Capítulo 3: O Peso das Expectativas

Otávio não era do tipo que delegava tarefas importantes, principalmente quando se tratava de Helena,a decisão de encontrar uma nova babá, após os acontecimentos recentes, era uma questão que ele precisava resolver pessoalmente,confiar em outra pessoa para entrevistar as candidatas? Impossível,ele mesmo precisava avaliar quem seria digna de cuidar de sua filha.

Nos dias que se seguiram, seu escritório na mansão foi tomado por um fluxo interminável de candidatas,mulheres de várias idades e perfis, todas com referências impecáveis e discursos ensaiados sobre como amavam crianças,mas, para Otávio, algo sempre faltava,uma conexão, uma verdade, algo que ele pudesse enxergar além das palavras.

Cada entrevista parecia mais longa que a anterior,ele fazia perguntas diretas, observando cada detalhe: como falavam, como reagiam, se hesitavam quando o assunto era sua filha,era quase como se estivesse montando um quebra-cabeça mental, e nenhuma peça parecia se encaixar.

Uma candidata, bem vestida e com anos de experiência, passou pela sala com um sorriso forçado,ela falava rapidamente sobre suas referências, tentando impressioná-lo com a lista de famílias com as quais havia trabalhado.

— “E qual a sua experiência com crianças na idade de dois anos?” (Otávio perguntou, seu tom firme e sem rodeios.)

Ela hesitou por um momento.

— “Bom, minha experiência é mais com crianças maiores, mas...”

Otávio interrompeu antes que ela pudesse continuar.

—“Helena tem dois anos, e preciso de alguém que saiba lidar com os desafios dessa fase. Não estou à procura de uma lição teórica, e sim de alguém que entenda as necessidades dela.”

A mulher deu um sorriso amarelo e se levantou rapidamente, sabendo que a entrevista havia terminado ali. Com um aceno rápido, ela saiu, deixando Otávio ainda mais frustrado.

Foram várias entrevistas assim,cada uma mais desanimadora que a anterior,algumas mulheres tinham respostas perfeitas, mas faltava aquele brilho nos olhos que ele tanto procurava, aquele amor genuíno que ele sabia que Helena sentiria de imediato ou rejeitaria completamente.

Otávio olhou para o relógio,mais três candidatas.

— “Talvez eu tenha colocado expectativas demais,” (ele pensou.) “Será que alguém realmente será boa o suficiente?”.

As duas próximas entrevistas não trouxeram nada de novo,mais promessas vazias, mais discursos prontos,a cada palavra que ouvia, Otávio sentia o peso da decepção crescer,ele começou a cogitar que talvez estivesse exigindo algo impossível,talvez a dor e o medo de confiar em outra pessoa estivessem interferindo em seu julgamento,mas no fundo, ele sabia que não poderia baixar a guarda,não quando se tratava de Helena.

Finalmente, ele olhou para a última ficha sobre a mesa.

— “Bianca,” (leu em voz alta. Uma jovem de apenas vinte anos. Pouca experiência formal, mas com uma carta de apresentação simples e honesta. Algo no tom daquele texto o fez hesitar por um momento.)

— “O que eu tenho a perder?”( murmurou, cansado.)

Quando Bianca entrou na sala, Otávio percebeu algo diferente de imediato,ela era simples, sem a formalidade exagerada das outras candidatas,seus cabelos estavam presos de maneira despretensiosa, e o sorriso no rosto não parecia forçado,era um sorriso genuíno, um que ele não via há tempos.

— “Boa tarde, senhor Martins,” (ela disse suavemente, tomando seu lugar à frente dele.)

Otávio fez a mesma pergunta de sempre, com o mesmo tom sério:

— “O que faz você acreditar que é a pessoa certa para cuidar da minha filha?”

Bianca hesitou por um segundo, mas não de forma insegura,era como se estivesse pensando cuidadosamente antes de falar, diferente das outras candidatas que soltavam respostas automáticas.

— “Eu sei que não tenho as melhores referências ou a experiência que outras pessoas têm, senhor,”( ela começou, os olhos fixos nos dele. )“Mas eu sei amar. E sei que, quando se trata de uma criança, é isso que mais importa,respeitar o espaço dela, entender suas necessidades, e estar presente de verdade,não há nada mais importante para mim.”

As palavras dela o pegaram de surpresa,não era um discurso decorado,era simples, mas carregado de uma verdade que ele não tinha visto até então.

— “Você não tem muita experiência, Bianca,” (ele comentou, observando suas reações.)

— “Não,” (ela respondeu com um leve sorriso,) “mas eu aprendo rápido. E, mais importante, eu me importo. Eu realmente me importo.”

Havia algo nos olhos de Bianca que transmitia uma segurança inesperada,Otávio permaneceu em silêncio por alguns instantes, avaliando cada detalhe, Bianca não tentou preencher o silêncio com mais palavras,apenas o encarou, calma e paciente, como se soubesse que ele precisava daquele momento.

Otávio finalmente respirou fundo.

— “Muito bem, Bianca,eu quero que você conheça Helena,ela vai decidir o resto,” (disse ele, se levantando.)

Surpresa, mas sem perder o sorriso, Bianca assentiu.

— “Com certeza, senhor Martins,eu adoraria conhecê-la.”

Enquanto seguiam pelo corredor em direção ao quarto de Helena, Otávio sentiu uma sensação estranha,pela primeira vez em dias, ele não estava completamente desencorajado,algo em Bianca lhe dizia que, talvez, ele tivesse encontrado a pessoa certa.

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Um dia antes da entrevista....

Bianca estava sentada à mesa da pequena cozinha do apartamento que dividia com sua amiga Clara,o apartamento era modesto, mas elas o chamavam de lar,desde que seus pais haviam falecido em um acidente, dois anos atrás, Bianca não tinha mais um lugar para onde voltar,a vida, que antes era estável, se tornou uma sequência de incertezas e lutas para se manter,agora, sem a segurança dos pais e sem um emprego fixo, as coisas pareciam cada vez mais difíceis.

Ela folheava um jornal local, a mente distraída, até que um anúncio chamou sua atenção:

“Procura-se babá para cuidar de uma menina de dois anos. Necessário ser responsável, carinhosa e confiável. Trabalho integral. Entre em contato com urgência.”

Bianca franziu o cenho.

— “Babá...”murmurou para si mesma. Amava crianças, sempre cuidara dos filhos das amigas dos pais quando era mais jovem, mas nunca havia considerado isso como uma profissão. Trabalhar como babá em tempo integral poderia ser a resposta para seus problemas financeiros, além de dar-lhe um propósito, algo que tanto precisava.

Ela olhou para o número de telefone no anúncio.

—“Será que devo tentar?” pensou em voz alta.

Clara, que estava passando pela sala, ouviu o comentário e parou.

— “O que foi, Bianca?” perguntou, notando a expressão pensativa da amiga.

— “Esse anúncio... estão procurando uma babá,não tenho experiência formal, mas adoro crianças,e se eu tentasse?”

Clara se aproximou e leu o anúncio por cima do ombro de Bianca.

— “Por que não? Você tem jeito com crianças, e talvez isso seja exatamente o que você precisa agora.”( Ela deu um sorriso encorajador. )“Tente,o máximo que pode acontecer é não dar certo, mas se você não tentar, nunca vai saber.”

Bianca sabia que Clara estava certa, mas a insegurança ainda a corroía,não tinha a experiência que muitos pais procuravam, não tinha diplomas ou certificados, apenas sua vontade genuína de cuidar e sua necessidade de recomeçar.

Ainda assim, algo naquele anúncio parecia chamá-la,o número do telefone estava ali, esperando para ser discado,e foi exatamente o que ela fez, antes que a dúvida a fizesse desistir.

Uma voz formal atendeu do outro lado. Bianca respirou fundo e explicou que estava interessada na vaga,a pessoa do outro lado pediu que ela comparecesse para uma entrevista na manhã seguinte,Bianca desligou o telefone, o coração acelerado.

— “E aí?” Clara perguntou, ansiosa.

— “Vou para a entrevista amanhã,” (Bianca respondeu, com um meio sorriso nervoso.) “Vamos ver no que vai dar.”

Naquela noite, Bianca mal dormiu. Pensamentos sobre a entrevista se misturavam com lembranças de seus pais, e com a sensação de estar sozinha no mundo. Mas a ideia de conseguir aquele trabalho, de poder cuidar de uma criança e, ao mesmo tempo, dar um novo rumo à sua vida, lhe trouxe um pouco de esperança.

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