O passado bate a porta

É real...eu acho que Pedro também está apaixonado por mim! Mas ainda é muito cedo,tem tanta coisa envolvida e em jogo...

Porém, o que aconteceu na casa dele,como fui tratada pelos irmãos, pela avó, pelos pais dele! Não me trataram como uma impostora,mas como alguém que chegou para fazer parte da família.

E o nosso beijo? Tão bom, tão sincero,e ele não me tratou como um objeto e não me tocou de forma sensual. Não dá para acreditar que um cavalheiro como ele fez tantas besteiras a ponto do pai exigir que ele se casasse por um contrato com uma estranha.

No dia seguinte, me arrumo da melhor e mais profissional maneira possível, pego os meus documentos e entre eles vejo o contrato.

—Preciso esconder num bom lugar ,mas aqui não dá!

No meu quarto não posso, a Samanta pode achar,no quarto da minha mãe muito menos...já sei,na casa da minha avó. Ela mora sozinha e ninguém vai encontrar por lá.

Coloco na pasta e pretendo passar na casa dela na volta.

Chego na empresa, e dessa vez a secretaria não me barra, mas me olha como se eu fosse um extraterrestre.

—Bom dia!

—Bom dia!

Ele se levanta e se aproxima de mim, ficamos sem graça, sem saber como agir depois daquele beijo de ontem.

—É...então... o que a gente faz? - ele mexe as mãos e não sabe se as coloca nos bolsos, ou me toca, ou gesticula.

—Acho que primeiro temos que definir o nosso relacionamento.

—Tem razão...mas talvez, só talvez...podemos tentar!

—Tentar exatamente o quê?

—Fazer dar certo, já que vamos nos casar. Quem sabe não formamos uma família de verdade? Como os meus pais!

—Seus pais também se casaram por contrato?!

—Sim, e por motivos bem parecidos com os nossos.

—Nossa...nem parece!

—Pois é...então, o que me diz? Vamos começar a namorar de verdade, como todo casal normal?

Eu dou um sorriso.

—Concordo plenamente!

—Então já que somos namorados, de verdade, nada mais justo do que nos cumprimentar como qualquer casal de namorados...

Ele coloca meus cabelos para trás da orelha, e me beija. Dessa vez foi diferente, mais quente, mais vibrante e intenso, como se quiséssemos entrar um dentro do outro.

—Caramba! - ele sorri - Nosso beijo é...

—Perfeito! - completo

Após nos recompor, nos sentamos para decidir qual cargo irei ocupar.

—Eu falei com o meu pai e com o meu irmão, você quer se especializar na parte burocrática, auditorias...

—Isso mesmo, assim que as coisas melhorarem, eu vou iniciar a pós.

—Claro, mas espera passar o casamento, quero que se dedique nos preparativos primeiro, depois foque nos seus estudos e no que mais desejar fazer.

Eu arregalo os olhos. Meu Deus, eu tenho um casamento para organizar!

—Sim, só não sei por onde começar!

—Não se preocupe! Festa é o sobrenome da minha mãe, ela vai te deixar louca com cada detalhe!

Nós rimos.

—Vou te deixar estagiando no setor jurídico sobre os cuidados da minha cunhada Amália, ela é uma das advogadas da empresa.Venha, eu vou te apresentar o seu setor e esse andar.

Saímos de mãos dadas pelos corredores da empresa, todos nos olhavam surpresos, as mulheres me encaravam de cima a baixo, eu me sinto constrangida e solto a mão dele.

—Estão todos nos olhando...

—É...nunca ninguém aqui me viu dessa forma com alguém. - ele ri - Me dá a sua mão? Quero que saibam que eu tenho uma namorada...e linda por sinal!

Sorrimos um para o outro e continuamos o nosso tour.

......................

Enquanto trabalho, Suzana e Aninha entram correndo na minha sala, com ar de fofoca.

—Pai, o Pedro está andando de mãos dadas com a Marina pela empresa e a apresentando todos os setores!

—Já me disseram que ele estava com uma cara de bobo olhando para menina, nosso menino está apaixonado de verdade,amor!

Eu dou uma risada.

—Não imaginei que fosse ser tão rápido assim! Mas a Marina é uma moça encantadora, não me assustaria se ele rasgar esse contrato do jeito que eu fiz!

—Estou torcendo para dar tudo certo, eu gostei muito dela! - Diz Aninha

— Ela irá trabalhar com a Amália, que vai situa-la do nosso mundo. Ela é um moça suburbana, vai ser jogada numa realidade totalmente diferente. Vocês devem devem ajudá-la!

— Não se preocupe meu amor, você sabe muito bem do que uma suburbana é capaz, não sabe?

Suzana ri, senta no meu colo,eu dou um beijo e um tapa naquela coxa durinha e gostosa.

—Ô! Se sei!

—Tá bom, essa é a minha deixa para ir embora...- Aninha vai saindo e volta - Aí, isso não é justo! Vocês trabalham com seus amores e eu não! Meu marido a essa hora está dentro de um hospital esticando a cara de mais uma coroa ricaça!

—Em falar nisso, eu tenho que dar uma esticadinha sutil nas pálpebras...vou falar com o Pietro.

—Você não precisa de nada, é linda,meu amor,minha onça!

—Acha mesmo, meu Zé da Montaria!?

Começamos a nos beijar e logo depois, escutamos o som da porta se fechando e começamos a rir.

Após o almoço, vou até a sala de Pedro.

—Filho, como a Marina está se saindo e ...

Encontro os dois aos beijos no meio da sala, e sorrio ao ver a cena.

—Isso! - eu vibro baixinho

Mas preciso manter a postura do poderoso chefão,ainda sou o CEO e presidente dessa empresa! Faço um barulho com a garganta.

—Hãn,hãn...

Eles se separam no susto, Marina fica vermelha e ele limpa a boca de batom.

—Oi pai...

—Crianças...mantenham a postura na empresa...ou tranquem a porta!

—Eu já estava de saída, senhor Tomás! Com licença!

Ela sai de cabeça baixa.

—Me espera que vou te levar em casa!

Ela sorri e tranca a porta. Sento de frente a ele.

—Vejo que estão se dando muito bem.

—Sim, resolvemos namorar para valer. Vamos tentar fazer dar certo esse relacionamento.

—Gostei, ótimo! Então não vai precisar de uma viagem para se conhecerem melhor ,como sua mãe e eu?

—Eu acho que não vai precisar, vamos fazer da forma convencional mesmo, só que teremos que adiantar o casamento.

—Bom...mas uma viagem seria ótimo para ficarem a sós. A viagem que fiz com a sua mãe foi maravilhosa! 15 dias viajando pela França ,eu fiz isso na intenção já de dar uns pegas nela, eu já estava caidinho e nem sabia . Mas foi ela quem me pegou,foi firme e linha dura ! Lá em Marselha, me deixou completamente louco e quando eu achei que iria a comer, ela embarreirou.

—O que o senhor fez?

— Eu respeitei, obviamente ! Mas quando chegamos em Saint Tropez...Ah! Ela me deu um chá, Pedro, que eu fiquei apaixonado,dali nunca mais eu quis comer outra b..c..ta ! E em Paris?! Ela endureceu de novo, com medo do meu passado,mas aí eu fui com jeitinho e daquela noite em diante,eu nunca mais desejei ter outra mulher nos meus braços!

— Acontece que a Marina é muito moça , pai! Com certeza a família dela não vai permitir uma viagem de nós dois a sós.

— Vá com seus irmãos para Angra ou Petrópolis no final de semana, ou talvez, para a fazenda...

— Na fazenda não! Não quero ir tão cedo, esquece isso!

—Em falar nisso, eu tenho que ir na fazenda esse final de semana para começar a preparar o meu terreno eleitoral,você se casando será ótimo pra mim, vai melhorar ainda mais a minha imagem, porque aquele escândalo com a mulher do capataz virou assunto por um mês na cidade!

—Se a Marina souber de todas essa coisas, eu acho que ela desiste do namoro de verdade e a gente volta para o relacionamento de mentira.

— Meu filho, o que você fez está feito ! O passado não pode atormentar o seu presente! E se ela realmente está gostando de você, vai entender isso e te dar um voto de confiança!

......................

No final do expediente, eu aguardo por Pedro do lado de fora da sua sala.

— Vamos, estou mais do que liberado!

Saímos juntos e de mãos dadas, chegamos ao estacionamento dentro do carro, ele me puxa novamente para um beijo. Agora toda hora é hora, não podemos mais ficar a sós que começamos a nos beijar.

—Quer passar no hospital para visitar o seu pai e contar a eles as novidades do dia?

—Estava pensando nisso, falei com a minha mãe hoje, eles ficaram tão contentes! Estou morrendo de saudade dos dois.

Hospital particular não tem hora para visita, nós chegamos e entramos direto no quarto do meu pai, que já estava recebendo o jantar.

— Pai, que saudade! O senhor parece cada vez mais saudável, cada vez melhor!

— Estou mesmo! Os médicos falaram que eu vou ter alta amanhã.

— Que bom! Eu fico feliz por isso, as coisas finalmente estão se acalmando em nossas vidas !

— Marina, eu tenho que pegar umas encomendas de perfume para entregar para as minhas clientes. Com toda essa confusão, acabei esquecendo! Será que você consegue fazer isso para mim?

— Ai mãe, eu estou saindo cedo para trabalhar, a senhora sabe da distância ,né? Eu vou pedir para vovó fazer isso, já que não podemos contar com a Samanta para praticamente nada!

— Essa daí tem que casar mesmo e viver a vida dela, já que ela parece que não sabe viver em família!

Nós conversamos um pouco com os meus pais e eu vejo como Pedro fica diferente perto deles, mais sério, compenetrado, não fala as piadinhas dele, parece até que tem medo do meu pai!

— Assim que o senhor tiver alta, me comunique. Vou pedir para que o motorista da nossa família os levem para casa.

—Pelo amor de Deus menino! Não precisa, a gente chama um táxi, o nosso vizinho, pede um Uber... mas não se incomode! Já abusamos demais de você e da sua família!

— Abuso nenhum,quem sabe em breve, nós seremos uma única família!? - ele olha para mim e sorri de uma forma tão doce, que eu mal posso acreditar que isso realmente está acontecendo!

Saímos do quarto e nos corredores do hospital,Pedro encontra um conhecido, percebo que ele fica pálido.

— Grande Pedro Salomão! Tá sumido, hein? Depois de quase ter morrido lá na fazenda deu uma sossegada?

—Ah...co-como você ficou sabendo?

—Essas coisas se espalham! E seu aniversário? Esse foi sua melhor festa! Mas quase deu B.O ! O dono da mansão disse que nunca mais faz negócios com você. Os vizinhos até fizeram um abaixo assinado para proibir o proprietário de alugar a casa novamente, pois nunca viram tantos bêbados e tantas orgias a céu aberto!

O cara vai contando tudo o que aconteceu nessa tal festa em comemoração aniversário do Pedro, e eu ali, sem graça e ele não tinha aonde enfiar a cara.

—Foi um prazer rever, você, mas tenho que ir!

—Essa é a sua...

—Namorada!

—Namorada!? - ele estranha como se eu estivesse ocupando o lugar de outra pessoa.- e a...

Pedro sai me arrastando até o estacionamento, entramos em silêncio no carro e ele resolve falar.

—Marina, eu posso explicar tudo...

—Não precisa! Isso já foi,a gente nem sonhava em nos conhecer. Esquece !

Ele ficou estranho durante todo o trajeto, que não foi curto. Eu tentava conversar normalmente com ele e as respostas eram curtas. É ...realmente Pedro estava sem graça.

Chegamos na rua da minha casa.

—Até amanhã!

Ele me dá um beijo mais rápido do que o normal.

—Até amanhã!

Ele me espera entrar em casa e parte. Eu vou até a casa da minha avó, que fica no mesmo quintal.

—Vó Bina! Cheguei!

—Oi ,minha princesa! Estou fazendo um strogonoff do jeitinho que você gosta, quer jantar comigo?

—E ainda pergunta?

Enquanto jantamos, vou conversando com ela sobre as novidades em relação ao meu pai e sobre o trabalho, ela aproveita para perguntar mais sobre o meu namoro.

— Você está com brilho diferente, nunca te vi assim, está apaixonada ,não é? Essa carinha não nega!

— Estou muito apaixonada ,vó! Ele é um cara legal, sabe? E a família dele também é muito legal. Nem parece que eles são muito ricos, são tão humildes, tão gente como a gente! A Suzana, mãe do Pedro, também é do subúrbio, só que é da Tijuca,já o pai dele, nasceu em berço de ouro ,mas nem parece! A não ser pela aparência deles,que tem cara de ricos mesmo.

— Parece que está tudo maravilhoso, mas você está me escondendo alguma coisa, tem algo aí te incomodando, o que é?

Conto para ela o histórico dele, de ser mulherengo, do que eu descobri essa tarde no hospital, e demonstro toda a minha preocupação.

—Todos nós temos um passado, o dele pode não ser um dos mais bonitos,mas o que importa é o que ele quer viver com você a partir de agora. Se permita viver um amor construído aos poucos!

—Mas tem outra coisa e a senhora tem que me prometer não contar nada pra ninguém, nem para os meus pais!

—Sabe que em mim você pode confiar,não sabe?

—Eu sei, é por isso que vou deixar esse documento com a senhora.

Eu entrego o contrato, ela lê e abre bem os olhos.

— Então esse namoro não é de verdade e vocês vão se casar por contrato?!

— Sim, vamos nos casar por contrato ,mas começamos a gostar de forma natural e ele me pediu para namorar de verdade. Estamos apaixonados, vó Bina!

—Hum...

Ela se levanta.

— Vou guardar esse contrato muito bem guardado, para ninguém nunca achar!

Ela tem um buraco no colchão da cama, onde guarda documentos importantes. Eu começo a rir, ela pega o contrato e bota dentro de uma pasta e dentro de outra e coloca lá no meio, fecha o colchão novamente e forra a cama.

—O segredo de vocês está seguro comigo! Marina, se permita minha filha! Se permita!

Nos abraçamos longamente e resolvo seguir os conselhos dela,eu irei me permitir!

......................

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***