Segredos nas Sombras

O sol mal havia nascido quando Ana Clara acordou com o toque insistente de seu celular. Ela demorou alguns segundos para reconhecer o ambiente — seu pequeno apartamento no centro da cidade. Os acontecimentos da noite anterior ainda estavam frescos em sua mente. O evento beneficente, a atmosfera sufocante de riqueza e poder, e, principalmente, aquele encontro desconcertante com Enzo Ferrari.

Ela pegou o celular na mesa de cabeceira e olhou para a tela. Um número desconhecido. Por um instante, hesitou. Desde o desaparecimento de Guilherme, chamadas de números desconhecidos a deixavam inquieta. Mas a curiosidade falou mais alto, e ela atendeu.

— Alô?

Do outro lado, o silêncio. Depois, uma respiração pesada.

— Quem é? — Ana perguntou, a tensão crescendo em sua voz.

Um ruído estranho, como o de algo sendo arrastado, seguido por uma voz baixa e rouca.

— Cuidado onde pisa, Ana. Há coisas que você não quer descobrir.

Ela congelou. O coração batia descompassado. Antes que pudesse responder, a ligação foi encerrada. Ana ficou olhando para o celular, ainda atordoada. Quem poderia ser? E por que estavam a avisando?

O desaparecimento de Guilherme havia sido súbito e inexplicável. Ele era um jovem brilhante, sempre em busca de algo maior, sempre disposto a correr riscos. Ana sabia que ele andava com pessoas perigosas, mas sempre acreditou que, de alguma forma, ele conseguiria sair ileso. Até o dia em que ele simplesmente desapareceu. Sem aviso, sem rastros. Apenas um silêncio que a corroía por dentro.

Desde então, ela vinha tentando juntar as peças de um quebra-cabeça que parecia impossível de completar. A polícia fora pouco útil, tratando o caso como mais um desaparecimento voluntário. Mas Ana sabia que algo mais estava em jogo. Algo que envolvia o submundo da cidade. E, depois da noite anterior, ela começava a suspeitar que Enzo Ferrari poderia estar no centro disso.

Ela se levantou da cama, o corpo ainda pesado de cansaço, e foi até a janela. O sol começava a iluminar as ruas movimentadas de São Paulo, mas, dentro dela, tudo parecia escuro e incerto. Precisava de respostas, e agora mais do que nunca.

Ana passou o resto da manhã tentando tirar Enzo da cabeça. Mas era inútil. A lembrança de seus olhos a encarando, de seu jeito calmo e perigoso, não a deixava em paz. Como ele sabia seu nome? E por que parecia tão interessado nela? O homem era um mistério, um que ela não tinha certeza se queria desvendar.

Por volta do meio-dia, enquanto revisava as fotos que havia tirado no evento, o celular vibrou novamente. Outra mensagem de um número desconhecido. Desta vez, um endereço. Rua 5, nº 154 — Zona Norte. Nenhuma explicação, nenhum nome. Apenas o endereço.

Ana sentiu um nó se formar no estômago. Cada parte racional de sua mente dizia para ignorar. Mas a parte dela que ainda buscava respostas para o desaparecimento de Guilherme não podia deixar passar. O que mais ela tinha a perder?

Decidida, pegou sua câmera e uma pequena bolsa, certificando-se de que tinha um spray de pimenta dentro, e saiu de casa. O bairro onde o endereço estava localizado não era dos melhores. Prédios antigos, ruas pouco movimentadas e o ar de abandono. Ana sabia que estava entrando em território desconhecido, mas algo a impelia a seguir em frente.

Ao chegar ao prédio mencionado na mensagem, olhou ao redor. Era um edifício antigo, com as paredes manchadas pelo tempo. Não havia sinal de vida ali, exceto pelo som distante do trânsito. Hesitante, Ana entrou no prédio e subiu as escadas até o terceiro andar. Lá, encontrou a porta marcada com o número 154.

Ela respirou fundo antes de bater. Nenhuma resposta. Tentou bater de novo, e dessa vez a porta se abriu com um rangido baixo. O corredor do apartamento estava mergulhado em sombras, a luz do corredor não chegava até lá dentro.

— Olá? — chamou, hesitante.

O silêncio era quase opressor. Ana deu um passo para dentro, sentindo o piso de madeira rangendo sob seus pés. O apartamento parecia vazio, mas havia algo de errado. Ela sentia o cheiro de mofo e de algo mais, algo metálico. Sangue?

No centro da pequena sala, havia uma mesa simples. Sobre ela, um envelope pardo. Ana se aproximou devagar, o coração batendo rápido, e abriu o envelope. Dentro, havia uma única fotografia. Seu coração quase parou quando ela viu quem estava na imagem: Guilherme, com o rosto marcado por ferimentos, preso a uma cadeira, em um lugar desconhecido.

Ana recuou, quase derrubando a cadeira atrás de si. Seu irmão estava vivo. Mas em que condições?

Antes que pudesse processar o que estava vendo, o som de passos ecoou pelo corredor. Seu instinto de sobrevivência assumiu o controle. Ela pegou a foto, enfiou de volta no envelope e saiu correndo do apartamento, descendo as escadas em um frenesi. Quando chegou à rua, olhou para trás apenas o suficiente para ver uma silhueta alta e esguia à porta do prédio, observando-a. Seria ele? Seria Enzo?

Ela não esperou para descobrir. Correu pelas ruas estreitas até encontrar um táxi. Ao entrar no carro e dar o endereço de seu apartamento ao motorista, as mãos de Ana tremiam. Não apenas porque descobrira que Guilherme estava vivo, mas porque sabia que aquela foto não havia sido deixada ali por acaso. Alguém queria que ela soubesse. Alguém a estava puxando para um jogo perigoso.

Mas quem?

De volta ao apartamento, Ana fechou a porta atrás de si, tentando recuperar o fôlego. Suas mãos ainda tremiam quando colocou o envelope sobre a mesa e olhou para a foto novamente. Ela sabia que, ao entrar naquele mundo, não havia volta. Mas agora que tinha uma pista, uma prova de que seu irmão ainda estava vivo, não podia desistir.

Enquanto encarava a imagem do irmão ferido, o telefone tocou novamente. Desta vez, uma mensagem curta apareceu na tela:

"Aproxime-se de Enzo Ferrari. Ele tem as respostas que você busca."

Ana sentiu um arrepio. A mensagem era clara: seu caminho agora estava entrelaçado ao de Enzo. E, de alguma forma, ele estava envolvido no desaparecimento de Guilherme. O que ele sabia? Por que estava no centro de tudo?

Ela sabia que se aproximar de um homem como Enzo era perigoso, mas não havia outra opção. Ela faria o que fosse necessário para salvar seu irmão, mesmo que isso significasse mergulhar de cabeça em um mundo de segredos, mentiras e traições.

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