Capítulo 2: O Beijo da Traição

O relógio marcava 16h30 quando Otávio Martins, cansado de uma reunião que parecia não ter fim, olhou pela grande janela de sua sala e tomou uma decisão rara: iria para casa mais cedo,nos últimos meses, ele mal tinha tempo para si mesmo,como empresário, liderar uma empresa de sucesso era exaustivo, mas ele não se importava,tudo o que fazia era por sua família,era por Helena, e até então, acreditava que também era por Lúcia sua esposa.

Desligando o computador e recolhendo seus pertences, Otávio sentiu uma pequena onda de entusiasmo. “Talvez consiga surpreendê-las,” pensou, referindo-se a Helena e sua Lúcia,era raro ele ter a oportunidade de sair cedo do trabalho, e estar com as duas era sempre seu momento de paz.

No caminho de volta para casa, a ansiedade por vê-las foi crescendo,ele imaginava Helena correndo para os braços dele, com seu sorriso doce, e sua esposa preparando algo especial,talvez fosse apenas uma noite comum, mas ainda assim, para Otávio, o tempo em família era o que realmente importava.

Assim que estacionou o carro, notou que a casa estava silenciosa,“Estranho" pensou, normalmente, a babá estaria cuidando de Helena, e ele poderia ouvir risadas ou música,destrancou a porta e entrou, colocando a maleta sobre o aparador da sala. Chamou por Lúcia, pela filha, mas não obteve resposta,i silêncio continuava a ser a única companhia.

Foi quando ele começou a subir as escadas que percebeu algo fora do comum,a porta do quarto, geralmente entreaberta, estava completamente fechada,o coração de Otávio acelerou, um pressentimento sombrio começando a tomar conta de sua mente,ainda assim, ele ignorou o instinto, tentando convencer a si mesmo de que estava apenas cansado.

Ao abrir a porta, o mundo de Otávio desmoronou.

Lá estava ela, sua esposa, nua, em meio aos lençóis, envolvida em um beijo apaixonado com outro homem,por alguns segundos que pareceram eternos, Otávio ficou paralisado, o sangue gelando em suas veias, enquanto os sons de gemidos e sussurros ecoavam como uma tortura em seus ouvidos.

—“O quê... o que está acontecendo?”(ele finalmente conseguiu forma uma frase em meio a raiva, a voz rouca e carregada de incredulidade.)

A esposa de Otávio se afastou do amante, sem a menor vergonha, apenas um suspiro de impaciência no rosto.

— “Eu sabia que você descobriria uma hora ou outra e deixaria de ser idiota Otávio”( ela disse com uma frieza que ele jamais havia conhecido. )“Eu não aguento mais essa vida, eu e você... acabou não existe mais.”

A raiva que Otávio sentiu naquele momento foi algo que ele nunca tinha experimentado antes,seu coração, antes cheio de amor por aquela mulher, agora batia com uma intensidade de fúria que o fazia tremer,ele cerrou os punhos, tentando controlar o impulso de fazer algo que se arrependeria.

—“Você está me deixando... por ele?”(a voz de Otávio saiu baixa, incrédula. Ele apontou para o homem que ainda estava sentado na cama, observando a cena com um sorriso irônico nos lábios.)

—“Sim,” (ela respondeu, se levantando calmamente da cama, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.) “Eu nunca quis essa vida eu sempre quis dinheiro e status nunca quis ser mãe, Otávio,você e essa obsessão por uma família, pela empresa... tudo isso me sufoca,eu quero viver.”

—“Viver? E a Helena? Ela não é importante para você?”(ele gritou, a raiva transbordando. As palavras saíam com dificuldade, como se cada uma delas fosse um punhal cravado em seu peito.)

A esposa deu de ombros.

— “Ela ficará melhor com você já que sempre quis ser pai,eu não sou fui feita para ser mãe. Você sempre soube disso.”

Nesse momento, o que restava do coração de Otávio se despedaçou,a dor de perder a mulher que ele um dia amou foi superada pela fúria de vê-la abandonar a própria filha sem qualquer remorso, Helena... sua menininha... como ela poderia simplesmente ir embora?

—“Saia,”( ele disse por entre os dentes, os olhos cheios de desprezo. )“Saia da minha casa,saia da vida da Helena,se você não a quer, nós também não precisamos de você.”

Lúcia riu de maneira amarga, recolhendo suas roupas.

—“É o que eu pretendo fazer, Otávio. Não se preocupe, não voltarei para essa vida.” (Ela deu as costas a ele sem olhar para trás, segurando a mão do amante enquanto os dois saíam pela porta, deixando para trás o que restava da família que um dia haviam construído.)

Otávio permaneceu ali, sozinho no quarto, o silêncio agora ainda mais denso e opressor. Ele respirou fundo, sentindo a raiva pulsando em suas veias, mas também a dor o consumindo,nunca havia se sentido tão traído, tão devastado,mas não tinha tempo para sucumbir ao desespero,Helena precisava dele.

Ainda com o coração apertado, desceu até o quarto da filha,lá estava ela, dormindo tranquilamente em seu berço, alheia à tempestade que acabara de atingir suas vidas,Otávio a observou por um longo tempo, lágrimas silenciosas caindo de seus olhos. Ele se ajoelhou ao lado do berço, segurou a mãozinha de Helena e prometeu, com toda a dor e raiva em seu peito, que nunca deixaria ninguém machucá-la.

—“Só nós dois agora, minha pequena,” (ele sussurrou.) “Eu sempre estarei aqui por você.”

Otávio passou o resto daquela noite ao lado de Helena, observando-a dormir, enquanto as emoções se misturavam em sua mente,ele sabia que agora, mais do que nunca, precisaria estar presente na vida da filha,não apenas como pai, mas como sua única fonte de amor e proteção,a ausência de sua esposa não seria preenchida facilmente, mas Helena não merecia sentir esse vazio.

No entanto, havia um problema que não poderia ser ignorado,desde o início, a babá de Helena havia sido uma figura importante no dia a dia da menina, permitindo a Otávio se dedicar à empresa sem preocupações,agora, sem a esposa e sem a antiga babá, que havia saído apenas alguns dias antes, ele se via diante de um dilema.

Com o coração ainda pesado pela traição e o olhar cansado de uma noite sem dormir, Otávio se levantou, caminhando até o escritório no andar de baixo,a casa parecia vazia e fria, o silêncio opressor o acompanhando a cada passo,ele sabia que confiar em outra pessoa para cuidar de Helena seria difícil, quase impossível, na verdade,mas também sabia que precisava encontrar alguém.

Ele se sentou à mesa, ligou o computador e, com um suspiro profundo, começou a digitar um anúncio.

“Procura-se babá.”

As palavras soaram vazias para ele,como poderia confiar a sua filha a alguém que ele nem conhecia? E como Helena, tão pequena e sensível, reagiria a uma nova pessoa em sua vida?

Mesmo com as dúvidas que o atormentavam, ele continuou digitando:

“Procuramos babá para cuidar de uma menina de dois anos,necessário ser responsável, carinhosa e confiável,trabalho integral,entre em contato com urgência.”

Ele releu o texto várias vezes, tentando imaginar quem poderia responder,nenhuma candidata parecia boa o suficiente em sua mente,mas ele não tinha escolha,com um último clique, o anúncio foi postado.

—“Isso é para você, Helena,”( ele murmurou, como se pudesse justificar o que acabara de fazer. )“Vou garantir que a próxima pessoa que entre em nossas vidas seja alguém em quem possamos confiar,alguém que realmente cuide de você.”

Ele sabia que não seria fácil, mas Otávio estava determinado,se havia algo que a traição de Lúcia havia ensinado, era que ele não cometeria o mesmo erro duas vezes,a única prioridade agora era sua filha.

Ainda sentindo o peso do dia anterior, Otávio desligou o computador e voltou para o quarto de Helena,ele a encontrou acordada, sorrindo para ele com os olhos brilhando de inocência, completamente alheia ao que tinha acontecido,naquele momento, a pequena mão de Helena estendida em direção a ele foi tudo o que Otávio precisava para lembrar o que realmente importava.

— “Eu prometo, minha pequena,vai ficar tudo bem,” (ele sussurrou, pegando-a no colo. Não sabia como, nem quando, mas de uma coisa tinha certeza: faria qualquer coisa para proteger a felicidade da filha.)

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