Uma surpresa

Nós brindamos, mas a noite ainda está prestes a começar de verdade.

— Mas e então, Alana? Como está sua vida amorosa? Lembro que na semana passada você me falou de um carinha. Deu alguma coisa com ele?

A expressão de Alana muda imediatamente para uma cara triste.

— Nada, amiga, absolutamente nada. A gente chegou a discutir, inclusive. Ele comentou sobre como seria para mim morar junto com alguém. Aí eu disse que a pessoa teria que aceitar ter pelo menos dois goldens e três gatos em casa, porque eu amo animaizinhos. E ele simplesmente afirmou que não poderia aceitar isso. Obviamente, eu bloqueei ele de tudo. — Sua expressão agora está completamente alterada para raiva.

— Amiga, você está certíssima. Se você já estabeleceu suas regras de que, ao morar com alguém, você quer ter os bichinhos, não pode simplesmente ceder à sua felicidade só por causa de um homem. — Clara diz.

— Às vezes parece que o problema está em mim, sabe? Nenhum homem fica. Depois que eu dou o que eles querem, eles simplesmente esquecem da minha existência. Queria não ligar pra isso, mas não consigo. — Alana está claramente abalada.

— Meu amorzinho, claro que o problema não é você! Você apenas ainda não encontrou um homem que te entenda e que seja o seu porto seguro; o homem que viraria o mundo de cabeça para baixo se você pedisse. Fica tranquila porque a sua hora vai chegar. — Digo para acalmá-la, e Clara concorda comigo.

— Isso também conta para mim e para a Clara. Já que também não encontramos os nossos príncipes encantados. — Todas riem e eu me sinto satisfeita por deixar a minha amiga feliz novamente.

Após algum tempo estamos no meio de uma conversa sobre a última filmagem quando a porta do barzinho se abre, e um silêncio súbito cai sobre nossa mesa. Meu coração quase para quando vejo Lorenzo entrando, seguido por Alex e um terceiro homem que ainda não conheço, mas que exala a mesma presença forte que Lorenzo.

— Não pode ser. — Murmuro, olhando para as meninas com os olhos arregalados. Clara e Alana estão igualmente chocadas, suas expressões de surpresa espelhando a minha.

— O que eles estão fazendo aqui? — Alana pergunta em um sussurro, sua voz cheia de incredulidade.

Antes que possamos pensar em qualquer coisa, eles nos avistam. Lorenzo esboça um sorriso que me parece deliberado, quase provocador, enquanto se aproxima da nossa mesa. O barulho ao nosso redor parece diminuir à medida que eles se aproximam, e eu sinto como se estivesse presa em um daqueles sonhos em que você sabe que algo vai acontecer, mas não consegue se mover.

— Olá, meninas. — Lorenzo cumprimenta com sua voz firme e controlada, parando ao lado da nossa mesa. — Não esperava encontrar vocês aqui.

Alex se posiciona ao lado dele, e posso ver o brilho nos olhos de Clara quando eles se encontram. E, sinceramente, não a culpo. Alex está ainda mais charmoso fora do ambiente de trabalho, com uma camisa casual e um sorriso que sugere que ele também está um pouco surpreso, mas não descontente, com esse encontro.

— Lorenzo... Alex... — Clara finalmente se recupera do choque, mas ainda parece um pouco abalada. — E quem é...?

— Este é meu irmão, Matteo. — Lorenzo responde, colocando a mão no ombro do homem ao seu lado. — Matteo, estas são Ísis, Clara e Alana.

Matteo sorri, um sorriso que é ao mesmo tempo caloroso e intrigante. Ele parece muito com o Lorenzo, não sei como não tinha percebido antes. Os seus olhos se fixam em Alana por um segundo mais longo do que o normal, e vejo o leve rubor que surge nas bochechas dela. Está claro que ele notou algo nela, e pelo jeito que ela tenta disfarçar o nervosismo, parece que o sentimento é mútuo.

— Prazer em conhecê-las. — Matteo diz, sua voz suave, mas cheia de uma confiança. Ele oferece um cumprimento educado, mas seu olhar permanece em Alana, como se estivesse tentando ler algo além da superfície.

— Querem se juntar a nós? — Pergunto, mais por educação do que por vontade real de prolongar o encontro. Mas, para minha surpresa — ou não — Lorenzo aceita sem hesitar.

— Adoraríamos. — Ele diz, puxando uma cadeira e se sentando ao meu lado, enquanto Alex e Matteo se acomodam nas cadeiras vazias ao redor da mesa.

O ambiente ao nosso redor parece mudar instantaneamente, como se o ar estivesse carregado de uma energia diferente. Clara, que raramente perde a compostura, parece um pouco mais tímida ao lado de Alex, o que é inédito. E Alana... bem, ela tenta manter a conversa casual, mas os olhares furtivos que ela e Matteo trocam são impossíveis de ignorar.

— Então, Ísis... — Lorenzo começa, virando-se para mim com aquele sorriso de quem sabe exatamente o que está fazendo. — Como está lidando com a avalanche de propostas que Clara aceitou para nós?

— Ah, está sendo uma experiência... interessante. — Respondo, tentando manter meu tom neutro. — Mas tenho certeza de que você vai adorar. Afinal, adora uma boa exposição.

Ele ri, não ofendido pelo meu comentário.

— Eu diria que estou mais interessado em ver como você se sai nisso tudo. — Ele retruca, seu olhar fixo no meu, como se estivesse tentando decifrar algo em mim que nem eu mesma conheço.

— Tenho certeza de que vou surpreender você, Lorenzo. — Respondo, desafiadora

Enquanto eu e Lorenzo trocamos farpas disfarçadas de conversa civilizada, percebo que ao nosso lado, algo interessante está acontecendo. Alex e Clara estão engajados em uma conversa tranquila, mas cheia de sorrisos e olhares trocados. Alex, normalmente reservado, parece estar mais à vontade com Clara, e ela, por sua vez, parece mais descontraída do que a vi em muito tempo.

— Então, Clara, você trabalha como assessora da Ísis há quanto tempo? — Ele pergunta, genuinamente interessado.

— Ah, já faz 1 ano. Desde que ela começou a se destacar mais como atriz. — Clara responde, sorrindo. — E você? Trabalha com Lorenzo há quanto tempo?

— Desde sempre, eu acho. — Alex ri. — Faz tanto tempo que às vezes nem lembro quando começou. Mas Lorenzo é um chefe tranquilo, então não posso reclamar.

Clara ri, e noto a forma como os olhos dela brilham quando Alex fala. Há algo novo no ar, uma tensão sutil, mas positiva, que faz com que eu me pergunte até onde isso pode ir.

Do outro lado da mesa, Alana e Matteo estão em uma conversa própria. Matteo está claramente interessado em saber mais sobre ela, e Alana, embora um pouco hesitante, parece estar gostando da atenção.

— Então, você trabalha com teatro? — Matteo pergunta, a voz cheia de curiosidade genuína.

— Sim, eu trabalho nos bastidores, produção e direção. — Alana responde, tentando parecer casual, mas seus olhos traem um pouco de nervosismo. — E você? Está envolvido nos negócios da família?

— Mais ou menos. Eu cuido da parte financeira e de alguns investimentos, mas tento manter um perfil mais discreto. — Ele responde, e há algo na forma como ele fala que parece impressionar Alana. Eles trocam sorrisos, e é como se o barzinho ao nosso redor desaparecesse por um momento.

Enquanto observo tudo isso, uma sensação estranha me invade. Não sei exatamente o que é, mas a ideia de que essa noite pode ser o início de algo maior, mais complexo, paira sobre mim. Algo me diz que esses encontros inesperados não são meras coincidências, e que cada um de nós está prestes a embarcar em algo muito mais complicado do que inicialmente imaginávamos.

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