■capítulo 4■

A minha casa não ficava tão distante da escola, apenas um quarteirão e meio. Não éramos ricos, mas tínhamos uma condição financeira boa. A casa era de dois andares, com uma cor creme que refletia a luz do sol, embora já estivesse começando a desbotar um pouco ao longo dos anos. Antes da entrada, havia um portão de ferro, não muito grande, mas suficiente para dar uma noção de privacidade, e por trás dele, um jardim bem cuidado. No segundo andar, o meu quarto ficava na parte de trás da casa. Ele era grande o suficiente para acolher toda a minha solidão, uma solidão que parecia crescer a cada dia. Os meus pais passavam o dia todo trabalhando e, quando estavam em casa, passavam mais tempo em frente a uma tela ou em longas ligações com gerentes, fornecedores e outras pessoas, que falavam em um tom de voz que nunca parecia ser para mim.

Eles eram donos de uma imobiliária, íamos bem, por sinal. Mas de que adianta todo o dinheiro e sucesso se eles não ligavam nem um pouco para a própria filha? Não havia carinho, não havia apoio, apenas o som das teclas do computador e das palavras dos outros. Eu sentia falta de algo simples: uma conversa, uma atenção verdadeira.

Quando cheguei em casa, apertei o botão da campainha. Nada. Ninguém. Fui até a janela, olhei o relógio no meu celular e percebi que já passava das 4 horas. “Com certeza a Angelina já foi embora. Agora, como vou entrar?”, pensei, sentindo o peso da frustração. A porta secreta do jardim! Como não pensei nisso antes?

A porta secreta era o local por onde a Josi passava quando queria dormir na minha casa. Ficava na parte de trás, perto do jardim. Eu andei até lá, discretamente, observando para ver se alguém poderia me ver. Vai que algum ladrão aparece, né? Mas a rua estava tranquila. Encontrei a porta pequena e velha, quase invisível. “Não acredito que vou ter que me arrastar para entrar em casa”, murmurei para mim mesma, e a ironia me fez sorrir.

Agachei, empurrei a porta e me arrastei pelo chão até o jardim. Quando levantei, estava tão suja que parecia que eu tinha rolado na terra! Senti o desconforto nas mãos, na pele, mas ignorei. Meu corpo estava cansado, minha mente também. Fui em direção à janela do meu quarto... ela estava no segundo andar. Eu não sou mulher aranha, mas o que mais eu poderia fazer?

“Para, Aurora! Você está ficando maluca!”, pensei. Mas, como não havia outra solução, respirei fundo. “Eu preciso descansar, estou pirando.” Olhei ao redor e, para a minha sorte, encontrei uma escada. Coloquei-a cuidadosamente debaixo da janela. “Vamos lá, Aurora, você consegue, só tenha coragem.” E com esses pensamentos, comecei a subir, degrau por degrau, com a sensação de que minha vida era uma comédia de erros.

"Uau, Josi deve passar por isso toda vez. Ela é corajosa!" pensei, tentando afastar o medo da altura. Quando finalmente cheguei à janela, abri-a com facilidade e entrei no meu quarto, sentindo um alívio imenso. Joguei minha mochila no chão, pulei na cama e comecei a chutar os tênis para longe, deixando os meus pés cansados tocarem o colchão macio.

Meu quarto era o meu refúgio, o meu lugar seguro. As paredes tinham um tom escuro, quase preto. O guarda-roupa, grande e imponente, era de um branco levemente amarelado. A estante de livros fazia o quarto parecer uma pequena biblioteca, um pedaço de mim em cada página. A mesa com o computador estava repleta de anotações e ideias para resenhas. Eu gostava de escrever, era uma forma de me expressar.

A cama era grande, porque eu gostava de ter espaço. Eu não sabia se era a solidão ou apenas a necessidade de não me sentir presa, mas aquele espaço me trazia conforto. O teto do meu quarto era decorado com estrelas e planetas que brilhavam no escuro. Eu adorava ficar ali deitada, horas a fio, imaginando como seria explorar o espaço. Meu quarto era mais do que um lugar para dormir; era um abrigo onde eu me escondia do mundo e recarregava minhas energias.

Deitei na cama, sentindo o peso de um dia difícil. O cansaço me consumiu e, antes que eu percebesse, adormeci. Não sei quantas horas se passaram, mas quando acordei, ouvi um som vindo de algum lugar. Abri os olhos lentamente.

“Que horas são?”, perguntei para mim mesma, procurando meu celular. Quando encontrei, vi que ele estava no chão novamente. A terceira vez essa semana. Olhei para o relógio e, com um suspiro, percebi que já eram 7 horas da noite. “Meu Deus, eu dormi ou entrei em coma?”, murmurei.

O quarto estava escuro, e eu vi que havia sete ligações não atendidas da minha mãe. Havia também uma mensagem:

"Aurora, eu e seu pai não vamos voltar hoje. Tivemos um imprevisto e precisamos viajar rapidamente para Fernando de Noronha. Um comprador importante queria ver uma de nossas casas por lá. Então, se comporte e, por favor, não crie problemas. Voltamos amanhã, só amanhã!"

Senti uma onda de frustração me invadir. Joguei o celular na cama e resmunguei: “Custava me chamar também? Eu adoraria ir para Fernando de Noronha. Se ela me conhecesse... mas não, ela nem liga para mim!” Uma lágrima escorreu, e eu a enxuguei com impaciência.

Minha barriga roncou, me lembrando de que ainda estava de uniforme e completamente faminta. Desci para a cozinha e fiz um sanduíche de queijo e carne, peguei algumas frutas e um suco de maracujá gelado. Subi para o quarto e, em questão de segundos, o lanche desapareceu. Levei o prato até a mesa do computador e deixei lá. Depois, tomei um banho demorado e, ao me secar, coloquei um roupão. Procurei um pijama confortável, e encontrei uma blusa e uma calça de moletom bem solta.

Secando meu cabelo, fiz um coque e, sentada na cama, fiquei olhando pela janela, os pensamentos só em Josi e na viagem. Talvez um pouco em Guilherme... só um pouquinho. Meu celular vibrou, e eu fui até ele. Quando vi a notificação, meu coração disparou.

“AI, MEU DEUS, O GUILHERME TÁ ME SEGUINDO?!”

Ele me atacou com uma bola de papel, quase me derrubou no chão... O que esse menino quer?

A tela do celular acendeu com uma nova mensagem: “Oi, Aurora! Tudo bem?”

Eu congelei. O que ele estava fazendo agora?

mensagens:

---

Eu peguei o celular com a mão trêmula e olhei a tela. O nome de Guilherme estava ali, me encarando com aquela notificação: "Guilherme Alcântara mandou uma mensagem antes que eu pudesse hesitar mais, cliquei para abrir.

Mensagem de Guilherme:

Oi, Aurora! Tudo bem?

Eu dei uma olhada na mensagem, sentindo um mix de emoções. Oi, Guilherme... tudo sim. E você? Eu digitei rápido, sem pensar muito. Não queria parecer tão entediada, mas a curiosidade era maior que o orgulho.

Minutos se passaram e o celular vibrou de novo.

Guilherme:

Tudo tranquilo. Desculpa de novo pela moto, foi mal por quase te atropelar. Você ficou bem?

Ah não, ele vai ficar me pedindo desculpas agora? Dei um suspiro antes de responder. Digitei o mais firme possível: Sim, eu fiquei bem, mas você é louco, sabia? Nunca mais faça isso, por favor.

O celular piscou de novo, e eu não sabia o que esperar.

Guilherme:

Kkkkk, prometo que vou tentar não te matar, então. Só queria me desculpar mesmo...

Eu ri um pouco, mas rapidamente me lembrei do quanto aquilo foi um susto. Fui direto ao ponto, sem enrolar: Tudo bem, você já pediu desculpas. Agora só não faça mais isso, ok?

Minha respiração estava mais leve, mas o celular não parava de vibrar. Ele ainda estava ali, tentando iniciar uma conversa.

Guilherme:

Pode deixar! E, se precisar de alguém para conversar, pode me chamar, viu?

O que ele está tentando? pensei. Mas... Ele é tão insistente, pensei. Respirei fundo e digitei: Ok... eu aviso. Boa noite, Guilherme.

Agora, eu só queria descansar. Mas, antes de deitar, uma última vibração.

Guilherme:

Boa noite, Aurora. Durma bem!

Eu fechei os olhos, tentando ignorar o calor no rosto. Boa noite, Guilherme. Eu murmurei para mim mesma, sentindo uma estranha mistura de alívio e algo mais.

Capítulos
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2 [•capítulo 2•]
3 Guilherme
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6 [ •capítulo 6• ]
7 [•capítulo 7•]
8 [•CAPÍTULO 8•]
9 THOMAS
10 ●capítulo 10●
11 ■ capítulo 11■
12 ■ capítulo 12■
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