CAPÍTULO 16

O tão esperado dia finalmente havia chegado. O momento em que o peso físico e emocional do gesso seria retirado, deixando-me livre para voltar à minha vida normal. Cada segundo daquela espera pareceu uma eternidade, mas finalmente, a enfermeira entrou na sala com suas mãos gentis e experientes, pronta para libertar minha perna de sua prisão de gesso.

Eu me sentia repleto de esperança enquanto ela trabalhava, cuidadosa para não causar mais desconforto do que o necessário. Cada raspagem e corte eram como uma libertação, uma promessa de que em breve estaria livre para andar novamente. E então, quando finalmente minha perna emergiu daquele casulo de gesso, senti um alívio avassalador inundar meu corpo.

Mas esse alívio durou pouco.

Assim que tentei colocar minha perna no chão, uma onda de dor aguda me atravessou, como se meu corpo estivesse protestando contra o contato com o solo. Era como se o alívio que eu havia sentido momentos antes desaparecesse instantaneamente, substituído pela realização de que o caminho para a recuperação ainda estava repleto de obstáculos.

A enfermeira segurou meu braço, oferecendo apoio enquanto eu lutava para me equilibrar. Cada passo era uma batalha.

Eu gritei de dor, mas a enfermeira tentou me acalmar.

— É assim nos primeiros dias, mas com um pouco de fisioterapia, você vai andar normal.

— O quê?! Isso significa que não posso andar normal ainda?

— É claro, querida. Você precisa repousar, e pelo inchaço da sua perna, eu percebi que você não fez isso. A conta iria chegar uma hora ou outra. Agora você vai ter que respeitar seu corpo, se não sua capacidade de andar vai ser comprometida.

— Mas eu não posso repousar, preciso trabalhar.

— E que tipo de trabalho é esse, que não respeita os dias do atestado? Se isso está acontecendo, esse é um ambiente tóxico e insalubre.

— Eu trabalho em uma cafeteria, que é do meu tio. Ele me faz servir os clientes, limpar as mesas, lavar a louça e ainda cuidar do caixa. Eles me pagam um salário mínimo, mas me obrigam a fazer horas extras sem remuneração. E se eu reclamo, eles me ameaçam de demissão ou me xingam de preguiçosa e incompetente. Então, eu não posso parar.

— Isso é um absurdo! Você tem direitos trabalhistas, sabe disso? Você pode denunciar essa situação ao sindicato ou à justiça.

— Eu não posso… Por que é o meu único meio de renda. Eu moro sozinha.

— E os seus pais?

Um nó se enrolou na minha garganta.

— Bem, eles morreram.

A enfermeira olhou-me com empatia, compreendendo a minha difícil situação.

— Lamento muito ouvir isso, Serena. Deve ter sido muito difícil para você lidar com tudo sozinha.

Eu assenti, sentindo a dor da perda ressurgindo dentro de mim.

— Sim, foi... é. Além de tudo, é muito difícil ser sozinha, sabe? Eu me sinto impotente. Meu tio deveria cuidar de mim como sua sobrinha, mas ele só está interessado nos próprios interesses. Ele nunca se importou comigo, para ser sincera. Só decidiu me contratar porque era uma mão-de-obra fácil e barata. Agora estou aqui, sem saber o que fazer.

A mulher colocou a mão no queixo, ponderando a situação.

— Bom, existem coisas que você pode fazer, como procurar um novo emprego. Deixe-me pensar... — Refleti por um momento. — Meu filho trabalhava em uma agência de empregos, talvez você deva dar uma olhada no site deles. Não custa tentar.

Olhei para ela, um lampejo de esperança cruzando meu rosto.

— Você acha mesmo que pode me ajudar a encontrar algo melhor?

Ela sorriu, encorajadora.

— Claro que sim. Você merece uma oportunidade justa e digna, Serena. Vamos começar a procurar assim que possível. Me passe seu currículo também, talvez eu possa conseguir algo.

Eu sorri, grata.

— Poxa, se a senhora fizer isso, eu serei eternamente grata.

— Mas não vai ser de graça, Serena. Prometa-me que você vai enfrentar seu patrão, e procurar seus direitos. Você não pode se sujeitar a isso, ainda é muito nova! Tem muito pela frente.

A seriedade na voz da mulher me fez perceber a importância do que estava em jogo. Assenti com determinação.

— Eu prometo, vou lutar pelos meus direitos e não permitir que me explorem mais. Muito obrigada por tudo, de verdade.

Saindo do hospital, encontrei Elias na recepção. Ele estava concentrado lendo um jornal e, ao me avistar, ergueu os olhos e sorriu.

— Olha ela aí! — Ele se levantou, estendendo o braço para me apoiar. — E aí, como se sente?

— Eu acho que bem... Minha perna ainda dói, principalmente sem o gesso. O médico me deu uns dias porque disse que está bem inchada.

— E você vai usar esses dias, né?! Não vai trabalhar igual uma escrava novamente.

— Eu não tenho escolha... — respondi, mas então lembrei da promessa que fiz. — Mas vou tentar fazer diferente.

— Que bom! Estava vendo no jornal e achei umas vagas interessantes. Acho que você deveria dar uma olhada.

A sugestão de Elias me encheu de esperança. Talvez houvesse uma oportunidade melhor lá fora, uma chance de finalmente escapar da exploração em que estava presa. Agradeci a ele pela dica e decidi que, assim que chegasse em casa, dedicaria algum tempo para procurar essas vagas. Era hora de mudar minha situação e dar um novo rumo à minha vida.

Meu coração afundou no peito quando decidi entregar o atestado para o meu tio. Antecipava uma reação negativa, mas não esperava a explosão de raiva que se seguiu. Ele arrancou o papel de minhas mãos e o rasgou em mil pedaços, jogando os fragmentos como confete em meu rosto. O choque paralisou-me por um momento, enquanto eu observava os pedaços brancos flutuarem no ar, como símbolos dos meus sonhos despedaçados.

Mas o que ele não sabia era que eu já tinha tomado precauções. Antes mesmo de me aproximar dele, eu discretamente coloquei um pequeno gravador no bolso, preparando-me para documentar qualquer evidência de seu comportamento abusivo.

Enquanto meu tio continuava a vociferar suas palavras cruéis, eu silenciosamente tocava o bolso onde guardava o gravador, sentindo um misto de ansiedade e determinação. Aquelas gravações seriam minha arma secreta, a prova irrefutável do seu tratamento injusto e desumano.

Eu iria cumprir minha promessa.

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