Entre o Perigo e a Verdade.

Ana passou horas olhando fixamente para o celular, a última mensagem ainda brilhando na tela. “Aproxime-se de Enzo Ferrari.” Aquilo ressoava em sua mente repetidamente, como um aviso. Quem havia enviado aquela mensagem? E por que acreditavam que Enzo tinha as respostas que ela procurava?

Ela não podia confiar em ninguém. Guilherme havia desaparecido porque confiara nas pessoas erradas, e Ana não cometeria o mesmo erro. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não poderia ignorar o que estava acontecendo. Guilherme estava vivo, e aquele era o primeiro sinal concreto que ela tinha em meses. A única saída era seguir o fio daquele labirinto até o fim, mesmo que significasse encarar o homem mais perigoso da cidade.

Nos dias seguintes, Ana fez o possível para se manter ocupada, tentando distrair a mente enquanto elaborava um plano. Continuou com seus trabalhos fotográficos, mas a cada clique da câmera, sua mente voltava para Enzo. Como ela poderia se aproximar de um homem tão inacessível? Alguém cercado por uma camada de segurança e desconfiança que mantinha até os mais ousados à distância?

Na terceira noite, depois de passar horas em claro, Ana tomou uma decisão. Ela voltaria ao mundo de Enzo, mas com cuidado. Precisava se infiltrar, ganhar sua confiança. Se ele realmente tivesse informações sobre Guilherme, era sua única chance de descobrir a verdade.

Com o plano em mente, ela pegou o telefone e discou um número familiar. Laura, sua amiga jornalista, era uma das poucas pessoas em quem Ana confiava. Elas se conheciam desde a faculdade e, por sorte, Laura tinha algumas conexões importantes no submundo.

— Laura, preciso de um favor — Ana disse assim que a amiga atendeu.

— Sempre um favor. O que foi dessa vez, Ana? — Laura respondeu, brincando, mas com uma pontada de preocupação.

Ana explicou brevemente o que estava acontecendo, omitindo os detalhes mais perigosos. Laura, apesar de relutante, concordou em conseguir um contato para que Ana fosse convidada para outro evento de caridade onde, segundo ela, Enzo estaria presente.

No fim de semana, Ana se encontrou em outro salão de mármore, ainda mais luxuoso que o anterior. Estava nervosa, mas determinada. Desta vez, não estava ali como fotógrafa. Trocou a câmera por um vestido elegante e um ar de segurança que disfarçava sua inquietação. O lugar estava lotado, mas ela sabia exatamente quem procurava. E, no fundo do salão, mais uma vez, lá estava ele.

Enzo Ferrari, cercado por seus associados, conversando casualmente com uma mulher que parecia pendurar-se em cada palavra que ele dizia. Ana respirou fundo. O plano era simples: se aproximar, fazer contato, e esperar que o jogo se desenrolasse a seu favor. Mas, por dentro, ela sabia que nada envolvendo Enzo seria simples.

Caminhou em direção ao bar, fingindo desinteresse, mas com os olhos atentos aos movimentos dele. Depois de alguns minutos, para sua surpresa, sentiu uma presença ao seu lado. Quando se virou, encontrou aqueles olhos âmbar encarando-a de perto.

— Parece que nos encontramos novamente, Ana Clara — disse Enzo, com um sorriso enigmático nos lábios. Ele a observava como se já soubesse exatamente o que ela estava fazendo ali.

— Não sabia que você se lembrava de mim — respondeu, tentando soar despreocupada, mas sua voz traiu uma leve hesitação.

— Eu sempre me lembro das pessoas que me interessam. — A voz dele era calma, mas havia um subtexto que a deixava desconcertada. Ele sabia algo, mas o quê?

Ana sorriu, tentando se manter no controle da situação. Mas antes que pudesse responder, Enzo continuou:

— Imagino que não esteja aqui apenas para desfrutar do evento. Não faz seu tipo. Então, por que veio? — Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse esperando que ela contasse algo que já sabia.

Ana congelou por um segundo, o coração acelerando. Ela não podia ser transparente demais. Não ainda. Precisava jogar o jogo dele, entrar em sua órbita sem levantar suspeitas.

— Estou curiosa, talvez — respondeu, olhando diretamente para ele. — Você parece ser alguém que comanda tudo à sua volta. Eu quis ver de perto.

Enzo a observou com um olhar analítico, como se estivesse tentando ler cada pensamento dela. O silêncio entre eles pareceu durar uma eternidade, até que ele riu baixinho, um som que ressoou fundo no peito de Ana.

— Curiosidade é perigosa, Ana Clara. — Ele deu um passo para mais perto, reduzindo a distância entre eles. — Às vezes, leva a lugares de onde não se pode voltar.

Ela sentiu o peso de suas palavras, um aviso claro. Mas, ao invés de recuar, Ana sentiu algo despertando dentro de si — uma coragem impulsiva, misturada com a urgência de encontrar seu irmão.

— Talvez eu goste de viver perigosamente — respondeu, sem pensar, e logo se arrependeu da ousadia. Mas Enzo parecia satisfeito com a resposta.

— Eu sabia que havia algo diferente em você — disse ele, com um sorriso que era ao mesmo tempo encantador e ameaçador. — Venha, deixe-me mostrar algo.

Antes que Ana pudesse processar o que estava acontecendo, Enzo a conduziu pelo salão, movendo-se com uma confiança imperturbável. Ele a levou até uma porta lateral, que dava para um corredor escuro e silencioso, longe dos olhares curiosos da festa.

Ela sentiu uma onda de nervosismo. Estar sozinha com ele ali, afastada de todos, fazia seu coração disparar. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que aquela era sua chance. Ele a estava conduzindo para o lado mais sombrio de seu mundo, e talvez ali ela encontrasse respostas.

Quando chegaram ao fim do corredor, Enzo abriu uma porta de ferro que dava para uma sala simples, decorada com móveis austeros, contrastando com o luxo do resto do prédio. No centro da sala, uma mesa de madeira e, sobre ela, uma pequena pilha de documentos.

— Sente-se — disse ele, com um gesto que não permitia objeção.

Ana hesitou, mas se sentou. Enzo pegou um dos documentos da mesa e o colocou diante dela. A imagem de Guilherme, seu irmão, apareceu no topo da página. Ana sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

— Você sabia desde o início, não é? — Ela perguntou, sua voz firme, apesar do medo crescente.

Enzo a encarou, seus olhos duros.

— Sim. Seu irmão se envolveu em coisas maiores do que ele podia lidar. E agora você também está envolvida. — Ele fez uma pausa, observando a reação de Ana. — A única pergunta que resta é: até onde você está disposta a ir para descobrir a verdade?

Ana olhou para a foto de Guilherme. Seu coração estava acelerado, sua mente, uma confusão de emoções. Mas havia uma coisa de que ela tinha certeza.

— Até o fim — respondeu, determinada.

Enzo deu um leve sorriso, um que não chegou aos olhos.

— Então você está no lugar certo.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!