Gabrielly sentia o peso das últimas semanas sufocando-a como uma sombra constante. O diagnóstico de sua mãe chegou como um baque irreversível. "Uma doença rara", explicou o médico, em um tom comedido e técnico, como se aquelas palavras não tivessem o poder de despedaçar seu mundo. Inicialmente, ela tentou se manter forte, mas a realidade se instalava com uma crueldade lenta e implacável. Cada visita ao hospital, cada exame, desenhava uma nova camada de medo no coração de Gabrielly. Sua mãe, antes uma mulher vibrante, cheia de vida, agora parecia cada vez mais frágil, como uma flor desbotando com o passar dos dias. Os risos e as conversas rotineiras foram substituídos por silêncios pesados, intercalados por trocas de olhares que carregavam uma dor que as palavras nunca poderiam descrever.
As manhãs eram preenchidas com a leve tensão de cuidados diários — a medicação, as consultas, a espera por respostas que nunca pareciam trazer alívio. E à noite, quando Gabrielly se recolhia em seu quarto, sentia-se afogada em uma angústia profunda e solitária. Ela sabia que sua mãe estava em uma batalha dura, mas Gabrielly também lutava com seus próprios demônios. O tempo não parava. A vida, com sua indiferença brutal, continuava a girar ao seu redor, forçando-a a confrontar outras decisões que, de alguma forma, pareciam cruéis em comparação com a doença de sua mãe.
Larissa, sua melhor amiga desde os tempos de escola, estava prestes a partir para o exterior. Era um sonho que ambas alimentavam por anos — a possibilidade de estudar fora, conhecer o mundo. Mas agora, esse sonho era apenas de Larissa. Gabrielly, atolada em responsabilidades e dilemas, sentia-se como se estivesse sendo deixada para trás. Em uma tarde ensolarada, elas se encontraram para um café. O clima era contraditório: o céu brilhava, mas dentro de Gabrielly, as nuvens pareciam se amontoar.
— É uma oportunidade única, Gabi — disse Larissa, com aquele brilho nos olhos que Gabrielly conhecia tão bem. — E você sabe que eu vou sentir sua falta todos os dias, né?
Gabrielly sorriu, ou ao menos tentou. Ela sabia que devia estar feliz pela amiga, que este era o sonho de Larissa, mas, por dentro, uma parte de si se rompia. O nó na garganta se apertava cada vez mais. Larissa estava se movendo em direção ao futuro, enquanto Gabrielly se sentia presa, afundando em uma areia movediça de incertezas.
E então havia a proposta de carreira. O convite para modelar nos Estados Unidos apareceu como um raio em meio à escuridão. Era uma chance única, o tipo de oferta que poderia redefinir sua trajetória de vida. As agências prometiam contratos, passarelas internacionais, uma carreira que muitos só poderiam sonhar. Contudo, a decisão pesava de forma inimaginável. Aceitar significava deixar sua mãe, sua vida, seu porto seguro. Como poderia sequer pensar em embarcar para um novo mundo enquanto sua mãe enfrentava uma batalha tão árdua contra a doença?
À noite, Gabrielly rolava na cama, encarando o teto. O peso da decisão tirava seu sono. Por um lado, a culpa a consumia. Como poderia pensar em algo tão grandioso e egoísta quando sua mãe precisava tanto dela? Por outro lado, havia o medo de perder uma chance irrecuperável, de olhar para trás em alguns anos e se arrepender por não ter dado esse salto. Era como se seu coração estivesse sendo puxado em direções opostas, cada escolha prometendo tanto uma realização quanto uma perda irreparável.
No entanto, no meio do caos, surgiu uma clareza inesperada. Gabrielly compreendeu que sua vida não poderia ser pausada indefinidamente. Sua mãe sempre lhe ensinara a lutar por seus sonhos, a não ter medo do desconhecido. E naquele momento, Gabrielly decidiu que precisava honrar esse ensinamento, por mais doloroso que fosse.
Na manhã seguinte, o céu estava nublado, refletindo o turbilhão de emoções dentro de Gabrielly. Ela entrou na sala onde sua mãe descansava na poltrona, com uma manta sobre os ombros. Apesar do cansaço evidente, havia uma serenidade no olhar dela que confortava Gabrielly.
— Mãe... — começou Gabrielly, a voz trêmula. — Eu... recebi uma oferta. Vou para os Estados Unidos.
A mãe ergueu os olhos, demorando um momento antes de responder. Havia uma ternura ali, um entendimento profundo.
— Eu sabia que você iria — disse, com uma voz suave, mas firme. — E eu estou tão orgulhosa de você, minha filha. Você precisa viver sua vida, não deixe que nada a segure. Nem mesmo isso.
Gabrielly tentou conter as lágrimas, mas elas vieram em uma enxurrada. Ela se ajoelhou ao lado da poltrona, abraçando sua mãe com uma força que tentava captar todos os sentimentos que as palavras não conseguiam expressar. O calor daquele abraço foi reconfortante, mas também sinalizou o início de uma separação que Gabrielly sabia que seria uma das mais difíceis de sua vida.
Larissa partiu dias depois, e o vazio de sua ausência só amplificou a realidade iminente. Gabrielly, agora sozinha, se preparava para sua própria jornada. Ela se sentia como se estivesse à beira de um precipício, prestes a saltar para o desconhecido. A dor de deixar para trás aqueles que amava era esmagadora, mas, ao mesmo tempo, havia um vislumbre de esperança — uma promessa de crescimento, de descoberta, de uma nova vida.
E então, Gabrielly compreendeu. Não se tratava de deixar o passado para trás, mas de levar consigo tudo o que aprendera e enfrentara. Ela carregaria o amor de sua mãe, a amizade de Larissa, e todas as lições que a vida lhe dera. Era hora de avançar, de encontrar quem ela era em meio ao desconhecido. E, mesmo com o medo e a dor, Gabrielly estava finalmente pronta para enfrentar o futuro.
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Atualizado até capítulo 44
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