Burburinhos no set

...Ísis Bianchi...

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O sol da manhã é ofuscante, mas bem-vindo, enquanto eu caminho em direção ao set de filmagens. O ar fresco ajuda a aliviar a leve dor de cabeça que eu sinto, mas o verdadeiro peso que carrego é mental. Acordar e lembrar que agora estou presa em um contrato de "relacionamento" com Lorenzo D'Castelli... nada poderia ser mais surreal.

Ontem, fui até a casa do assistente do Lorenzo junto com a Clara. Nós discutimos e eu acabei aceitando o contrato de um relacionamento de dois meses. Não sei onde estava com a cabeça. Não sei se realmente vou conseguir fingir estar apaixonada por aquele cretino.

Assim que chego ao set, sou recebida por Alana, minha amiga mais antiga e, sem dúvida, a pessoa que mais me compreende. Conheci Alana aos 14 anos, logo após começar a atuar no teatro da escola. Ela é uma das poucas pessoas ricas daquele colégio que não me julgava por ser bolsista e sempre esteve ao meu lado, mesmo nos momentos mais difíceis. Alana tem um sorriso fácil e uma energia que ilumina qualquer ambiente, e mesmo hoje, quando me sinto tão perdida, ela consegue arrancar um sorriso de mim.

— Ísis! — Ela grita, correndo até mim com os braços abertos. — Precisamos falar sobre aquela BOMBA que estourou ontem! Você e o Lorenzo? O que está acontecendo?

Reviro os olhos e rio de leve, mais por hábito do que por real divertimento.

— Alana, por favor, nem me fala disso. É uma longa história, e eu preferiria não pensar muito nisso agora. — Respondo, tentando mudar de assunto, mas sei que será impossível.

— Ah, você não escapar fácil assim! — Ela diz, insistente, enquanto andamos em direção ao nosso trailer. — As pessoas estão dizendo que vocês dois combinam e, francamente, depois de ver as fotos... tenho que concordar.

Suspiro, resignada.

— Tá todo mundo maluco! Combinamos tanto quanto água e óleo. — Falo, tentando parecer indiferente, mas a verdade é que ouvir isso me incomoda mais do que eu gostaria de admitir.

Alana ri, balançando a cabeça.

— Sei lá, Ísis. Talvez tenha mais coisa aí do que você quer admitir. Mas vamos falar disso depois. — Ela me dá um olhar significativo, sabendo que ainda estou digerindo tudo.

Entramos no trailer, onde os maquiadores e cabeleireiros já estão esperando para nos preparar para a filmagem do dia. Enquanto me sento para começar a maquiagem, não consigo evitar ouvir os sussurros que circulam pelo set.

— Será que eles estão realmente juntos? — Uma das assistentes de produção pergunta, claramente referindo-se a mim e Lorenzo.

— Eles ficam tão bem juntos. Você viu as fotos? Pareciam tão apaixonados. — Outra responde, com um brilho nos olhos.

Fecho os olhos, tentando ignorar os comentários e focar no trabalho. Mas, honestamente, é impossível. A farsa já saiu do controle, e eu mal comecei a cumprir minha parte no contrato.

— Não liga pra eles, Ísis. — Alana sussurra ao meu lado, enquanto mexem em seu cabelo. — Eles só querem algo pra fofocar. Nós sabemos a verdade, e é isso que importa.

— Sim, mas até quando vamos conseguir manter essa verdade em segredo? — Pergunto, mais para mim mesma do que para ela.

Ela dá de ombros.

— O que importa é que você esteja bem com tudo isso. E se as coisas ficarem fora de controle, eu estou aqui, você sabe disso.

Olho para Alana, grata por ter alguém como ela ao meu lado. Durante todos esses anos, ela sempre está lá, e sei que posso contar com ela, mesmo nas situações mais absurdas, como essa.

A sessão de maquiagem termina rapidamente, e logo estamos no set, prontos para começar as gravações. O diretor nos dá as instruções, e todos estão focados em fazer seu trabalho, mas eu sinto os olhares furtivos, as perguntas não ditas. É como se uma sombra pairasse sobre o set, e essa sombra tem nome: Lorenzo D'Castelli.

Enquanto as câmeras rodam, entro no personagem, deixando a atuação fluir naturalmente. Por algumas horas, consigo esquecer tudo o que está acontecendo fora dali. É libertador. Mas assim que o diretor grita "Corta!", a realidade volta a bater à porta.

— Ísis! — Uma das atrizes do elenco, Mariana, corre até mim com um sorriso malicioso no rosto. — Preciso saber... como ele é? Quer dizer, o Lorenzo. Vocês realmente estão juntos?

— Mariana, por favor, nem começa. — Respondo, tentando manter um tom leve, mas ela não está disposta a desistir tão fácil.

— Ah, não seja assim! Vocês dois são o casal do momento. Estou dizendo, a química de vocês é palpável!

Reviro os olhos, fingindo impaciência.

— Mariana, você vai descobrir daqui um tempo, só isso. — Respondo, meio rindo, mas por dentro sinto uma inquietação crescendo.

Ela ri, não convencida, e se afasta, mas não sem antes lançar um último olhar intrigado.

Quando finalmente termino as cenas do dia, estou exausta, tanto física quanto mentalmente. Alana se aproxima, com aquele olhar compreensivo que só ela sabe dar.

— Vamos dar uma volta? — Ela sugere, e eu aceito imediatamente. Preciso de um tempo para clarear a mente.

Caminhamos pelo estúdio, encontrando um canto tranquilo onde podemos sentar e conversar. Eu sei que ela está esperando por uma explicação, e honestamente, eu preciso desabafar.

— Alana... eu nem sei por onde começar. — Digo, esfregando as têmporas e sentindo a pressão acumulada do dia inteiro.

Ela apenas sorri, me incentivando a continuar.

— Ontem foi uma loucura. — Começo a contar sobre o contrato, as fotos e todo o plano que Clara elaborou. — Agora estou presa nisso por dois meses, fingindo estar com o Lorenzo... o cara que eu mais odeio no mundo.

Ela fica em silêncio por um momento, absorvendo tudo o que eu digo.

— Ísis, isso é realmente complicado. Mas... você acha que pode lidar com isso? — Ela pergunta, a preocupação evidente em sua voz.

Eu não tenho uma resposta clara para essa pergunta. Por mais que queira acreditar que posso simplesmente seguir o plano e sair ilesa no final, uma parte de mim sabe que isso não será tão fácil.

— Eu não sei, Alana. Só sei que não tenho muita escolha agora. Preciso seguir com isso e ver onde vai dar. — Respondo olhando para o céu que já começa a escurecer.

Ela assente segurando minha mão e oferecendo o conforto silencioso que só uma amiga verdadeira pode dar.

— Seja o que for, você sabe que estou aqui, não é? — Ela diz me encarando com aqueles olhos que transmitem uma sinceridade.

— Eu sei, Alana. E agradeço por isso. — Respondo sentindo uma pontada de alívio em saber que não estou sozinha.

No entanto, enquanto caminhamos de volta, um sentimento inquietante começa a tomar conta de mim. Algo sobre tudo aquilo parece... errado. Há uma sombra maior pairando sobre nós e eu não consigo identificar exatamente o que é mas sei que está lá esperando o momento certo para se revelar.

Quando finalmente me despeço de Alana e volto para casa, não posso deixar de pensar no que está por vir. O contrato está assinado, os papéis estão em movimento mas eu tenho a sensação de que o jogo está apenas começando.

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