Cartas esquecidas

Capítulo 2: Ecos do Passado

Subcapítulo 2: Cartas Esquecidas

Sofia mergulhou nas cartas de Beatrice e Thomas como quem desvenda os elos de um mistério antigo, cada página revelando não apenas um romance proibido, mas também os desafios e perigos que os amantes enfrentaram no século XIX. No silêncio da noite, enquanto o farol de Bellehaven varria a escuridão além da janela da biblioteca, ela se encontrava absorta nas palavras que ecoavam séculos de distância.

A cada carta, Beatrice descrevia seus encontros secretos com Thomas nos recantos sombrios dos jardins da Casa das Marés. Sob a lua prateada, eles partilhavam juras de amor e sonhos de um futuro onde as convenções sociais não teriam poder sobre eles. No entanto, Sofia notou um tom crescente de apreensão nas últimas cartas de Beatrice, conforme a pressão de seu pai, Lord Charles Davenport, se intensificava para casá-la com um pretendente adequado à sua posição social.

Foi em uma carta datada de julho de 1895 que Sofia encontrou um fragmento crucial do enigma: um plano de fuga meticulosamente traçado por Beatrice e Thomas. Eles planejavam escapar no navio do comerciante local, Joseph McGregor, que simpatizava com sua causa. Mas na véspera da partida, algo terrível aconteceu.

Thomas desapareceu.

A carta de Beatrice naquela noite era uma confissão de desespero. Ela contava como esperara por horas na praia, seu coração afundando à medida que as horas se arrastavam sem sinal de Thomas ou do navio que deveria levá-los para longe. O que acontecera naquela noite, Sofia não conseguia imaginar. A dor de Beatrice transpassava o papel desgastado, sua esperança desvanecendo-se à medida que a realidade sombria se impunha.

Conforme Sofia lia, ela sentia o peso da tragédia que se abateu sobre os jovens amantes. A morte prematura de Beatrice pouco depois do desaparecimento de Thomas apenas aprofundou o mistério e a tragédia que envolvia a Casa das Marés. Teria sido um acidente? Um ato de violência premeditada? Ou algo mais sinistro, oculto sob as ondas quebrando na costa rochosa de Bellehaven?

À medida que o sol nascia sobre a cidade adormecida, Sofia sentiu-se compelida a descobrir a verdade. Ela sabia que cada carta, cada palavra escrita à luz de velas trêmulas, era uma peça do quebra-cabeça que ela se comprometera a resolver. Erguendo-se da mesa da biblioteca, ela decidiu buscar respostas nos arquivos da cidade e nas memórias dos mais antigos habitantes de Bellehaven.

Nos dias seguintes, Sofia mergulhou ainda mais fundo na investigação. Ela consultou registros históricos empoeirados no arquivo da cidade, descobrindo relatos dispersos sobre o desaparecimento de Thomas Mason e a morte prematura de Beatrice Davenport. Os arquivos mencionavam rumores de uma disputa familiar intensa entre os Davenport e os Mason, alimentando ainda mais a especulação sobre o destino dos jovens amantes.

Paralelamente, Sofia entrevistou os anciãos de Bellehaven, ouvindo histórias transmitidas de geração em geração sobre os eventos turbulentos que haviam marcado a história da cidade. Alguns se recordavam de como a notícia do desaparecimento de Thomas havia abalado a comunidade, enquanto outros sussurravam sobre segredos guardados a sete chaves pelas famílias mais proeminentes.

Em uma tarde quente de verão, Sofia encontrou-se com Agatha McGregor, a última descendente viva do comerciante Joseph McGregor. Com mais de noventa anos, Agatha possuía memórias fragmentadas de sua infância, mas uma história em particular a intrigava: as conversas que ouvira entre seu avô e Thomas, sussurradas em voz baixa nos cantos escuros da taverna local.

"Thomas tinha medo", murmurou Agatha, seus olhos nublados pelo tempo fixos nos de Sofia. "Ele sabia que algo estava errado na noite em que desapareceu. Meu avô nunca mais foi o mesmo depois daquela noite."

A revelação de Agatha trouxe um novo enigma à superfície, lançando luz sobre os eventos finais antes do desaparecimento de Thomas. Sofia tomou notas meticulosas, absorvendo cada detalhe como peças de um quebra-cabeça que começavam a se encaixar lentamente.

Ao voltar para a Casa das Marés naquela noite, Sofia sentiu a presença dos fantasmas do passado ao seu redor. A verdade estava próxima, ela sabia disso. E a única maneira de honrar a memória de Beatrice e Thomas era trazendo à luz os segredos que haviam sido esquecidos por muito tempo nas sombras de Bellehaven.

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