O Preço da Verdade

Ana continuava ajoelhada ao lado de Guilherme, o coração batendo acelerado enquanto tentava absorver o que estava diante de seus olhos. Seu irmão estava vivo, mas estava irreconhecível. A imagem de Guilherme, antes forte e vibrante, agora se assemelhava a um fantasma. A magreza extrema, a barba desgrenhada, os olhos fundos, como se todo o brilho e vitalidade tivessem sido drenados dele. Ela não conseguia segurar as lágrimas que escorriam silenciosamente enquanto o olhava, devastada.

— Guilherme... o que eles fizeram com você? — sussurrou, segurando a mão fria e frágil dele.

Mas ele não respondeu. Sua cabeça balançou levemente, e Ana percebeu que o que quer que ele tivesse sofrido ali dentro o havia quebrado de uma forma que palavras não podiam expressar. Sua presença física estava ali, mas sua mente parecia estar longe, aprisionada em algum lugar escuro.

Enzo permanecia de pé perto da porta, sua presença ameaçadora preenchendo o espaço. Ele observava a cena com um olhar de indiferença, como se estivesse simplesmente esperando que Ana processasse tudo antes de dizer sua próxima jogada.

— Você queria vê-lo, e agora viu. — A voz de Enzo era controlada, quase fria. — Esse é o preço da verdade, Ana. Às vezes, a realidade é muito mais cruel do que qualquer fantasia que possamos imaginar.

Ana se levantou devagar, ainda segurando a mão de Guilherme. Sua mente estava uma confusão de raiva, dor e frustração. Ela se virou para encarar Enzo, seu olhar ardendo de indignação.

— Você sabia onde ele estava o tempo todo, não sabia? — Ela praticamente gritou, sua voz tremendo. — Você o manteve aqui, nesse lugar horrível, enquanto eu procurava por ele! Por quê? O que você quer com isso?

Enzo deu um pequeno sorriso, quase imperceptível, como se estivesse se divertindo com a intensidade da reação dela.

— Eu sabia, sim. Sabia exatamente onde ele estava. Mas o fato é, Ana, que você nunca teria acreditado em mim se eu simplesmente tivesse contado. Você precisava ver com seus próprios olhos, entender o que está em jogo aqui.

— O que está em jogo? — Ana deu um passo à frente, sua voz cheia de incredulidade. — Isso não é um jogo, Enzo! Este é o meu irmão! Ele está destruído, e você está me dizendo que isso faz parte de algum plano maior?

Enzo suspirou, cruzando os braços enquanto a observava, sua expressão agora mais séria.

— Tudo é um jogo, Ana, quer você goste ou não. E você, infelizmente, foi arrastada para o tabuleiro muito antes de perceber. Seu irmão, Guilherme, escolheu esse caminho. Ele fez negócios com pessoas perigosas. Pessoas que eu controlei, até certo ponto. Mas quando ele tentou sair, quando ele tentou dar as costas para tudo... as coisas ficaram complicadas.

Ana sentiu uma onda de desespero. Ela sabia que Guilherme tinha seus segredos, mas nunca imaginou que ele estivesse envolvido em algo tão profundo, tão perigoso. Suas palavras voltavam à mente: "Se algo acontecer comigo, culpe Enzo."

— Então, por que ele está aqui? — Ana perguntou, tentando manter o controle sobre suas emoções. — O que você quer dele? Ou o que você quer de mim?

Enzo a olhou longamente, como se estivesse avaliando a profundidade da pergunta. Quando finalmente falou, sua voz estava carregada de uma gravidade que Ana ainda não tinha ouvido antes.

— Ele está aqui porque eu o mantive vivo. Ele cruzou a linha com pessoas que não perdoam erros, Ana. Se não fosse por mim, ele estaria morto. Eu não sou o vilão desta história, mesmo que você queira me ver dessa forma. Guilherme fez suas escolhas, e agora ambos precisam lidar com as consequências.

Ana queria contestar, gritar, negar o que Enzo dizia, mas uma parte dela sabia que havia um grão de verdade nas suas palavras. Seu irmão estava envolvido com criminosos, e o mundo da máfia não perdoava deslizes. Se Enzo realmente o estava protegendo, então a situação era ainda mais complicada do que ela imaginava.

— Então o que eu faço agora? — A voz de Ana estava baixa, cansada. Ela sentia como se estivesse sendo empurrada para um abismo do qual não poderia escapar. — Como eu tiro ele daqui? Como eu salvo Guilherme?

Enzo deu um passo à frente, seu olhar fixo no dela, como se a resposta fosse simples, mas carregada de implicações.

— Você quer salvá-lo, Ana? — Ele falou suavemente, sua voz como um sussurro de tentação. — Então você terá que se comprometer. Tudo neste mundo tem um preço, e o preço de salvar Guilherme é mais alto do que você imagina. Você terá que entrar totalmente nesse jogo, e isso significa aceitar minha proteção... e minhas regras.

Ana olhou para ele, sentindo uma mistura de desespero e raiva. Ela não queria fazer parte desse mundo, não queria seguir as regras de Enzo, mas olhando para Guilherme, quebrado e impotente, ela sabia que não tinha escolha. A vida de seu irmão estava nas mãos de Enzo, e agora, a dela também.

— O que você quer de mim? — Ana perguntou, a voz trêmula, mas firme. — Se você quer que eu jogue o jogo, então me diga as regras.

Enzo sorriu, mas desta vez, havia algo mais sombrio em sua expressão.

— O que eu quero é simples. Sua lealdade. Eu preciso de alguém como você ao meu lado. Você é esperta, determinada, e mais importante, tem algo que muitas pessoas ao meu redor perderam ao longo dos anos: uma razão verdadeira para lutar. — Ele gesticulou em direção a Guilherme. — Seu irmão é a sua razão. E eu posso te dar o poder para protegê-lo, mas você precisará me ajudar em troca.

Ana sentiu o peso da decisão que estava prestes a tomar. Enzo estava oferecendo uma barganha, e ela sabia que, ao aceitar, estaria se comprometendo com algo muito maior e mais perigoso do que poderia imaginar.

Ela olhou para Guilherme novamente, vendo a fragilidade e a dor em seus olhos. Sabia que não podia deixá-lo ali, naquele lugar, à mercê dos homens que o destruíram. Mas também sabia que, ao aceitar a oferta de Enzo, ela estaria se enredando ainda mais profundamente no mundo da máfia, onde as lealdades eram voláteis e as traições constantes.

— O que exatamente você quer que eu faça? — Ana perguntou, sua voz agora firme, determinada a fazer o que fosse necessário para salvar seu irmão.

Enzo sorriu novamente, dessa vez com um brilho de satisfação nos olhos.

— Você precisa se infiltrar em um círculo de pessoas que têm informações cruciais sobre uma operação que ameaça minha posição. Pessoas que confiarão em você se acharem que você está tentando me destruir. Quero que jogue o papel de uma traidora. — Ele fez uma pausa, observando a reação dela. — Mas no fundo, você estará trabalhando para mim. Isso permitirá que eu identifique os traidores reais e os elimine.

Ana sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele queria que ela fosse uma espiã, se infiltrasse em um grupo de criminosos ainda mais perigosos do que os homens de Enzo. Era uma jogada mortal, e a linha entre sucesso e fracasso seria fina e sangrenta.

— Se eu fizer isso... — ela começou lentamente, olhando diretamente nos olhos de Enzo. — Se eu fizer isso, você vai garantir que Guilherme esteja seguro? Que ele saia desse pesadelo?

Enzo assentiu lentamente.

— Eu garanto. Ele estará seguro sob minha proteção. Mas lembre-se, Ana, uma vez que entrar, não há como sair sem pagar o preço. Você estará envolvida até o fim.

Ana sabia que essa era sua única chance. Não havia outro caminho. Ela poderia tentar lutar contra Enzo, mas sabia que perderia. O poder dele era grande demais, e as conexões que ele tinha iam muito além do que ela poderia imaginar.

Ela respirou fundo, lutando contra o medo que tentava dominar sua mente, e assentiu.

— Eu aceito.

Enzo sorriu, satisfeito.

— Então, bem-vinda ao jogo, Ana. Prepare-se. As próximas semanas serão cruciais, e cada movimento que você fizer será observado de perto.

Ana se levantou, o coração pesado com a decisão que acabara de tomar. Ela olhou para Guilherme uma última vez, determinada a salvá-lo, independentemente do custo.

Enquanto Enzo se preparava para partir, Vittorio entrou silenciosamente na sala. Ele lançou um olhar breve para Ana, uma mistura de respeito e advertência.

— Você fez a escolha certa, senhorita Clara — ele disse em voz baixa.

Mas Ana não tinha certeza. Ela havia feito uma escolha, sim. Mas se era a certa ou não, apenas o tempo e as consequências de suas ações diriam.

O caminho à frente estava repleto de sombras e segredos. E agora, Ana estava no centro do labirinto, onde cada passo poderia ser o último.

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