Labirintos Ocultos

Ana voltou para casa, o coração ainda disparado pelas revelações da noite. O envelope permanecia em sua mão como um símbolo do perigo em que estava se metendo. A caminhada pelo porto, a conversa com o homem misterioso, e a promessa de respostas sobre seu irmão giravam em sua mente como um turbilhão incessante.

A casa estava silenciosa quando ela entrou. Vittorio estava em algum lugar, provavelmente em seu posto de vigilância, mas ela não queria ser interrompida agora. Precisava de tempo para pensar, processar e decidir o que fazer com as informações que acabara de receber.

Fechando a porta do quarto, sentou-se na cama e abriu o envelope com cuidado. Dentro, havia um mapa rudimentar desenhado à mão, com um ponto marcado nas coordenadas de um lugar nos arredores da cidade. O local parecia ser uma antiga fábrica abandonada, um lugar que, há muito, caíra no esquecimento.

Além do mapa, uma pequena nota estava anexada: "Vá sozinha. A verdade sempre se esconde nas sombras."

A frase simples fez o estômago de Ana revirar. Ela sabia que aquilo não seria uma simples missão de resgate. Estava se afundando cada vez mais em um jogo mortal de poder, e as regras eram tão nebulosas quanto as intenções de todos ao seu redor.

Ana não confiava completamente em Enzo, e menos ainda nesse informante anônimo. Mas se o destino de Guilherme estava em suas mãos, ela não podia mais hesitar.

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Na manhã seguinte, Ana decidiu não contar a Enzo sobre o encontro no porto. Ele havia se mostrado enigmático demais, escondendo informações que ela sabia serem cruciais. A sensação de que ele estava manipulando a situação para seus próprios fins a perturbava profundamente. Se ele realmente soubesse onde Guilherme estava, por que não lhe contara desde o início?

Ela desceu as escadas silenciosamente, com o mapa escondido em seu casaco. Enquanto atravessava a sala de estar, Vittorio apareceu, como sempre, silencioso, sua expressão inexpressiva.

— Você vai sair? — Ele perguntou, sua voz calma, mas com uma ponta de desconfiança.

Ana assentiu.

— Tenho um compromisso importante. Algo que preciso resolver sozinha.

Ele a olhou por um momento longo, como se estivesse tentando decifrar suas intenções. Mas, para sua surpresa, ele não a questionou.

— Cuidado, então. Esse mundo não é feito para aqueles que hesitam.

Aquelas palavras a seguiram enquanto ela saía. Vittorio era leal a Enzo, mas também parecia preocupado com o que estava acontecendo ao redor dela. E, de certa forma, isso a fez questionar a verdadeira lealdade de todos ali.

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O local indicado no mapa ficava nos arredores da cidade, numa zona industrial abandonada. Ana dirigiu sozinha, sentindo o peso da responsabilidade esmagando-a a cada quilômetro que se aproximava do destino. As ruas estavam desertas, e a atmosfera carregava uma sensação de abandono e decadência, como se o tempo tivesse parado ali.

Chegando ao local, Ana estacionou o carro a uma distância segura. A fábrica abandonada parecia um gigante adormecido, com seus grandes portões de metal enferrujados e janelas quebradas. O silêncio ao redor era quase ensurdecedor, e o vento assobiava pelas estruturas, criando um som fantasmagórico que a deixou com os nervos à flor da pele.

Ela respirou fundo, puxando o capuz de seu casaco para cobrir o rosto. Precisava ser discreta. Seguiu a pé até os fundos da fábrica, onde havia uma pequena entrada lateral, aparentemente negligenciada. O som de seus passos parecia amplificado no silêncio da manhã fria.

Ao entrar no prédio, o cheiro de poeira e ferrugem a atingiu. O local estava escuro, com pouca iluminação natural entrando pelas janelas quebradas. A atmosfera era claustrofóbica, e a tensão em seu corpo aumentava a cada passo.

Seguindo o mapa, Ana encontrou uma escada que levava ao subsolo. As paredes ali eram revestidas por grafites antigos, e o ambiente era úmido e sufocante. Ela desceu os degraus de concreto, o coração batendo forte no peito.

No fim das escadas, encontrou uma porta de metal, parcialmente aberta. Ao empurrá-la, foi recebida por um silêncio opressor e uma sala grande, mal iluminada. No centro da sala, uma cadeira solitária estava posicionada sob uma única lâmpada pendurada.

Ana deu um passo à frente, e foi então que ouviu uma voz vinda das sombras.

— Achei que você não viesse.

A voz era familiar, mas carregava um tom sombrio e ameaçador. Enzo emergiu das sombras, seus olhos cravados nos de Ana com uma intensidade feroz.

— Enzo? O que você está fazendo aqui? — A surpresa de Ana foi instantânea. Ela não esperava vê-lo ali, principalmente porque ele não sabia sobre as coordenadas... ou sabia?

Ele sorriu, mas não era um sorriso reconfortante. Era frio, calculado.

— Você realmente achou que eu não sabia de nada, Ana? Tudo o que você faz, tudo o que acontece ao seu redor, passa pelos meus olhos. Eu deixei você seguir as pistas porque sabia que acabaria aqui, comigo. — Ele deu um passo à frente, e seu olhar ficou ainda mais penetrante. — Você quer respostas sobre Guilherme? Elas estão mais perto do que você imagina.

Ana sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Enzo estava mais próximo agora, sua presença física esmagadora. Ele estendeu um envelope para ela, similar ao que havia recebido no porto, mas com algo a mais.

— O que é isso? — Ela perguntou, hesitante.

— A verdade — ele disse suavemente, entregando o envelope em suas mãos. — Mas esteja preparada. Às vezes, a verdade é a arma mais perigosa.

Ana abriu o envelope com as mãos trêmulas. Dentro, encontrou uma série de documentos. Havia fotos de Guilherme, registros de transações, e mais importante, uma carta assinada por ele, datada de dois meses atrás.

"Estou envolvido mais do que posso suportar. Preciso sair, mas não sei como. Se algo acontecer comigo, culpe Enzo. Ele sempre soube de tudo."

Ana congelou. A carta era um grito de socorro, uma confissão do próprio Guilherme. Enzo sabia. Ele sempre soube.

— Você... — Ana levantou os olhos para ele, sentindo a raiva subir. — Você sabia desde o início. Por que não me contou?

Enzo deu de ombros, como se fosse óbvio.

— Porque eu estava esperando o momento certo. Acredite, Ana, você vai precisar de mim para resolver isso. Estamos mais conectados do que você imagina.

Ana deu um passo para trás, sua mente lutando para processar a avalanche de informações. Agora, mais do que nunca, ela estava presa em um jogo perigoso. As linhas entre o certo e o errado, a verdade e a mentira, estavam se desfazendo diante de seus olhos.

Enzo, com sua presença dominante, parecia mais enigmático do que nunca. Ele havia jogado com ela, manipulado suas emoções, e agora estava oferecendo uma aliança velada. Mas Ana sabia que, no final, ela teria que decidir se jogaria o jogo de Enzo ou encontraria sua própria saída.

Ela respirou fundo e guardou os documentos. A batalha por seu irmão estava apenas começando, e Ana estava determinada a lutar até o fim, independentemente das consequências.

"A verdade é um espelho quebrado: cada pedaço reflete um fragmento da realidade, e cabe a nós escolher qual pedaço queremos enfrentar."

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