Investigação no Arquivo Histórico

Capítulo 3: Segredos Ocultos

Subcapítulo 3.1: Investigação no Arquivo Histórico

A manhã em Bellehaven amanheceu envolta em uma névoa suave, a luz do sol filtrando-se em delicadas faixas douradas através das nuvens baixas. Sofia se dirigiu ao Arquivo Histórico da cidade, acompanhada de Daniel, cuja presença se tornara uma constante tranquilizadora em sua vida. A atmosfera misteriosa da cidade parecia um reflexo perfeito das complexidades que estavam prestes a desenterrar.

O Arquivo Histórico de Bellehaven, um edifício de pedra antiga com paredes cobertas de hera, situava-se no coração da cidade. Ao entrar, foram recebidos pelo som de folhas de papel farfalhando e o cheiro familiar de livros antigos. A bibliotecária, uma mulher de meia-idade chamada Agnes, os cumprimentou com um sorriso gentil.

— Bom dia, Sofia, Daniel. Como posso ajudar vocês hoje? — perguntou Agnes, ajustando os óculos no nariz.

— Bom dia, Agnes. Precisamos de acesso aos registros antigos, especialmente os relacionados à família Davenport e aos acontecimentos do final do século XIX — explicou Sofia, sua voz carregada de determinação.

Agnes acenou com a cabeça e os guiou até uma seção do arquivo raramente visitada, onde estavam guardados os documentos mais antigos e frágeis. As prateleiras estavam cheias de volumes encadernados em couro, caixas de arquivos e mapas envelhecidos. Daniel começou a vasculhar uma coleção de jornais antigos, enquanto Sofia se concentrava em um conjunto de diários e correspondências.

Enquanto folheava um diário empoeirado, Sofia encontrou uma entrada de 1895 que chamava a atenção:

"Hoje, o Sr. Mason desapareceu de maneira inexplicável. Houve rumores de uma briga na noite anterior, mas ninguém sabe ao certo o que aconteceu. A Srta. Beatrice está inconsolável."

Sofia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Esse poderia ser o indício que procuravam. Ela mostrou a entrada a Daniel, que franziu o cenho ao ler as palavras.

— Parece que houve um conflito na noite do desaparecimento de Thomas. Precisamos descobrir quem mais estava envolvido e o que exatamente aconteceu — disse Daniel, com um tom de urgência na voz.

Continuaram a pesquisa, encontrando mais detalhes sobre a noite fatídica. Relatórios de testemunhas mencionavam a presença de vários homens na área do cais, onde Thomas costumava trabalhar. Um nome, em particular, se repetia: Robert Higgins, um capataz local conhecido por sua lealdade à família Davenport.

Sofia e Daniel decidiram investigar mais sobre Higgins, na esperança de que isso os levasse a entender melhor os eventos daquela noite. Enquanto isso, encontraram um mapa antigo da propriedade Davenport, que mostrava áreas que agora estavam escondidas ou esquecidas. Entre elas, um pequeno anexo na Casa das Marés, possivelmente um esconderijo.

— Este mapa pode ser crucial. Precisamos explorar essa área na casa — sugeriu Sofia, traçando com o dedo a localização no papel amarelado.

No dia seguinte, Sofia e Daniel retornaram à Casa das Marés, armados com o mapa e renovada determinação. A mansão estava silenciosa, com apenas o som ocasional de pássaros do lado de fora. Seguiram as indicações do mapa até um anexo que parecia ter sido usado como depósito. A porta estava emperrada, mas após alguns empurrões, abriu-se com um rangido alto.

O interior estava escuro e cheirava a mofo. Com lanternas em mãos, começaram a examinar o espaço. Entre velhos móveis e caixas empoeiradas, encontraram um baú de madeira. Sofia se ajoelhou ao lado do baú, seu coração acelerado enquanto levantava a tampa. Dentro, havia uma coleção de documentos e objetos pessoais.

Entre os itens, havia um conjunto de cartas escritas por Robert Higgins, endereçadas a Charles Davenport. As cartas revelavam um esquema elaborado para separar Beatrice e Thomas. Em uma delas, Higgins descrevia como planejava criar uma situação que forçasse Thomas a deixar a cidade.

"Senhor Davenport, a situação será resolvida conforme o planejado. Mason não será mais um problema para a sua família."

Sofia sentiu a raiva ferver dentro de si. Era evidente que Charles Davenport havia orquestrado o desaparecimento de Thomas com a ajuda de Higgins. Ela olhou para Daniel, que estava igualmente chocado com a descoberta.

— Isso confirma nossas suspeitas. Davenport fez tudo o que podia para manter Beatrice e Thomas separados, inclusive recorrer à violência e à manipulação — disse Daniel, sua voz sombria.

Ainda folheando os papéis, encontraram uma carta nunca enviada, escrita por Beatrice. Ela implorava ao pai que reconsiderasse sua posição e permitisse que ela e Thomas ficassem juntos. A carta era um testemunho comovente do amor e desespero de Beatrice.

"Pai, suplico-lhe que veja além das convenções e compreenda que o meu amor por Thomas é verdadeiro. Não podemos viver nossas vidas em conformidade com um destino imposto. Deixe-nos ser felizes."

Sofia sentiu lágrimas se formarem em seus olhos. A dor e o sofrimento de Beatrice eram palpáveis através das palavras. Determinada a trazer justiça à memória de Beatrice e Thomas, ela e Daniel sabiam que precisavam continuar a cavar mais fundo.

Decidiram confrontar Agnes para ver se ela sabia algo mais sobre Robert Higgins. Ao retornar ao arquivo, encontraram-na organizando uma prateleira de livros antigos.

— Agnes, encontramos algumas coisas que precisamos discutir com você. Tem informações sobre Robert Higgins? — perguntou Sofia, tentando manter a calma.

Agnes suspirou, parecendo saber que esse momento chegaria.

— Robert Higgins era um homem complicado. Foi capataz dos Davenport por muitos anos e era ferozmente leal. Muitos diziam que faria qualquer coisa por Charles Davenport. Quando Higgins morreu, muitas histórias morreram com ele — respondeu ela, olhando com seriedade para Sofia e Daniel.

Agnes então mencionou que havia um velho cofre nos arquivos da família Davenport que nunca fora aberto. Achavam que continha documentos importantes, mas a chave se perdera.

— Precisamos encontrar essa chave, Sofia. Talvez o cofre tenha as respostas finais que procuramos — disse Daniel, com uma expressão de determinação.

A investigação continuava, e com cada nova descoberta, o mistério se tornava mais complexo e envolvente. Sofia e Daniel estavam determinados a descobrir a verdade, não apenas por Beatrice e Thomas, mas para que a história de Bellehaven pudesse ser contada com todas as suas sombras e luzes.

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