Um acordo

A casa de Alex, meu assistente, é uma dessas mansões discretas em um bairro chique, longe dos olhares curiosos da mídia. Ele garante que o local é perfeito para a reunião, longe dos paparazzi e do caos que está prestes a se desenrolar. Enquanto esperamos, caminho de um lado para o outro na sala de estar, tentando manter a calma. Estou nervoso, irritado, mas também curioso para ver como Ísis lida com toda essa situação.

Alex entra na sala, ajustando sua gravata, sempre tão calmo e profissional.

— Elas já chegaram, Lorenzo. — Ele anuncia, mantendo aquele tom controlado que às vezes me irrita.

Respiro fundo, endireito as costas e tento colocar minha melhor máscara de indiferença. Não quero mostrar a Ísis que aquilo me incomoda, mesmo que por dentro eu esteja fervendo.

— Então, vamos acabar logo com isso. — Respondo, com um suspiro.

Alex abre a porta e logo em seguida, Clara e Ísis entram. Clara, sempre elegante e calma, acena com um sorriso que é claramente forçado. Ísis, por outro lado, mantém a expressão fechada, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e desafio. Ela usa uma jaqueta de couro preta e calças justas, uma aparência que parece gritar "não estou nem aí", mas seus olhos mostram o quanto ela odeia estar ali.

— Bom dia, senhores. — Clara começa, tentando quebrar o gelo. — Obrigada por nos receberem. Sabemos que a situação é delicada, mas acredito que podemos encontrar uma solução benéfica para todos.

— Delicada é uma palavra suave para o que está acontecendo. — Respondo, lançando um olhar significativo para Ísis. Ela cruza os braços, claramente pronta para um confronto.

— Então, vocês querem mesmo que a gente finja ser um casal? — Ísis fala diretamente, ignorando Clara e Alex. — Isso é completamente insano, e vocês sabem disso.

Eu não consigo evitar um sorriso sarcástico.

— Concordo. É insano. Mas parece que essa é a única solução que temos agora, não é? — Respondo, provocando-a.

— Insano ou não, é a melhor jogada que vocês podem fazer. — Clara intervém, tentando manter o controle da situação. — Lorenzo, você sabe como a imprensa está em cima da sua família. E Ísis, sua carreira tem muito a melhorar. Vocês dois têm muito a ganhar com essa jogada.

— Ganhar o quê? — Ísis retruca. — Uma farsa para alimentar o ego da mídia? É disso que estamos falando?

Alex, que até então está quieto, finalmente se pronuncia.

— Ísis, entendo sua frustração, mas pense na visibilidade. Isso não é apenas uma farsa. É uma oportunidade de ouro para redefinir suas imagens públicas. E o contrato que vamos estabelecer vai garantir que ambos estejam protegidos, tanto legalmente quanto financeiramente.

Ela olha para Alex, claramente não convencida.

— Um contrato? — Repete, com a sobrancelha arqueada.

— Sim. Um contrato de relacionamento falso. — Respondo, me aproximando dela, meu tom mais sério agora. — Dois meses. Isso nos dá tempo suficiente para controlar a narrativa e aproveitar ao máximo essa situação. No final, cada um segue seu caminho, e ninguém precisa saber a verdade.

Clara sorri, satisfeita com a direção que a conversa está tomando.

— E não se preocupem, — Clara continua — nós cuidamos de todos os detalhes. Vocês não precisam fazer nada além de seguir o roteiro. E claro, há uma cláusula que garante que, se algum de vocês decidir quebrar o contrato, haverá uma multa substancial. Isso mantém tudo nos trilhos.

Observo Ísis, esperando por sua reação. Sei que ela não quer isso tanto quanto eu, mas também sei que Clara e Alex estão certos. A mídia adora um casal improvável, e com a história que temos, seria um prato cheio.

— E o que exatamente esse contrato exige? — Ela pergunta, sua voz agora mais controlada, mas ainda cheia de desconfiança.

— Nada que você não possa lidar. — Respondo, pegando uma pasta que Alex preparou e entregando-a para ela. — Basicamente, devemos aparecer juntos em eventos, fazer algumas postagens "espontâneas" nas redes sociais e, claro, garantir que as pessoas acreditem que estamos apaixonados. Nada de escandaloso... apenas o suficiente para manter a mídia alimentada.

Ela abre a pasta, passando os olhos rapidamente pelos documentos.

— E como vamos lidar com isso em público? — Ísis pergunta, finalmente me olhando nos olhos. — Nós nos odiamos, Lorenzo. Como vamos convencer alguém de que estamos juntos?

— Nós somos atores, Ísis. — Respondo, com um sorriso. — Pense nisso como o papel da sua vida.

Ela ri, mas é um riso sem humor.

— Você realmente se acha o máximo, não é?

— Não é uma questão de me achar o máximo. É uma questão de sobrevivência. Tanto para mim quanto para você. — Respondo, tentando manter o tom neutro, mas é difícil com ela me encarando daquele jeito.

— Olha, Ísis, eu sei que é difícil. — Alex entra na conversa, tentando acalmar os ânimos. — Mas pense nos benefícios. Isso pode ser exatamente o que você precisa para dar aquele empurrão na sua carreira. E Lorenzo, para você, isso pode ser a distração perfeita que sua família precisa. No final, todos saem ganhando.

Houve um momento de silêncio em que Ísis parece considerar tudo. Seus olhos passam de Clara para Alex e depois para mim. Finalmente, ela solta um suspiro pesado e fecha a pasta.

— Tudo bem. — Ela diz, resignada. — Vamos fazer isso. Mas eu quero deixar claro uma coisa, Lorenzo. Não se atreva a pensar que isso significa algo mais do que um simples negócio. Entendido?

Eu sorrio, aliviado por finalmente chegarmos a um acordo.

— Ei pirralha, essa frase é minha. — Respondo, estendendo a mão para selar o acordo.

Ela hesita por um segundo antes de apertar minha mão, o olhar frio mas determinado.

— Ótimo. — Clara diz, claramente satisfeita. — Vou providenciar a assinatura dos documentos e garantir que tudo esteja pronto para o início do plano. Vocês vão se surpreender com o quanto isso pode render.

Alex concorda, acenando para Clara enquanto ela guarda a pasta.

— Tudo bem então. Acho que temos um acordo. — Diz ele, olhando para mim e Ísis.

A reunião termina com um silêncio desconfortável e enquanto Ísis e Clara se preparam para sair, não posso deixar de pensar em como essa situação tomou um caminho inesperado. Estou prestes a passar os próximos dois meses fingindo estar apaixonado pela garota que sempre me desafiou. É um cenário absurdo, mas se jogarmos nossas cartas corretamente, podemos sair disso com tudo que precisamos.

Quando a porta se fecha atrás delas, Alex se vira para mim com um sorriso satisfeito.

— Acho que isso vai ser interessante, Lorenzo.

Eu rio, balançando a cabeça.

— Interessante é um eufemismo, Alex. Mas vamos ver até onde isso nos leva.

Enquanto ele começa a organizar os papéis, volto a olhar pela janela pensando em todos os desafios que essa farsa trará. Dois meses. Eu posso fazer isso.

Mas ao mesmo tempo sei que com Ísis envolvida nada será tão simples quanto parece.

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