A noite caía sobre a cidade, e as luzes da rua cintilavam através das janelas do carro de Ana enquanto ela dirigia em direção ao coração de um labirinto de conspirações. O envelope com as provas sobre Guilherme pesava em seu bolso, cada detalhe revelado anteriormente ecoando em sua mente. Ela ainda sentia o gosto amargo das palavras de Enzo, como se tudo o que havia acontecido fosse um jogo de xadrez onde ela era apenas uma peça manipulada.
Aquele homem era perigoso, não apenas pela influência que tinha, mas pela forma como conseguia dobrar as situações ao seu favor. E agora, ele sabia que Ana estava ciente da profundidade de seu envolvimento. O que isso significava para ela? Seria ele capaz de mantê-la como aliada, ou estava apenas esperando o momento certo para eliminá-la?
Ela estacionou o carro em uma rua deserta, longe de olhares curiosos. O local onde Enzo indicou para o próximo encontro ficava em um prédio no centro, perto das altas torres financeiras. A escolha do local era intrigante. Por que se expor em um ambiente tão visível? Enzo estava sempre um passo à frente, e isso a deixava desconfortável.
Ana saiu do carro, sentindo o vento frio cortar sua pele, enquanto caminhava em direção à entrada do edifício. Antes de entrar, olhou ao redor uma última vez, verificando se não estava sendo seguida. A paranoia começava a tomar conta dela. Era difícil saber em quem confiar.
Assim que entrou, foi recebida por um segurança que parecia estar esperando por ela.
— Siga-me, senhorita Clara — disse o homem, sem sequer fazer contato visual.
Ela o seguiu por um corredor escuro e mal iluminado até um elevador. O silêncio entre eles era opressor, o som das engrenagens do elevador subindo apenas aumentava a tensão. Quando as portas se abriram, o segurança apontou para um corredor à esquerda.
— Enzo está esperando por você.
Ana respirou fundo, tentando controlar a aceleração de seu coração. Ela se perguntou o que Enzo planejava agora. O homem estava construindo uma teia ao seu redor, mas Ana sentia que também estava reunindo suas próprias peças. Ela não seria uma jogadora passiva por muito tempo.
Ela caminhou pelo corredor até encontrar uma porta de vidro opaco. Ao abrir, encontrou um salão espaçoso e moderno, decorado com móveis minimalistas e janelas que ofereciam uma vista impressionante da cidade. Enzo estava parado perto de uma das janelas, de costas para ela, olhando para as luzes distantes.
— Você veio — disse ele sem se virar, como se já soubesse de sua presença. Sua voz era suave, mas carregada de poder. — Achei que tivesse dúvidas sobre nosso acordo.
— Eu não vim pelo acordo — Ana respondeu, aproximando-se cautelosamente. — Vim porque você tem as respostas que eu preciso. E eu quero que isso acabe logo.
Enzo se virou lentamente, seu olhar frio e calculado a observando por alguns segundos antes de responder.
— Você não quer que isso acabe, Ana. Se quisesse, já teria se afastado. Mas você está muito mais envolvida do que percebe. Seu irmão foi apenas o começo.
A raiva crescia dentro dela, mas Ana a controlou. Ela não podia se dar ao luxo de perder o controle agora.
— O que você quer de mim, Enzo? — Ela perguntou, tentando não demonstrar o desconforto que sentia ao estar naquela sala com ele.
Enzo deu um leve sorriso, quase imperceptível, e caminhou lentamente até ela.
— Eu não quero nada que você já não tenha dado, Ana. Você entrou nesse jogo no momento em que decidiu investigar Guilherme. Agora, você faz parte dele, quer queira ou não.
Ana apertou as mãos em punho. Ela não queria ser parte desse mundo, mas estava presa nele, e Enzo sabia disso. Ele usava essa vantagem como uma arma.
— Se você está dizendo a verdade sobre Guilherme, então me prove. Quero ver onde ele está. Quero vê-lo com meus próprios olhos.
Enzo ergueu uma sobrancelha, como se estivesse apreciando a coragem dela.
— Ver Guilherme? — Ele repetiu, sua voz um sussurro perigoso. — Isso pode ser arranjado. Mas esteja avisada, Ana, o que você verá pode não ser o que espera.
Ela cruzou os braços, tentando não ceder ao medo que rastejava por dentro dela.
— Não estou com medo da verdade, Enzo. Apenas me leve até ele.
Ele riu suavemente, como se estivesse se divertindo com o desafio.
— Muito bem. — Ele caminhou até uma pequena mesa onde havia um telefone, e fez uma ligação rápida. — Vittorio, traga o carro.
Ana estremeceu ao ouvir o nome de Vittorio. Ele estava envolvido nisso também? Seu coração pesava com a dúvida. Vittorio sempre parecia leal a Enzo, mas ela ainda não conseguia entender até que ponto.
Alguns minutos depois, os dois estavam no carro de Enzo, com Vittorio ao volante, dirigindo em silêncio pelas ruas da cidade. O destino ainda era um mistério para Ana, mas ela não ousava perguntar. Sabia que Enzo revelaria tudo no seu próprio tempo.
O carro os levou até uma área industrial deserta, muito longe das luzes brilhantes da cidade. O lugar estava mergulhado na escuridão, e o único som era o vento assobiando entre as estruturas de metal abandonadas. O veículo parou em frente a um prédio deteriorado, com janelas quebradas e portas enferrujadas.
— Este é o lugar — disse Enzo calmamente, enquanto Vittorio saía do carro para abrir a porta para eles.
Ana saiu do carro com um frio na espinha. O local parecia um cenário de pesadelo, o tipo de lugar onde coisas horríveis poderiam acontecer e ninguém jamais saberia. Enzo a conduziu até a entrada do prédio, e Vittorio abriu a porta pesada de metal, revelando um longo corredor escuro à frente.
— Siga-me — disse Enzo, e Ana o seguiu com passos hesitantes, o som de seus sapatos ecoando no chão de concreto.
No fim do corredor, Enzo parou diante de uma porta trancada e puxou uma pequena chave de seu bolso. Ele a inseriu na fechadura, girando-a com um clique alto.
Quando a porta se abriu, Ana sentiu seu coração disparar. Do outro lado, em um pequeno quarto escuro, estava Guilherme.
Ele parecia exausto, magro, com os olhos fundos e a barba crescida. Estava sentado em uma cadeira, amarrado, com um olhar vazio, como se a esperança o tivesse abandonado há muito tempo. Ao ver Ana, seus olhos se arregalaram de surpresa, mas não havia alegria ali, apenas dor.
— Guilherme! — Ana correu até ele, ajoelhando-se ao seu lado. — O que fizeram com você?
Ele olhou para ela, mas não disse nada. Seus olhos estavam marejados, e ele apenas balançou a cabeça lentamente, como se não houvesse palavras que pudessem descrever o inferno que ele havia vivido.
Enzo ficou de pé atrás dela, observando a cena com a mesma expressão indiferente de sempre.
— Ele é seu, Ana. Como eu disse, nunca escondi nada de você. Agora, você deve decidir o que vai fazer com o que descobriu.
Ana sentiu uma fúria crescer dentro dela, mas também uma sensação avassaladora de impotência. Ela havia encontrado seu irmão, mas a que custo? E, mais importante, qual seria o próximo passo?
O jogo de Enzo estava longe de terminar, e Ana sabia que essa era apenas mais uma jogada em uma partida muito mais perigosa do que ela havia imaginado.
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Atualizado até capítulo 47
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