Uma visita indesejada

Adrian estava revisando documentos importantes em seu escritório quando foi informado da chegada de Fernanda Tonmasso. Um suspiro de irritação escapou antes que ele pudesse se controlar. Ele sabia que, quando Fernanda aparecia, raramente era uma visita agradável.

— Mande-a entrar — disse, tentando manter a voz neutra.

Fernanda entrou com sua habitual confiança, os olhos brilhando com a expectativa de alguém que acredita que o mundo está aos seus pés. Vestida de forma impecável, ela exalava uma beleza fria, mas Adrian só via as complicações que vinham com ela.

— Adrian — começou ela, com um sorriso que mal escondia a intenção por trás de sua visita. — Faz tempo que não nos vemos. Pensei que poderíamos passar um tempo juntos, conversar um pouco.

Adrian forçou um sorriso educado, mas manteve a distância emocional.

— Fernanda, estou bastante ocupado no momento. O que você precisa?

Ela se aproximou, ignorando o tom frio dele.

— Preciso de você, Adrian. Achei que já tivesse deixado isso claro. Meu pai e eu acreditamos que nosso casamento fortaleceria ainda mais a Ndrangheta. Além disso, é o que todos esperam. Não entendo por que você continua resistindo.

Adrian conteve a vontade de se afastar fisicamente. Ele sabia que Batisti Tonmasso, o pai de Fernanda, estava por trás dessa insistência, querendo consolidar ainda mais seu poder através desse casamento. Mas a ideia de se amarrar a alguém como Fernanda era algo que ele não podia aceitar.

— Fernanda, já falamos sobre isso antes. O que você e seu pai querem não é o que eu quero — respondeu ele, sua voz firme, mas controlada. — E, francamente, acredito que você merece alguém que compartilhe dos mesmos desejos.

Os olhos de Fernanda se estreitaram, uma expressão que ele reconhecia como o prelúdio de uma explosão de raiva. Mas ela se controlou, ainda tentando jogar seu charme.

— Adrian, você sabe que poderia ter tudo ao meu lado. Poder, influência... nós seríamos o casal mais forte da Ndrangheta.

Adrian sabia que Fernanda estava acostumada a conseguir tudo o que queria, mas dessa vez, ela enfrentava uma parede que não iria se mover. Ele se levantou da cadeira, sinalizando que a conversa estava chegando ao fim.

— Eu respeito o que você e seu pai querem, mas minha resposta permanece a mesma. Não vou mudar de ideia, Fernanda. Tenho meus próprios planos.

Ela ficou em silêncio por um momento, os lábios se apertando. Finalmente, com um olhar de desdém, deu meia-volta e saiu do escritório, deixando Adrian sozinho com seus pensamentos.

Quando a porta se fechou, Adrian voltou a se sentar, aliviado, mas sabendo que essa não seria a última vez que enfrentaria essa pressão. Para ele, o poder e a posição nunca seriam suficientes para justificar um casamento sem amor, e definitivamente não com alguém que ele mal podia tolerar.

Ainda assim, ele sabia que Fernanda e Batisti não desistiriam tão facilmente.

Assim que Fernanda saiu do escritório, Adrian sentiu o peso da urgência recair sobre ele. A visita dela não era apenas um incômodo; era um lembrete de que as pressões internas da Ndrangheta estavam crescendo, e que ele precisava agir rápido para evitar que as coisas saíssem de controle.

Sentado em sua cadeira, ele olhou para o telefone sobre a mesa. A aliança com Luiza Messina era o próximo passo lógico, uma maneira de solidificar sua posição e afastar de vez as investidas de Fernanda e seu pai. Mas mais do que isso, ele sabia que Luiza era uma parceira em quem podia confiar, alguém que compartilhava sua visão de poder e estratégia.

Adrian sabia que precisava adiantar as coisas com Luiza. O tempo estava se esgotando, e ele não podia mais permitir que as forças externas ditassem o ritmo de suas ações. Era hora de tomar as rédeas de sua própria vida e do futuro da Ndrangheta.

Com essa determinação renovada, ele pegou o telefone e discou para Luiza. Não havia tempo a perder.

Adrian aguardou pacientemente enquanto o telefone tocava, seus pensamentos se alinhando com a urgência da situação. Quando Luiza atendeu, sua voz era firme e direta, como sempre.

— Adrian — disse ela, sem rodeios.

— Luiza, precisamos nos encontrar — ele começou, sem perder tempo. — As coisas estão se movendo rápido demais aqui, e tenho certeza que você também está sentindo a pressão do lado da Camorra. Precisamos acelerar nossos planos.

Houve uma breve pausa do outro lado da linha, mas Adrian sabia que Luiza estava processando suas palavras, avaliando a situação como sempre fazia.

— Concordo — respondeu ela finalmente, a determinação evidente em sua voz. — Estamos cercados de inimigos internos e externos. Não podemos permitir que eles vejam qualquer sinal de fraqueza.

Adrian sentiu um alívio ao ouvir sua resposta, embora soubesse que o caminho à frente ainda seria complicado.

— Vamos nos encontrar hoje à noite — sugeriu ele. — Precisamos alinhar cada detalhe e decidir os próximos passos. Não podemos permitir mais atrasos.

— Hoje à noite, então — confirmou Luiza. — Vou estar no meu escritório.

— Estarei lá — respondeu Adrian.

Após desligar, ele se recostou na cadeira, sabendo que a conversa que teria com Luiza seria crucial. A aliança entre eles precisava se fortalecer, não apenas para lidar com as ameaças externas, mas para garantir que figuras como Fernanda Tonmasso e seu pai não pudessem interferir em seus planos.

Adrian passou as horas seguintes revisando todos os detalhes que precisavam ser discutidos naquela noite. Ele sabia que Luiza era uma estrategista formidável, e juntos, poderiam traçar um caminho que consolidasse seu poder e eliminasse qualquer ameaça à sua posição.

Quando a noite finalmente chegou, Adrian estava pronto. Ele deixou seu escritório e dirigiu-se ao encontro de Luiza, determinado a garantir que, dessa vez, estariam um passo à frente de todos os que tentavam controlá-los.

>>>Luiza<<<

Luiza desligou o telefone e ficou por um momento em silêncio, olhando pela janela de seu escritório. A cidade parecia distante, quase irreal, diante da tempestade de pensamentos que passava por sua mente. Adrian estava certo: o tempo estava se esgotando, e eles precisavam agir antes que as pressões ao redor deles se tornassem insuportáveis.

Ela sabia que a visita de Fernanda Tonmasso a Adrian era mais do que um simples incômodo. Era uma manobra calculada para tentar pressioná-lo, talvez até mesmo para forçá-lo a considerar o casamento que Batisti Tonmasso tanto desejava. Mas Adrian era inteligente e obstinado; ele não se curvaria facilmente, e isso era algo que Luiza admirava nele.

Ainda assim, o lembrete de que estavam cercados por inimigos — tanto visíveis quanto ocultos — a fez sentir a urgência da situação. Ela precisava agir com precisão cirúrgica, garantindo que cada movimento fosse calculado e eficaz. E agora, mais do que nunca, a aliança com Adrian não era apenas uma questão de conveniência, mas uma necessidade.

Luiza se levantou da cadeira e caminhou até a mesa onde um mapa da cidade estava estendido, com vários pontos marcados em destaque. Ela estudou as marcações, lembrando-se de todas as informações que haviam coletado nas últimas semanas. A ascensão ao posto de Don da Camorra já estava sendo cuidadosamente orquestrada, mas o caminho à frente estava cheio de armadilhas.

Ao pensar em Adrian, um sentimento complexo se formou dentro dela. Ele era muito mais do que um simples aliado. A noite que passaram juntos deixou uma marca em sua mente, algo que ela evitava confrontar diretamente, mas que persistia em estar presente, especialmente quando pensava na aliança que estavam prestes a solidificar.

Ela sabia que Adrian era um homem de confiança, alguém que poderia igualar sua determinação e ambição. Mas também sabia que o poder que eles estavam prestes a consolidar juntos poderia atrair ainda mais inimigos, tanto dentro quanto fora de suas respectivas organizações.

Com um suspiro profundo, Luiza pegou seu casaco e deu uma última olhada em seu escritório antes de sair. A noite seria longa, e cada segundo contava. Ela sabia que ao se encontrar com Adrian, precisaria estar no auge de sua concentração e estratégia. A aliança entre eles seria o fator decisivo para o futuro da Camorra e da Ndrangheta — e ela não podia se dar ao luxo de cometer erros.

Caminhando em direção ao carro que a aguardava, Luiza respirou fundo, permitindo-se por um breve momento sentir a tensão e o peso de suas decisões. Em breve, estaria diante de Adrian novamente, e juntos, eles traçariam o curso que determinaria o destino de ambos.

Ela entrou no carro e, enquanto ele partia em direção a empresa, a mente de Luiza já estava trabalhando, calculando cada possibilidade, prevendo cada movimento que precisariam fazer para garantir que sairiam vitoriosos dessa tempestade que se formava ao redor deles.

Quando Luiza chegou à empresa, o ambiente estava silencioso, quase opressivo, como se as paredes fossem testemunhas dos segredos e planos que estavam sendo tramados ali. A noite já havia caído, e as luzes do escritório refletiam um brilho suave no chão de mármore enquanto ela atravessava o saguão.

O segurança da entrada a cumprimentou com um aceno de cabeça, e Luiza apenas assentiu em resposta, mantendo seu foco no que estava por vir. Havia uma tensão em seu corpo que ela não conseguia ignorar, mas ao mesmo tempo, uma determinação firme a movia para frente.

Subindo para o andar onde seu escritório estava localizado, ela se preparou mentalmente para o que estava por vir. A reunião com Adrian não seria apenas sobre táticas ou estratégias — seria sobre definir os próximos passos que moldariam o futuro de ambos e das organizações que representavam.

Ao chegar ao andar de seu escritório, a porta do elevador se abriu silenciosamente, revelando o corredor familiar que levava à sua sala. As luzes estavam parcialmente apagadas, criando sombras que dançavam nas paredes enquanto Luiza avançava. Tudo estava calmo, quase como a quietude antes de uma tempestade.

Ela abriu a porta de seu escritório e entrou, sentindo o ambiente familiar. A sala, decorada com bom gosto e funcionalidade, era o coração de suas operações. No entanto, naquele momento, ela não se sentia tão em controle quanto gostaria. O encontro com Adrian seria decisivo, e a pressão de tomar as decisões certas pesava sobre seus ombros.

Ao se aproximar da mesa, ela notou que a única iluminação vinha de um abajur discreto ao lado de alguns documentos que havia deixado sobre a mesa. Luiza retirou o casaco, pendurando-o cuidadosamente, e se sentou na cadeira de couro, permitindo-se um breve momento de silêncio para se recompor.

Ela sabia que Adrian chegaria a qualquer momento, e quando o fizesse, precisariam estar em sintonia, prontos para traçar um plano que fosse à prova de falhas. O peso das expectativas do conselho da Camorra e as ameaças internas dentro da Ndrangheta eram como vultos invisíveis ao redor dela.

Enquanto aguardava a chegada de Adrian, Luiza revisou mentalmente os pontos que precisariam discutir. Cada detalhe precisava ser considerado, cada possível movimento dos inimigos previsto. E, acima de tudo, precisavam garantir que a união entre a Camorra e a Ndrangheta fosse vista como impenetrável — um sinal claro para qualquer um que pensasse em desafiar sua autoridade.

O som de passos firmes no corredor fez com que Luiza levantasse os olhos. A porta se abriu suavemente, e Adrian entrou na sala, a expressão séria, mas com um leve aceno de reconhecimento. Sem precisar de palavras, ambos sabiam que o momento havia chegado.

Ela indicou a cadeira em frente à sua mesa, e Adrian se sentou, os olhos atentos aos dela. Por um instante, a tensão que pairava entre eles foi deixada de lado, substituída por uma compreensão mútua da gravidade da situação.

— Vamos começar — disse Luiza, quebrando o silêncio.

Ela sabia que dali em diante, cada palavra e decisão tomariam forma, moldando o caminho que os dois iriam trilhar. E nesse momento, mais do que nunca, ela sentiu que precisava estar no controle absoluto — tanto de si mesma quanto do destino que estavam prestes a criar juntos.

Adrian se acomodou na cadeira, seus olhos fixos em Luiza, esperando que ela começasse a falar. Luiza respirou fundo e abriu a gaveta de sua mesa, puxando um conjunto de papéis organizados que ela havia preparado. Cada documento estava meticulosamente alinhado, refletindo a importância da reunião.

— Primeiramente, precisamos revisar o plano para o nosso noivado — disse Luiza, deslizando uma cópia do cronograma para Adrian. — A cerimônia será amanhã à noite, e precisamos garantir que tudo esteja perfeitamente coordenado. Não podemos permitir nenhum erro.

Adrian pegou o papel e deu uma olhada rápida, absorvendo os detalhes. Ele apreciava a precisão de Luiza e sua capacidade de manter o foco nos aspectos críticos.

— Está tudo em ordem — disse ele, devolvendo o documento para a mesa. — Mas eu quero discutir como vamos lidar com a pressão externa e as possíveis reações dos nossos inimigos. Fernanda Tonmasso e seu pai não são os únicos que estão atentos aos nossos movimentos.

Luiza assentiu, seus olhos demonstrando a mesma determinação que ele sentia.

— Concordo. Devemos estar prontos para qualquer eventualidade. Proponho que, durante a cerimônia, mantenhamos uma segurança reforçada e uma equipe de vigilância discreta. Isso garantirá que qualquer tentativa de sabotagem ou interferência seja rapidamente contida.

Adrian sorriu, admirando a abordagem prática e detalhista de Luiza. Ele percebeu que ela estava tão comprometida quanto ele em assegurar que seus planos fossem implementados com sucesso.

— Exatamente o que eu tinha em mente — confirmou Adrian. — E quanto ao alinhamento das nossas operações? Precisamos garantir que todos os pontos estejam coordenados para que o noivado funcione como um marco para nossa aliança.

Luiza se inclinou para frente, abrindo um mapa estratégico que detalhava os principais pontos de operação e suas respectivas responsabilidades. Ela começou a explicar como cada aspecto das operações seria integrado para garantir que a cerimônia de noivado fosse suave e segura.

— Também precisamos abordar a questão da percepção pública — continuou Luiza. — Nossos inimigos tentarão minar nossa posição, então devemos assegurar que o noivado da Camorra e da Ndrangheta seja visto como um passo forte e positivo, não uma fraqueza.

Adrian concordou, admirando a visão abrangente de Luiza.

— Então, precisamos preparar uma declaração conjunta que apresente nosso noivado como uma força inabalável. Além disso, assegure-se de que nossos aliados de confiança estejam prontos para apoiar publicamente a união, fortalecendo nossa posição frente a qualquer tentativa de contestação.

Enquanto discutiam os detalhes finais, ambos estavam cientes da magnitude do que estava em jogo. O noivado entre a Camorra e a Ndrangheta não era apenas um formalismo social, mas uma jogada estratégica para consolidar suas posições e garantir que fossem respeitados e temidos.

À medida que a reunião avançava, o clima entre eles parecia mudar de um formalismo profissional para uma colaboração mais íntima e estratégica. Eles estavam alinhados em suas metas e compartilhavam uma compreensão profunda da importância de suas ações.

Luiza se recostou na cadeira, finalmente relaxando um pouco após a discussão intensa.

— Acho que cobrimos todos os pontos principais — disse ela, um tom de alívio em sua voz. — Agora, precisamos executar o plano com precisão e garantir que nosso noivado seja sólido como o aço.

Adrian se levantou e deu um leve sorriso, um sinal de confiança e camaradagem.

— Concordo. Estaremos prontos. E quanto a nós, Luiza — ele fez uma pausa, suas palavras carregadas de significado não dito —, sabemos que o sucesso do noivado e da aliança depende de nossa colaboração e confiança mútua.

Ela o olhou nos olhos, sentindo o peso de suas palavras. A noite estava se aproximando, e com ela, a realização de um novo capítulo que começaria com o noivado e a união das duas organizações.

— Vamos em frente, Adrian. — Luiza respondeu, determinada. — E faremos isso da maneira certa.

Com isso, eles se prepararam para sair do escritório, sabendo que a próxima noite seria o início de uma nova era para ambos. E enquanto as portas do escritório se fechavam atrás deles, estavam cientes de que o verdadeiro trabalho estava apenas começando.

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