No Limite da Verdade.

O silêncio entre Ana e Enzo parecia pulsar, como se cada batida de seus corações ecoasse no espaço entre eles. A sala era fria, e o ar tinha uma densidade que fazia Ana sentir como se estivesse prestes a ser engolida. A imagem de Guilherme sobre a mesa a fazia lutar contra o turbilhão de emoções que ameaçava explodir a qualquer momento. Ela precisava de controle, de clareza. O que quer que estivesse prestes a acontecer, ela precisava estar no comando.

— Diga-me tudo o que você sabe sobre Guilherme. — A voz dela saiu firme, mas havia uma tensão palpável nela, uma força que vinha da urgência desesperada de salvar seu irmão.

Enzo observou-a por um longo momento antes de se sentar do outro lado da mesa, sua postura relaxada contrastando com a tensão no ar.

— Eu não sei tudo — começou ele, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Mas sei o suficiente para entender que seu irmão está em mais perigo do que você imagina. E, agora que você está envolvida, Ana, o perigo se estende a você também.

Ana cerrou os punhos sob a mesa, tentando controlar a raiva e o medo. Como ele podia falar sobre isso de forma tão calma, como se fosse apenas um jogo?

— Que perigo? — Ela exigiu. — O que aconteceu com ele? Onde ele está?

Enzo suspirou, passando a mão pelo queixo como se estivesse ponderando o quanto deveria dizer.

— Guilherme fez alguns inimigos poderosos. Ele achou que poderia entrar nesse mundo e fazer seu próprio caminho, mas se envolveu com as pessoas erradas. Pessoas que não perdoam erros.

Ana sentiu um calafrio. Ela sabia que seu irmão era ambicioso, mas nunca imaginou que ele pudesse ter se metido em algo tão grande.

— Ele estava... ele estava envolvido com você? — As palavras saíram antes que ela pudesse pensar.

Enzo sorriu levemente, mas não era um sorriso caloroso; era frio, calculado.

— Não diretamente. Mas nossos caminhos se cruzaram algumas vezes. Seu irmão era esperto, mas se deixou levar por suas próprias ambições.

Ana sentiu uma pontada de dor no peito. Guilherme sempre fora impulsivo, mas ela nunca pensou que isso o levaria tão longe. Ele sempre buscou o poder, mas nunca a qualquer custo. Ou pelo menos, era o que ela achava.

— E por que ele desapareceu? — Perguntou Ana, o desespero começando a transparecer em sua voz.

Enzo inclinou-se para frente, seus olhos perfurando os dela.

— Porque ele sabia demais. E nesse mundo, saber demais pode ser fatal.

Ana fechou os olhos por um momento, tentando absorver o que ele estava dizendo. Ela sabia que o mundo de Enzo era perigoso, mas agora estava começando a entender o quão profundo e implacável ele podia ser.

— Você quer salvar seu irmão, Ana? — A voz de Enzo cortou seus pensamentos.

Ela abriu os olhos, encarando-o com determinação.

— É claro que quero. Farei o que for necessário.

Ele a estudou por um momento antes de se levantar lentamente e caminhar ao redor da mesa até ficar atrás dela. Ana sentiu seu corpo enrijecer à medida que ele se aproximava, sentindo a presença poderosa e intensa de Enzo tão perto de si.

— E se o que for necessário incluir se submeter a esse mundo? — A voz dele era baixa, quase um sussurro, mas cada palavra era carregada de uma ameaça silenciosa. — Você está disposta a jogar o jogo?

Ela se virou na cadeira, seu olhar desafiando o dele.

— Eu jogo o meu próprio jogo, Enzo. Não o seu.

Um silêncio pesado caiu entre eles. Enzo sorriu novamente, um sorriso enigmático que a deixava insegura sobre o que ele realmente estava pensando.

— Muito bem — disse ele, voltando para seu lugar. — Se você quer jogar o seu jogo, então vamos começar.

Ana mal teve tempo de processar aquelas palavras quando a porta da sala se abriu e um homem de meia-idade, com cabelos grisalhos e uma expressão séria, entrou. Ele não parecia surpreso ao ver Ana ali. Pelo contrário, parecia como se já estivesse esperando aquela situação.

— Esse é Vittorio — Enzo apresentou o homem. — Ele vai te acompanhar. Agora que você está envolvida, Ana, precisa de proteção.

Ana franziu a testa. Ela não precisava de um guarda-costas, e certamente não queria um.

— Eu posso me cuidar sozinha — respondeu, sentindo-se irritada pela presunção de Enzo.

— Não, você não pode — Enzo rebateu, sua voz firme. — As pessoas com quem você está lidando não são o tipo de inimigos que se pode enfrentar sozinha. Se você quer respostas, se quer encontrar seu irmão, vai precisar da minha ajuda. E isso inclui proteção.

Ana estava prestes a argumentar, mas algo no olhar de Enzo a fez parar. Havia uma gravidade ali que a fez perceber que, por mais independente que fosse, ela realmente estava entrando em um território desconhecido. Um território onde uma única jogada errada poderia custar sua vida — e a de seu irmão.

Ela olhou para Vittorio, que estava parado em silêncio, seus olhos frios e inexpressivos. Não parecia alguém com quem se pudesse conversar facilmente, mas parecia competente. Se ele era a chave para manter Ana viva o tempo suficiente para encontrar Guilherme, então ela aceitaria, por enquanto.

— Tudo bem — disse ela, relutante. — Mas isso não significa que eu confie em você, Enzo.

— Confiança é uma palavra perigosa neste jogo, Ana — Enzo respondeu, seus olhos brilhando com algo que ela não podia definir. — E, às vezes, confiar na pessoa errada é o que te mata.

Ana não respondeu. Sabia que confiar em Enzo era um risco, mas também sabia que ele era sua única chance de encontrar Guilherme. Por mais que isso a irritasse, por mais que ela quisesse lutar contra, sabia que não tinha escolha.

---

Os dias seguintes passaram em um turbilhão. Vittorio estava sempre por perto, sua presença silenciosa e sombria acompanhando cada movimento de Ana. Ele era eficiente, isso era inegável. Movia-se com uma precisão que a fazia sentir-se segura, mas também havia algo nele que a deixava desconfortável. Talvez fosse o fato de que, apesar de estar ao lado dela, ele claramente respondia a Enzo, não a ela.

Ana passou as noites mergulhada em pesquisas, tentando juntar as peças do quebra-cabeça. Ela sabia que havia algo grande acontecendo, algo que envolvia não apenas seu irmão, mas todo um submundo de poder e traição. E, a cada novo detalhe que descobria, mais ela se convencia de que Enzo estava no centro de tudo.

Mas ele não falava. Não diretamente. Enzo era como um labirinto de enigmas, oferecendo pequenas migalhas de informação aqui e ali, mas nunca o quadro completo. Ana sabia que ele estava jogando com ela, manipulando-a de alguma forma, mas também sabia que, se quisesse encontrar Guilherme, precisaria jogar junto.

Uma noite, depois de horas de silêncio entre Ana e Vittorio, seu telefone vibrou. Uma nova mensagem de um número desconhecido, como tantas outras que ela vinha recebendo nos últimos dias. Mas dessa vez, o conteúdo era diferente.

"Ele sabe mais do que está dizendo. Encontre-me no Porto às 3h. Vou te contar o que você precisa saber."

Ana leu a mensagem repetidamente, seu coração acelerando. Quem quer que fosse, sabia que ela estava investigando, sabia que ela queria respostas. Mas podia ser uma armadilha. Afinal, quem mandaria uma mensagem tão direta em uma situação como aquela? Ela deveria contar a Enzo? Não... ele certamente impediria que ela fosse.

— Tudo bem, Ana? — Vittorio perguntou, sem levantar os olhos do jornal que estava lendo.

Ela olhou para ele, pensando rapidamente. Se quisesse ir ao encontro, teria que ser cuidadosa.

— Sim — respondeu, tentando manter a voz firme. — Só estou cansada. Vou para o quarto descansar um pouco.

Vittorio apenas assentiu, sem suspeitar de nada. Ana se levantou e foi para seu quarto, mas em vez de descansar, começou a planejar sua saída. Ela sabia que Vittorio a seguiria se percebesse algo errado, então teria que ser rápida.

Ela esperou a casa mergulhar no silêncio da madrugada antes de fazer seu movimento. Com passos cuidadosos, pegou uma pequena mochila e saiu pela porta dos fundos, certificando-se de que Vittorio não estava por perto. O coração batia acelerado enquanto caminhava pelas ruas desertas, o ar da noite esfriando sua pele e aumentando o suspense.

O porto era um lugar sombrio àquela hora. As luzes dos contêineres projetavam sombras longas. Capítulo 4 (continuação):

As sombras do porto criavam uma atmosfera sinistra. Ana sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas a determinação a empurrava para frente. Cada passo parecia ecoar, um som isolado em meio ao silêncio opressor. Ela continuava caminhando entre os contêineres, ouvindo o som distante das ondas batendo contra os cais e o ocasional estalo de uma corrente de metal se movimentando com o vento.

A mensagem anônima ainda estava fresca em sua mente: "Ele sabe mais do que está dizendo. Encontre-me no Porto às 3h. Vou te contar o que você precisa saber."

Quem teria enviado isso? Seria uma armadilha? Ou a resposta que ela tanto procurava?

Ana parou por um momento e olhou ao redor. A única luz vinha dos postes distantes, iluminando parcialmente a área. Ela verificou o relógio: 2h58. A pessoa que enviou a mensagem deveria chegar a qualquer momento. Seu coração batia acelerado, um misto de adrenalina e medo.

Ela continuou andando, esperando algum sinal. Subitamente, uma figura saiu das sombras, movendo-se rapidamente em sua direção. Ana recuou instintivamente, preparando-se para correr, mas a voz grave e sussurrada da pessoa a fez parar.

— Não faça barulho. Eles podem estar te vigiando. — O homem era alto, com um rosto coberto parcialmente por um boné e um cachecol. Ele se movia com uma agilidade contida, o tipo de comportamento que só alguém habituado a escapar de ameaças perigosas teria.

Ana estava prestes a perguntar quem ele era, mas ele fez um sinal para que ela ficasse em silêncio. Com um movimento rápido, ele a puxou para trás de um contêiner, onde estavam fora da vista de possíveis câmeras ou olhares curiosos.

— Você quer respostas sobre seu irmão, não quer? — Ele murmurou, os olhos intensos examinando-a, quase como se estivesse avaliando sua coragem.

Ana assentiu, o medo sendo gradualmente substituído por uma urgência feroz. Ela precisava saber. Precisava encontrar Guilherme.

— Ele está vivo — o homem disse, direto ao ponto. — Mas preso em uma rede de poder que você não pode imaginar. E Enzo Ferrari tem muito mais a ver com isso do que ele te contou.

Ana sentiu o mundo ao seu redor girar. Embora já suspeitasse de Enzo, ouvir essa confirmação a abalou. Por que Enzo a estaria manipulando? E, mais importante, o que ele sabia sobre o destino de Guilherme?

— Como você sabe disso? Quem é você? — Ana perguntou, sua voz baixa, mas urgente.

O homem olhou ao redor, como se estivesse verificando se ainda estavam sozinhos, antes de continuar:

— Eu trabalhei para eles. Vi de perto o que acontece com aqueles que se envolvem demais com o mundo de Enzo. Seu irmão foi pego em um jogo de poder muito maior do que ele poderia imaginar. — Ele fez uma pausa, parecendo ponderar a melhor forma de continuar. — Mas eu posso ajudar você a encontrá-lo. Só que vai custar caro. Não financeiramente, mas em riscos.

Ana franziu o cenho. Ela não se importava com os riscos, mas a palavra "ajuda" vinda de alguém tão enigmático fazia suas suspeitas crescerem.

— E por que eu deveria confiar em você? — Perguntou ela, cruzando os braços. — Não sei nada sobre você, e eu não costumo fazer acordos no escuro.

O homem deu um sorriso torto, como se esperasse essa resposta.

— Justamente por isso estou te dizendo: confie no que você pode ver e sentir, não no que as palavras dizem. Se eu quisesse te prejudicar, não estaria te dando essa chance agora. — Ele estendeu um envelope pardo para ela. — Aqui estão as coordenadas. Um local no norte da cidade onde você poderá encontrar algumas respostas sobre seu irmão. Não será fácil entrar lá, mas se você realmente quer saber o que aconteceu, esse é o caminho.

Ana hesitou por um momento antes de pegar o envelope. Seu coração batia descompassado, mas ela sabia que, se houvesse uma chance mínima de encontrar Guilherme, precisava arriscar.

— E quanto a Enzo? — Ela perguntou. — Ele vai me impedir?

O homem recuou lentamente, voltando para as sombras de onde veio.

— Enzo joga o próprio jogo, como você disse. Cuidado, Ana. No final das contas, ele pode ser tanto seu aliado quanto seu maior inimigo. E nesse mundo, as alianças mudam em um piscar de olhos.

E com essas palavras, ele desapareceu, deixando Ana sozinha novamente. O envelope em suas mãos parecia pesar mais do que deveria. Ela sabia que, ao abrir aquilo, estaria entrando em um território ainda mais perigoso. Mas não havia mais volta. Guilherme estava vivo, e agora ela estava disposta a fazer o que fosse necessário para encontrá-lo.

Com passos rápidos, ela se afastou do porto, a mente fervilhando com as novas informações. Enzo estava escondendo algo, isso era certo. Mas agora ela tinha uma nova pista, e nada a impediria de segui-la.

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