Lembranças que Me Restaram

Gabrielly havia conquistado a tão sonhada segunda chance. O desfile foi um sucesso estrondoso, e as portas do mundo da moda se abriram para ela como nunca antes. No entanto, enquanto o brilho da nova vida iluminava seu caminho, uma sombra persistente pairava sobre sua alma. Embora ela estivesse em meio a festas glamourosas e elogios entusiasmados, um vazio imenso se instalava em seu coração.

Os dias seguintes ao desfile eram uma montanha-russa de emoções. Gabrielly se via cercada por fotógrafos, estilistas e outros modelos, todos celebrando seu sucesso. Mas, por trás do sorriso radiante e da postura confiante, ela se sentia perdida. As luzes brilhantes e o glamour da indústria da moda pareciam ter uma qualidade efêmera, como se o brilho fosse apenas uma fachada, escondendo a dor que ela carregava.

Nas noites silenciosas de seu quarto, quando a cidade se aquietava e os ecos da vida noturna desapareciam, as memórias de sua mãe a assombravam. Gabrielly se lembrava dos dias em que passavam juntas, sonhando sobre o futuro. Sua mãe sempre a encorajou, dizendo: “Nunca desista dos seus sonhos.” Aquela frase ressoava em sua mente como um mantra, mas agora, em vez de ser uma fonte de motivação, tornava-se um lembrete doloroso da escolha que fizera: deixar sua mãe para trás em busca de um sonho que, em muitos momentos, parecia não valer a pena.

“Se eu tivesse ficado, será que ela ainda estaria aqui?” Gabrielly pensava frequentemente, sentindo o peso dessa culpa esmagá-la. Ela tentava enterrar esses pensamentos, mas, à medida que o sucesso se acumulava, a culpa também crescia. Era como se o brilho de sua nova vida apenas intensificasse a escuridão de suas lembranças.

Naquelas noites solitárias, as imagens de sua mãe surgiam em sua mente como flashes de um filme que nunca poderia ser assistido novamente. Lembrava-se de seu sorriso caloroso, da maneira como sua mãe a encorajava a ser confiante, a se amar. Cada risada compartilhada, cada sonho sonhado juntas, agora era um eco distante, doloroso e agridoce. Gabrielly se via revisitando aqueles momentos, absorvendo a alegria que uma vez sentira, mas também a perda avassaladora que agora a acompanhava.

Sentada em seu quarto, cercada por roupas de grife que pareciam tão vazias quanto seu coração, ela refletiu sobre o que realmente havia conquistado. A vida de modelo parecia deslumbrante aos olhos dos outros, mas para Gabrielly, era uma luta constante contra o vazio que a consumia. "Eu não sou digna disso," ela murmurou para si mesma, enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. “Eu deixei minha mãe. Eu deveria estar com ela.”

Era uma batalha interna, e a cada elogio que recebia, Gabrielly sentia que o peso da culpa aumentava. Cada flash de câmera, cada palavra de admiração, parecia uma lembrança de que sua mãe não estava ali para compartilhar aquele momento. "Ela se foi, e eu estou aqui, como se tudo estivesse bem," pensou, enquanto a dor de sua ausência a consumia.

Naquelas horas de solidão, Gabrielly começou a entender que o vazio que sentia não era apenas a ausência física de sua mãe, mas a falta de conexão com sua própria identidade. A modelo que todos admiravam era apenas uma parte dela, mas a mulher que sonhava e lutava estava perdida em meio a esse novo mundo. "Quem sou eu agora?" ela questionou, sentindo-se mais confusa do que nunca.

Era um eco interminável de lembranças, e enquanto caminhava pelas ruas iluminadas da cidade, Gabrielly se sentia desconectada da vida ao seu redor. As pessoas passavam por ela, rindo e conversando, mas ela se sentia como uma espectadora, incapaz de se envolver. O mundo da moda, que antes parecia tão vibrante, agora a sufocava com suas expectativas e superficialidades.

Então, em um momento de fraqueza, ela se permitiu lembrar de sua mãe com um pouco mais de ternura. Lembrou-se de como sua mãe sempre acreditou em sua capacidade de brilhar. "Eu queria que você estivesse aqui, mãe," ela sussurrou para o vento, desejando que, de alguma forma, sua mãe pudesse sentir seu amor e seu arrependimento.

O vazio dentro de Gabrielly era profundo, mas, naquele instante, ela decidiu que precisava enfrentar suas lembranças, transformar a dor em força. “Eu preciso fazer isso por você, mãe,” ela prometeu, enquanto a determinação começava a substituir a culpa que a prendia. “Eu não posso deixar que isso me defina. Preciso honrar você, e isso significa viver plenamente.”

Embora o caminho à frente fosse incerto e repleto de desafios, Gabrielly percebeu que tinha o poder de moldar sua própria história. Com cada passo que dava, ela se lembrava de que, mesmo em meio à dor, ainda havia amor, e isso seria sua força. As lembranças que a assombravam também poderiam ser uma fonte de inspiração. E, com isso em mente, ela se levantou e começou a dar passos em direção à vida que queria, não apenas como modelo, mas como a mulher que sua mãe sempre soube que ela poderia ser.

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Comments

Monica Da Costa Raposo

Monica Da Costa Raposo

adorando cada capítulo parabéns autora

2024-10-23

4

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