capítulo 14

No dia seguinte, Bianca acordou com o coração um pouco mais leve, mas ainda sentia uma certa ansiedade em relação à conversa da noite anterior. Ela sabia que as coisas entre ela e Otávio tinham mudado, mas não sabia até que ponto isso afetaria a relação profissional que mantinham. O medo de perder o emprego ainda pairava sobre ela, mas a ideia de que Otávio poderia estar disposto a algo mais a confortava um pouco.

Bianca seguiu sua rotina de cuidar de Helena, que como sempre, foi receptiva e carinhosa. Enquanto ajudava a pequena a se arrumar para o dia, ela tentava afastar os pensamentos sobre Otávio e focar apenas em seu trabalho. Contudo, era impossível não pensar nele, especialmente após o beijo e a conversa que tiveram.

Na cozinha, Bianca preparava o café da manhã quando ouviu passos descendo a escada. Seu coração acelerou ao perceber que era Otávio. Ele entrou na cozinha com um sorriso leve, mas havia algo diferente em seu comportamento. Ele parecia mais relaxado, menos tenso do que nos últimos dias.

— Bom dia — disse ele, sua voz gentil enquanto se aproximava da mesa.

— Bom dia — respondeu Bianca, tentando manter a compostura.

Eles compartilharam um momento de silêncio confortável enquanto ela colocava o café na mesa. Helena, sempre animada pela manhã, falava sobre seus brinquedos e as coisas que queria fazer durante o dia, quebrando o clima de tensão entre os dois adultos.

Depois de uma breve refeição, Otávio se levantou para se preparar para o trabalho. Ele olhou para Bianca antes de subir as escadas e, com um tom mais suave, falou:

— Precisamos continuar aquela conversa, Bianca. Mas, sem pressa. Eu só... eu quero que saiba que nada mudou no que diz respeito ao seu trabalho. Você está fazendo um ótimo trabalho com Helena.

Bianca sorriu, sentindo um alívio imediato. Aquela pequena afirmação foi suficiente para afastar seu maior medo: perder o emprego.

— Obrigada, Otávio — ela respondeu, grata. — Eu também acho que precisamos falar mais sobre... tudo isso.

Otávio assentiu, e antes de se virar para subir as escadas, ele a olhou de uma forma que fez o coração de Bianca acelerar novamente. Havia algo diferente em seu olhar, um misto de admiração e uma faísca de desejo, que ele não conseguia mais esconder.

Enquanto ele se preparava para sair, Bianca ficou na cozinha com Helena, tentando acalmar seu coração. Quando Otávio desceu as escadas, já pronto para ir, ele se despediu com um beijo suave na testa da filha e lançou um último olhar para Bianca.

— Nos vemos mais tarde — disse ele, com uma voz baixa, mas carregada de significado.

— Até mais tarde — Bianca respondeu, sentindo as bochechas esquentarem.

Otávio saiu, deixando Bianca com pensamentos misturados e um novo medo surgindo: ela sabia que, eventualmente, teriam que lidar com os sentimentos que estavam crescendo entre eles. Porém, naquele momento, ela decidiu focar em seu trabalho e na pequena Helena, que a puxava pela mão, ansiosa para brincar.

Ao longo do dia, Bianca se dedicou totalmente a Helena, mas de vez em quando seus pensamentos voltavam para Otávio. O que mais poderiam conversar? Como seria enfrentar essa nova dinâmica que surgia entre eles?

Quando chegou a tarde, enquanto colocava Helena para tirar uma soneca, Bianca finalmente teve um momento de descanso. Ela sentou-se no sofá da sala e começou a refletir sobre o que poderia acontecer a partir dali. Mal sabia ela que Otávio, no escritório, também estava pensando nela. Ele estava lutando com seus próprios sentimentos e, apesar de seus medos, começava a aceitar que, talvez, estivesse pronto para tentar algo novo, algo que envolvia Bianca.

Mas, por enquanto, ambos estavam navegando em águas incertas, tentando entender até onde esses novos sentimentos os levariam.

Naquela tarde, Otávio decidiu encurtar seu expediente no escritório. A rotina na empresa estava desgastante, e depois dos acontecimentos recentes, ele precisava passar mais tempo com Helena e tentar, de alguma forma, recuperar o equilíbrio emocional. Ao chegar em casa, foi recebido pelo riso alegre de sua filha, que brincava com Bianca na sala.

— "Papai!" Helena gritou, correndo para os braços dele, e Otávio se abaixou para recebê-la com um abraço caloroso. Aquele simples gesto aliviou parte da tensão que ele carregava.

Bianca, sempre atenta, observou a cena com um sorriso no rosto. Ela estava feliz por ver como Otávio fazia questão de ser presente na vida da filha, mesmo com o peso de tantas responsabilidades.

— "Decidiu tirar um tempo mais cedo hoje?" Bianca perguntou, enquanto ajeitava os brinquedos espalhados pela sala.

— "Sim, senti que precisava estar aqui," ele respondeu, olhando rapidamente para Bianca, antes de voltar sua atenção para Helena. "O trabalho pode esperar."

Eles passaram a tarde juntos, com Otávio brincando com Helena e Bianca ao lado, ajudando e interagindo como de costume. No entanto, conforme a noite se aproximava, Helena começou a demonstrar sinais de cansaço. Bianca, percebendo que a pequena estava com sono, sugeriu que era hora de colocá-la na cama. Com toda a delicadeza, deu um banho em Helena e a preparou para dormir. Logo, a menina estava tranquila, adormecida no quarto.

Depois de assegurar que Helena estava confortável, Bianca saiu do quarto silenciosamente, e ao descer as escadas, encontrou Otávio esperando por ela na sala.

— "Bianca, você pode se sentar um pouco? Gostaria de conversar," ele pediu, apontando para o sofá ao seu lado.

Bianca, sentindo uma leve tensão no ar, assentiu e sentou-se, curiosa sobre o que ele queria falar. Porém, assim que ela se acomodou, percebeu que havia algo diferente no olhar de Otávio. Ele parecia nervoso, mas havia uma intensidade ali, algo que ela já tinha percebido antes, mas agora estava mais evidente.

— "Sobre o que você quer falar?" ela perguntou, tentando parecer descontraída.

Otávio hesitou por um segundo, os olhos dela presos nos dele. Ele sabia que precisava conversar sobre o que havia acontecido entre eles, mas ao invés de palavras, o desejo falou mais alto. Ele não conseguiu mais segurar seus sentimentos e, antes que pudesse racionalizar, inclinou-se para ela, seus olhos presos nos lábios dela.

— "Eu sinto falta dos seus lábios," ele disse baixinho, a voz rouca e carregada de emoções que ele não podia mais reprimir.

Sem esperar resposta, ele a beijou novamente. Dessa vez, o beijo foi mais intenso, carregado de desejo e uma necessidade que ele não conseguia mais esconder. Bianca ficou paralisada por um momento, o coração acelerado enquanto o beijo a envolvia. Ela sabia que aquilo era errado de tantas formas, mas a maneira como ele a segurava, a intensidade daquele momento, a fez fraquejar novamente.

Porém, diferente da primeira vez, Bianca não resistiu de imediato. Ela retribuiu o beijo, sentindo a sinceridade nos gestos de Otávio, mas, ao mesmo tempo, sua mente estava em conflito. O que estava acontecendo entre eles? Isso poderia realmente funcionar?

Quando os lábios finalmente se separaram, Bianca estava sem palavras, e Otávio a olhou com um misto de arrependimento e necessidade.

— "Desculpa," ele murmurou, sua respiração pesada. "Eu simplesmente... não consigo evitar. Desde aquele dia, não paro de pensar em você."

Bianca o encarou, seu coração ainda batendo rápido. Ela sabia que havia sentimentos crescendo ali, mas tudo era tão complicado, tão incerto. Como ela deveria reagir? Mais uma vez, estava presa entre seus próprios desejos e o medo de cruzar limites que poderiam machucá-los no futuro.

— "Otávio..." ela começou, mas as palavras faltaram.

Ele a interrompeu suavemente, passando a mão pelo rosto dela.

— "Não precisa dizer nada agora, Bianca. Eu só... eu precisava que você soubesse o que sinto."

Bianca se levantou, confusa e tentando organizar seus pensamentos. Ela sabia que precisava de um tempo para processar tudo aquilo, mas, ao mesmo tempo, não podia ignorar o que havia entre eles.

— "Eu... vou subir. Preciso de um tempo para pensar," ela disse suavemente, olhando para ele antes de se afastar, o deixando com seus próprios pensamentos tumultuados.

Otávio a observou enquanto ela subia as escadas, percebendo que, mais uma vez, havia cruzado uma linha que talvez fosse impossível de voltar atrás.

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