Capítulo 20

Harris esperou um dia para poder visitar o templo, precisava falar com Beryl, queria saber sobre aquele rumor sob o ponto de vista do ômega. Ao chegar, pediu para falar com Beryl, embora primeiro o tenham levado até o cardeal, que perguntou o motivo de sua visita, já que era a segunda vez que o visitavam e só o tinham feito se sentir mal.

— A Srta. Alison veio há pouco tempo e só causou que o jovem Beryl se alterasse por causa de suas lembranças do passado. — mencionou o cardeal.

— Compreendo, ouvi sobre os rumores e quero saber a verdade, quero saber se realmente a Srta. Alison é a pessoa que eu penso que é.

— Bem, mas por favor, se ele não quiser falar sobre isso, não o pressione. — pediu o cardeal.

Harris aceitou, então uma criada o guiou até o lugar onde Beryl costumava ficar durante algumas horas. A criada bateu e, ao receber permissão para entrar, informou que o príncipe desejava vê-lo, Beryl permitiu.

Ao entrar naquela sala, Harris notou que havia muitas plantas e um jogo de sala perto das grandes janelas, assim como uma mesa de chá do outro lado. O cardeal havia mandado preparar aquela sala para que fosse um lugar de descanso para o rapaz. Beryl o convidou a se sentar.

— Se veio me repreender pelo que aconteceu com a Srta. Alison, é melhor não falarmos.

— Não, quero saber a verdade, ela o tratou mal? Na cidade dizem que ela também lhe fez mal.

— Fisicamente não, mas ela nunca dizia nada, via como me tratavam e apenas sorria. Isso também é doloroso. — Abaixou o olhar.

— Ela sabia que você seria o sacrifício? — perguntou nervoso.

— Sabia, mas ainda assim se recusou a ser, disse que jamais se sacrificaria por ninguém e que, por mim, ninguém sentiria minha falta. — Abraçou a si mesmo.

Harris estava pasmo com o que ouvia, Alison, a mulher que ele sempre viu como uma boa pessoa, era tão cruel? Era como se estivessem falando de outra pessoa.

— Isto... é tão confuso...

— Eu sei que não acredita em mim, ela é a pessoa que você ama e não o obrigarei a acreditar, mas espero que não queira me impedir de dizer a verdade. — olhou fixamente para Harris.

— Não, não lhe peço que se cale, está no seu direito de expressar o que sente. É só que estou confuso, quem é realmente a mulher com quem eu planejava me casar?

— É igual aos seus pais, uma farsa, inclusive duvido que ela não soubesse que você era seu irmão, muitas vezes ouvi a condessa me chamar de bastardo do conde. — acrescentou mais lenha à fogueira.

— Compreendo. Agradeço sua sinceridade, me certificarei de que os condes e a Srta. Alison não voltem a perturbar sua tranquilidade.

Harris se despediu. Beryl cruzou os braços ao ver que Harris havia saído pela porta, mas atrás dele apareceu Frederick.

— Você é um rato rosa astuto, gosta de criar problemas. — sussurrou Frederick.

Beryl se assustou e se afastou do dragão.

— Ele mereceu, além disso, é verdade, aquela tipinha nem sequer teve compaixão de mim, merece ficar sem casamento. — respondeu.

— Tanto ódio em um corpo tão pequeno. — Sentou-se. — Mas eu gosto, você sabe como usar tudo a seu favor.

— Sou como um chihuahua, dez por cento fofura, noventa por cento ódio. — assentiu.

— O que é um chihuahua? — levantou uma sobrancelha, em dúvida.

— É um cachorro pequeno, na minha outra vida meu amigo tinha um e ele mordeu meu dedinho... — mostrou o dedo, enquanto percebia o que havia dito.

Frederick ficou em silêncio, outra vida? Será que suas mentiras estavam afetando sua cabeça? Era realmente muito estranho.

— Hum... acho que... foi algo que eu sonhei... — riu nervoso.

— Tenha cuidado, não acredite em suas próprias mentiras. — zombou.

Frederick se retirou da sala, por enquanto precisava ir para seu castelo e ver como estavam as coisas por lá, só esperava que o ômega não se metesse em problemas estando sozinho por algumas horas. Mesmo assim, o dragão ficou pensando no que Beryl havia dito, e ele realmente falava coisas estranhas, seria possível que tivesse tido uma vida antes de nascer como Beryl? A ideia parecia tão absurda, mas era melhor não pressioná-lo com esse assunto.

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Alison, por sua vez, não tinha conseguido ver o príncipe desde aquele dia em que Harris estava irritado e o boato não parava, inclusive seus pais estavam sendo duramente criticados pela sociedade. Alison também vinha sendo alvo de chacota das jovens, a moça, irritada, jogou os livros de sua escrivaninha, livros que ela vinha estudando para sua preparação como princesa herdeira.

— Tudo por sua culpa, minha vida está arruinada... eu não tenho culpa... não sabia que ele era meu irmão... era apenas um servo... — reclamou.

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Frederick retornou tarde ao templo, então entrou pela janela de seu quarto, por sorte a havia deixado aberta, mas antes de dormir, foi até o quarto do ômega, que tinha uma porta comunicante. Beryl já estava dormindo, mas, como estava com o cabelo solto, os fios cobriam seu rosto, então Frederick os afastou com cuidado, observando o rosto adormecido do pequeno e, de fato, era muito bonito, por isso ele tinha um ego inflado. O rapaz franziu os lábios enquanto resmungava baixinho, fazendo com que Frederick soltasse uma risadinha e, ao perceber, se acalmou, mas se assustou ao ver que Beryl havia aberto os olhos.

— Você voltou... pensei que tivesse fugido e que eu teria que governar o reino sozinho. — Sentou-se na cama, esfregando os olhos com a mão.

— E deixar toda a glória para você? Jamais. — sentou-se na beirada da cama. — Espero que não tenha se metido em problemas.

— Hoje não, talvez amanhã, quando você estiver aqui para resolver. — respondeu, enquanto esticava as mãos para cima. — Como estão Rina, Angela? Ah, e o Jack?

— Bem, mas sentem falta do quão barulhento você é. Angela me deu uma mala com algumas de suas roupas, as deixei no meu quarto. — apontou para a porta.

— Irei buscá-las amanhã, agora não quero me levantar, melhor dormirmos. — deitou-se novamente e deu um tapinha no lugar ao seu lado. — Anda, vamos dormir.

— Não é apropriado, não quero que pense que fico com você apenas por obrigação. — respondeu. — Vou para o meu quarto.

Frederick o cobriu com o lençol e o deixou continuar dormindo.

— Eu jamais pensaria isso... — murmurou por último.

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