Segredos de Família

 Capítulo 7: Fragmentos do Coração

 Subcapítulo 7.1: Segredos de Família

Enquanto os últimos visitantes deixavam a Casa das Marés, Sofia sentiu um misto de alívio e exaustão. A exposição tinha sido um sucesso, atraindo tanto os habitantes locais quanto os curiosos de fora. A verdade sobre Beatrice e Thomas finalmente estava exposta para que todos vissem. Mas, no fundo, Sofia sabia que essa revelação era apenas o começo. Havia mais camadas de segredos, não apenas sobre a história de Bellehaven, mas também sobre sua própria família.

Sofia fechou as portas da mansão e caminhou lentamente pelos corredores, agora vazios. As paredes pareciam sussurrar segredos antigos, enquanto ela refletia sobre os eventos recentes. Decidiu ir até o sótão, um lugar que ainda não havia explorado completamente. Algo a atraía para lá, uma sensação de que ainda havia algo importante a ser descoberto.

No sótão empoeirado, ela começou a vasculhar caixas e baús esquecidos. Entre objetos antigos e lembranças da família Davenport, Sofia encontrou um pequeno baú de madeira, trancado com uma fechadura enferrujada. Usando uma ferramenta que tinha à mão, ela conseguiu abrir o baú. Dentro, encontrou um conjunto de cartas amarradas com uma fita desbotada e um diário pequeno e surrado. Para sua surpresa, as cartas eram endereçadas a um nome familiar: Alencar.

Com mãos trêmulas, Sofia começou a ler. As cartas eram de sua bisavó, Isadora Alencar, e revelavam uma conexão profunda com os Davenport. Isadora fora amiga íntima de Beatrice e, aparentemente, estava ciente do romance secreto entre Beatrice e Thomas. Ela havia mantido essa amizade em segredo, protegendo Beatrice das fofocas e do julgamento da sociedade.

Conforme Sofia lia mais, descobriu algo ainda mais perturbador: Isadora também estava apaixonada por Thomas. As cartas expressavam sua dor e conflito, amando um homem que estava comprometido com sua melhor amiga. Isadora nunca revelou seus sentimentos para Beatrice, mas suas palavras transmitiam uma paixão contida e uma lealdade inabalável.

O diário de Isadora fornecia mais detalhes, revelando encontros secretos e conversas que compartilhara com Thomas. Ele confiava nela e, em muitas ocasiões, confessou seus medos e planos. Isadora, por sua vez, registrava tudo com uma honestidade crua, seu coração dividido entre a felicidade de Beatrice e sua própria angústia silenciosa.

Sofia sentiu uma onda de emoção ao perceber as profundezas das conexões entre suas famílias. Isadora tinha carregado esse fardo sozinha, e agora, mais de um século depois, Sofia estava desvendando essa rede de sentimentos e segredos. Ela pegou seu celular e ligou para Henry, seu irmão, pedindo que ele viesse à Casa das Marés.

Enquanto esperava, Sofia continuou a explorar o diário de Isadora. Em uma das últimas entradas, Isadora mencionava uma reunião clandestina que Thomas e Beatrice planejavam na noite do desaparecimento de Thomas. Isadora pretendia encontrá-los e ajudá-los a fugir, mas algo a impediu. As palavras no diário eram confusas, indicando que Isadora tinha sido descoberta e ameaçada.

Henry chegou, ofegante, e encontrou Sofia no sótão, cercada pelos artefatos antigos. "O que foi, Sofia? Você parecia tão urgente no telefone."

Ela estendeu as cartas e o diário para ele. "Você precisa ler isso. É sobre a nossa bisavó Isadora e sua ligação com Beatrice e Thomas."

Enquanto Henry folheava os documentos, seu rosto mudava de incredulidade para tristeza. "Então, nossa família estava envolvida desde o começo. E Isadora... ela estava apaixonada por Thomas?"

"Sim," respondeu Sofia. "E ela tentou ajudá-los. Mas parece que algo ou alguém a impediu naquela noite."

Os dois ficaram em silêncio por um momento, absorvendo a gravidade das revelações. Henry quebrou o silêncio. "Precisamos saber mais sobre o que aconteceu com Isadora naquela noite. Pode haver mais registros ou talvez alguém na cidade saiba de algo."

Com essa nova determinação, Sofia e Henry decidiram entrevistar os habitantes mais antigos da cidade novamente, agora armados com as novas informações. Martha Bennett, uma das anciãs que Sofia já havia entrevistado antes, parecia ser a melhor escolha. Ela tinha uma memória prodigiosa e adorava compartilhar histórias sobre Bellehaven.

No dia seguinte, Sofia e Henry foram até a pequena casa de Martha. Ela os recebeu calorosamente, servindo chá e biscoitos, e estava visivelmente intrigada quando Sofia mencionou Isadora Alencar.

"Ah, sim, Isadora," disse Martha, seus olhos brilhando com lembranças. "Minha avó costumava falar dela. Diziam que Isadora era uma mulher de grande coragem e coração."

Sofia e Henry compartilharam com Martha o que haviam descoberto. A idosa ouvia atentamente, seu rosto refletindo surpresa e compreensão. "Minha avó uma vez mencionou que Isadora tinha um segredo que a atormentava. Ela sempre falava sobre uma noite em particular, mas nunca revelou os detalhes."

Martha pensou por um momento antes de continuar. "Existe um antigo celeiro na propriedade dos Davenport, onde dizem que Isadora se encontrava com Thomas. Talvez haja algo lá que possa explicar o que aconteceu naquela noite."

Animados com a possibilidade, Sofia e Henry agradeceram a Martha e se dirigiram ao celeiro. Era uma estrutura antiga, coberta de hera e parcialmente desmoronada. Com algum esforço, eles conseguiram entrar. Vasculharam o lugar, iluminando cada canto com lanternas.

Finalmente, em um canto escuro, encontraram uma caixa de madeira envelhecida. Dentro, havia um conjunto de documentos e uma carta escrita por Isadora. Na carta, ela descrevia os eventos daquela noite. Isadora fora descoberta por Charles Davenport, pai de Beatrice, que ameaçou arruinar sua família se ela ajudasse Beatrice e Thomas. Isadora, temendo pelas consequências, foi forçada a desistir.

Com lágrimas nos olhos, Sofia leu a última parte da carta, onde Isadora expressava seu arrependimento e dor por não ter podido ajudar seus amigos. Ela implorava para que, um dia, a verdade fosse conhecida e as injustiças corrigidas.

Sofia e Henry saíram do celeiro, carregando o peso das revelações. "Precisamos fazer algo com isso," disse Henry. "Isadora merece que a verdade seja conhecida."

Sofia concordou. "Vamos incluir isso na exposição. Bellehaven precisa saber toda a verdade, não apenas sobre Beatrice e Thomas, mas também sobre Isadora e seu sacrifício."

De volta à Casa das Marés, Sofia sentou-se para escrever uma nova adição à exposição. Com cada palavra, ela sentia a presença de sua bisavó, como se Isadora estivesse ali, guiando sua mão. Quando terminou, Sofia sabia que havia honrado o legado de sua família e os fragmentos de um romance que transcenderam o tempo.

Enquanto os primeiros raios do sol da manhã iluminavam a Casa das Marés, Sofia sentiu um profundo senso de paz e resolução. Ela havia encontrado os fragmentos do coração de sua própria história, entrelaçados com os de Beatrice e Thomas. E agora, finalmente, estava pronta para seguir em frente, abraçando um futuro moldado pela verdade e pelo amor.

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