.

Foi assim com todos os outros, a cada abraço, era uma sessão de choro e tristeza. Mas, ao mesmo tempo, estávamos felizes pela sua conquista. A dor da separação é inevitável, mas o amor e o orgulho nesse momento, falam mais alto.

E lá foi ele, atravessar a porta que dava acesso ao jatinho particular. O seu pai o abraçava, mas antes de passar pela porta, ele virou-se e deu o seu último sorriso na nossa direção, sumindo por ela logo em seguida.

Virei-me e coloquei as mãos sobre o rosto. Não pude mais suportar, chorei mais que uma criança ao perder o seu brinquedo favorito.

A Bianca, veio até mim e me abraçou apertado, passando toda a confiança que poderia naquele momento. Paulo também está sofrendo, na verdade, todos nós estamos.

Dona Marília e o senhor Roberto, estão inconsoláveis. O tio Lucas e a tia Luna estão abraçando a Carol. A dona Clara e o senhor Luiz, parecem estar em choque, absorvendo o momento e ao mesmo tempo, tentam dar apoio à filha.

Cauã fará muita falta a todos nós, mas principalmente para eles.

Que esses anos passem o mais depressa possível!

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