CAPÍTULO 3

Enquanto varria o chão da cafeteria vazia, as lembranças dolorosas da minha vida difícil invadiam meus pensamentos. Eu me esforço tanto, trabalho tanto, mas parece que nunca é o bastante. Não há oportunidades para alguém como eu, presa nesta rotina monótona e sem perspectivas de melhora.

E então, como se não bastasse a carga emocional já pesada, meu chefe chega e derruba uma xícara de café no chão, como se fosse a personificação de todas as minhas frustrações. Ele não perde tempo em apontar o dedo para mim, dizendo que nem mesmo para defender meu emprego eu sirvo. Suas palavras são como punhais afiados perfurando minha alma, inflamando minha raiva e revolta.

— Serena, o que você está fazendo? Isso aqui está uma bagunça! — gritou meu chefe, sua voz áspera ecoando no silêncio sufocante da cafeteria vazia.

— Desculpe, senhor, eu estava apenas terminando de limpar... — respondi, tentando controlar o tremor em minha voz.

— Limpar? Limpar o quê? Parece que você nem sequer faz o mínimo necessário para manter este lugar em ordem! — sua voz era um misto de desdém e irritação.

Engoli em seco, sentindo o peso de suas palavras como um soco no estômago. Eu sabia que não era verdade, eu dava o meu melhor todos os dias, mas parece que nunca era o suficiente para ele.

— Eu estou fazendo o meu trabalho, senhor. Eu sempre faço. — respondi, tentando manter a calma apesar do nó de raiva que se formava em minha garganta.

— Se você estivesse realmente fazendo o seu trabalho, não teria deixado isso acontecer. — ele apontou para a xícara de café quebrada no chão, sua expressão de desdém cortando-me como uma faca.

Respirei fundo, tentando conter as lágrimas de frustração que ameaçavam escapar. Eu não podia dar o gostinho de me ver fraquejar diante dele.

— Eu limpo isso, não se preocupe. — murmurei, abaixando-me para pegar a vassoura e a pá.

Ele bufou, virando-se para sair da cafeteria, mas não antes de lançar mais uma de suas observações cruéis:

— Você não deveria nem mesmo estar responsável pelo caixa. É um milagre que ainda esteja trabalhando aqui.

As palavras dele ecoaram em minha mente enquanto eu limpava o café derramado. Cada varrida era um golpe contra a injustiça que eu enfrentava todos os dias. Eu sabia que merecia mais, que era capaz de mais, mas parecia que o mundo estava sempre contra mim.

Além da raiva que eu sentia em relação ao meu chefe, havia também um ressentimento profundo em relação ao homem que ele me lembrava. Ele era irmão da minha mãe, tecnicamente meu tio, mas nunca o considerei como tal. Desde que me lembro, ele esteve ausente, preocupado apenas com seus próprios interesses e nunca demonstrando qualquer afeto ou cuidado por mim.

Enquanto ouvia suas palavras ásperas e cruéis, uma vontade avassaladora de dar-lhe um soco crescia dentro de mim. A raiva fervilhava em minhas veias, clamando por uma libertação violenta. Mas os bons costumes e a educação que minha mãe me ensinou me impediam de agir por impulso. Eu me segurava com todas as minhas forças, os punhos cerrados e os dentes rangendo de frustração.

Mesmo que ele fosse meu tio, eu não sentia qualquer ligação emocional com ele. Para mim, ele era apenas mais um estranho que fazia parte da paisagem indiferente da minha vida. E enquanto ele continuasse a me menosprezar e a me tratar com desrespeito, essa indiferença se transformaria em desprezo.

Mas por enquanto, eu me concentrava em terminar de limpar a bagunça que ele causou. Eu não ia dar a ele o prazer de me ver fraquejar. Eu era mais forte do que ele pensava, e um dia, eu provaria isso a todos. Mas por enquanto, eu apenas varria, deixando a raiva e o ressentimento se acumularem em um canto escuro da minha alma.

Quando finalmente terminei de limpar a bagunça, olhei em volta para a cafeteria vazia. Este lugar era um símbolo de todas as minhas lutas e todas as minhas derrotas. Mas também era um lembrete de que eu não podia desistir. Eu tinha que continuar lutando, continuar perseverando, porque um dia as coisas iriam mudar. Um dia, eu teria as oportunidades que tanto desejava.

Eu gostaria de fugir, mas não tinha para onde ir. Onde uma pobre poderia alcançar?

Caminhei pelas calçadas da rua, meu coração pesado com o peso das minhas preocupações. Ao chegar perto de casa, peguei as chaves, preparando-me mentalmente para enfrentar mais uma noite solitária em meu modesto apartamento.

Mas antes que pudesse dar mais um passo, uma mão repentinamente cobriu minha boca, silenciando qualquer grito que pudesse escapar. Meu coração disparou de puro pânico, e um frio intenso percorreu minha espinha.

Meu Deus, eu não tenho um dia de paz?

Lutei para me libertar do aperto da mão desconhecida, meu corpo tenso e os pensamentos girando em desespero. Quem era essa pessoa? O que queria de mim? Eu não tinha nada de valor, nada que pudesse satisfazer qualquer tipo de desejo.

Com o coração batendo tão alto que parecia ecoar pelas ruas vazias, forcei-me a ficar calma o suficiente para avaliar a situação. A mão ainda cobria minha boca, tornando difícil respirar, mas percebi que não estava sendo arrastada para longe. Era uma tentativa de silenciar-me, de me controlar.

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