Bibiana veio na tarde seguinte, seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. Levei-a depressa para a biblioteca e a fiz sentar no sofá de couro.
— O que aconteceu?
— Tommaso está furioso porque ainda não engravidei. Ele quer que eu vá a um médico para saber qual o problema.
Eles já estavam casados há quase quatro anos, mas Bibiana tomava anticoncepcional escondida.
— Talvez não seja tão ruim engravidar. Se você tiver um bebê, terá alguém para amar e que também te amará. — Abracei-a.
Passar os últimos anos vendo a depressão de Bibiana crescer cada vez mais por causa do casamento com Tommaso era de cortar o coração. Queria poder fazer algo por ela.
— Talvez tenha razão. E talvez Tommaso não me toque se eu estiver com uma barriga imensa. — Ela balançou a cabeça. — Não vamos falar sobre isso. Quero esquecer meus problemas por um tempinho. E você? Como estão os preparativos para o casamento?
Dei de ombros. — Minha mãe reservou o salão de um hotel.
Só o que preciso fazer é comprar um vestido de noiva.— Você vai escolher um vestido branco de novo?
— Acho que não. Minha mãe não acha apropriado. Talvez um creme. Vai ser melhor.
Bibiana suspirou. — Acho ridículo que não possa usar um vestido branco só porque já foi casada antes. Não é como se fosse um casamento de verdade.
— Shh — sinalizei, com o olhar fixo na porta fechada da biblioteca. Há algum tempo, tinha contado a Bibiana a realidade sobre meu casamento com Antonio. — Você sabe que ninguém pode saber.
— Não entendo por que você tenta protegê-lo. Ele está morto.
E te usou para alcançar um objetivo. Você deveria cuidar de si mesma agora.
— Estou cuidando de mim mesma. Ajudei Antonio a trair a Outfit. Ser gay é um crime, você sabe disso.
— Ridículo.
— Eu sei, entretanto, a máfia não mudará tão cedo, não importa o quanto a gente queira.
— Se não quer contar a Dante sobre isso, então, o que fará na sua noite de núpcias? Não está preocupada que ele vá perceber que seu casamento com Antonio nunca foi consumado?
— Pode ser que ele não perceba.
— Se for ao menos parecido com a minha primeira vez, ele vai perceber.
— Tommaso te tratou terrivelmente. Você não queria, é claro que sangrou. Toda vez que penso nisso, ainda sinto muita raiva.
Bibiana engoliu em seco. — O que está feito não tem volta. Eu queria mesmo era ter me casado com um homem gay. — Riu amargamente. Segurei sua mão.
— Talvez você tenha sorte e Tommaso sofra um infarto, ou seja fuzilado pelos russos. — Isso nem foi uma piada. Queria que Bibiana se livrasse daquele homem.
Bibiana sorriu. — É muito deprimente que eu realmente espere que isso aconteça?
— Claro que você quer que ele suma. Eu entendo. Qualquer um entenderia.
Ela analisou meu rosto. — E você? Quer dormir com Dante?
— Decididamente. Mal posso esperar. — Meu rosto ferveu, mas era a verdade e não via nada de errado em querer transar com meu futuro marido. Afinal, Dante era um homem atraente.
— Então, você tem que se preparar para garantir que Dante não perceba que seu primeiro casamento foi de fachada.
— O quê? Achar um cara para transar? Não quero trair Dante.
Para mim, sexo está ligado ao casamento. — Apesar de não ter intenção de tomar como regra tudo o que minha mãe me ensinou e nem querer deixar as palavras rigorosas das minhas professoras católicas se infiltrarem no meu cérebro, não conseguia imaginar ficar tão íntima de alguém com quem não estivesse comprometida.
Bibiana engasgou, dando uma risada. — Não foi o que eu quis dizer. — Ela baixou a voz e sua pele corou. — Achei que você poderia usar um vibrador.
Por um segundo, não soube o que dizer. Nunca havia considerado nada desse tipo.
— Onde eu conseguiria um vibrador? De jeito nenhum que eu posso pedir aos guarda-costas do meu pai que me levem a um sex shop. Minha mãe morreria de vergonha se descobrisse. — E eu provavelmente morreria de vergonha quando entrasse na tal loja.
— Queria poder te conseguir um, mas se Tommaso descobrir, ficará furioso. — Os hematomas no rosto de Bibiana por causa do último rompante de Tommaso ainda eram visíveis.
— Deve ser melhor assim. Não gosto da ideia de transar com um objeto inanimado mesmo. Vou dar um jeito.
— Dante provavelmente estará tão envolvido em suas próprias necessidades que nem vai notar. Os homens são assim.
Não era muito consolador. Espero que Dante se preocupe com as minhas necessidades também.
*** Quando chegou o dia cinco de janeiro, finalmente o dia do meu casamento, eu estava um pouquinho nervosa, não só por causa da noite de núpcias. Sabia que era a minha segunda oportunidade de um casamento feliz. A maioria das pessoas em nosso mundo não entendia isso. Viviam suas vidas em relacionamentos miseráveis até que a morte finalmente os separassem.
À medida que andava até o altar com meu vestido creme de lantejoulas, me senti esperançosa como há muito tempo não sentia.
Dante estava moderno com um terno preto e colete. Ele não tirou os olhos de mim, e quando meu pai me entregou a ele, tive certeza de ter visto uma pontinha de aprovação e admiração em seu rosto. Sua mão sobre a minha era acolhedora e o leve sorriso que ele me deu antes do padre começar o sermão, me fez querer ficar na ponta dos pés e beijá-lo.Minha mãe chorava copiosamente na primeira fileira. Ela parecia não poder estar mais feliz e meu pai estava praticamente reluzindo de orgulho. Só meu irmão, Orazio, que chegou de Cleveland, onde trabalhava para a Outfit, apenas duas horas antes, parecia estar com pressa de sair dali. Preferi a visão dos sorrisos encorajadores de Bibiana e Aria. Enquanto o padre falava, continuei olhando para Dante e o que vi em seu rosto partiu meu coração. De vez em quando ele ficava marcado pela tristeza. Ambos tínhamos perdido alguém, mas para Dante, se os rumores estavam certos, essa pessoa foi o amor de sua vida. Será que eu poderia competir com isso?
Na hora do beijo, Dante se inclinou sem pensar e pressionou seus lábios quentes nos meus. Ele definitivamente não era um homem de gelo. As palavras de Mamma pipocavam na minha cabeça e um arrepio de expectativa me atingiu. Talvez eu não pudesse fazer Dante esquecer a esposa, e eu nem queria, mas poderia ajudá-lo a seguir em frente.
*** Depois da igreja, fomos todos ao hotel para a festa. Era o primeiro momento de privacidade que Dante e eu tínhamos como marido e mulher. Ele não segurou minha mão enquanto dirigia, mas não devia fazer o tipo sentimental. O que mais me preocupava era a tensão em seu rosto e a seriedade em seu olhar.
— Acho que correu tudo bem, concorda? — Falei quando o silêncio se tornou sufocante demais.Dante desviou os olhos para mim. — Sim, o padre fez um bom trabalho.
— Queria que minha mãe não tivesse chorado tanto.
Normalmente ela consegue se controlar melhor.
Dante sorriu nervoso. — Ela está feliz por você.
— Eu sei. — Dei uma pausa. — Você está feliz? — Eu sabia que era uma pergunta arriscada.
Sua expressão ficou visivelmente retraída. — Claro que estou feliz com esta união.
Esperei por algo mais, só que fomos em silêncio pelo restante do caminho. Não queria começar nosso casamento com uma briga, então, deixei para lá.
Quando saímos do carro e caminhamos em direção à entrada, Dante colocou a mão em minhas costas.
— Você está linda, Valentina. — Olhei de relance para ele, mas seu olhar estava bem à frente. Talvez ele tenha se dado conta de como foi frio no carro e se sentiu mal.
O salão de festas do hotel estava lindamente decorado com rosas brancas e cor-de-rosa. Dante manteve a mão na minha lombar enquanto íamos para a nossa mesa sob as saudações de nossos convidados. A maioria deles chegou antes de nós e já estava sentada às suas mesas. Dividimos uma mesa com meus pais e meu irmão e os pais de Dante, sua irmã e o marido dela. Eu ainda não havia conversado com os pais de Dante, com exceção de algumas vezes assuntos aleatórios. Mesmo assim, eles tinham sido bem gentis. Orazio, meu irmão, fingia estar ocupado com algo no iPhone, mas eu sabia que ele apenas tentava evitar as perguntas de nosso pai.Aria e Luca, Matteo e Gianna, assim como a família Scuderi, ocupavam a mesa à nossa direita. Aria sorriu para mim antes de voltar a observar sua irmã e Matteo que pareciam prestes a discutir.
Esses dois teriam um casamento infernal. Matteo não parecia se importar com o olhar fuzilante que Gianna direcionava a ele.
— Vocês ficam lindos juntos — declarou Ines, trazendo minha atenção de volta à nossa mesa.
Dante me encarou com uma expressão indecifrável.
Os garçons escolheram este momento para entrar no salão com os pratos.
Depois do jantar de quatro pratos, chegou finalmente a hora da nossa dança. Dante me levou para a pista de dança e me puxou para perto de seu peito. Sorri para ele. Ele era quente e forte, e um bom dançarino, tinha o cheiro de uma perfeita brisa quente de verão junto com algo muito másculo. Mal podia esperar para dividir a cama com ele, para ver o que ele escondia por baixo do tecido de seu terno caro. Se estivéssemos sozinhos, eu repousaria meu rosto em seu ombro, mas todos nos olhavam, e eu acho que Dante não gostaria do show de intimidade em público.
É óbvio que nossos convidados não se importariam. Logo começaram a gritar:
— Bacio, bacio!
Dante olhou para mim com uma sobrancelha levantada.
— Vamos atender ao pedido deles ou ignorá-los?
— Acho que deveríamos atender ao pedido deles. — Eu queria muito mesmo atender ao pedido deles.
Dante me apertou mais forte e pressionou firmemente seus lábios nos meus. Seus olhos azuis estavam fixos em mim e por um instante eu tive a certeza de ter visto algo de prazer neles. E, então, os convidados invadiram a pista de dança e nosso beijo foi interrompido. Logo depois, Fiore Cavallaro me tirou para dançar e Dante teve que dançar com sua mãe. Sorri para meu sogro, incerta de como agir com ele, que tinha a mesma expressão indiferente de Dante.
— Minha esposa e eu esperávamos que Dante não escolhesse alguém que já tivesse sido casada.
Ficou difícil manter o sorriso em meu rosto, mas não quis que as pessoas percebessem que Fiore disse algo que me magoou.
— Compreendo — falei baixinho.
— Mas o argumento nos convenceu. Dante precisa de um herdeiro logo e alguém não tão jovem pode se revelar uma mãe melhor para nossos netos.
Assenti. Sua lógica fria era algo que eu odiava com todas as minhas forças. Não que eu fosse dizer isso para ele.
— Eu não quis soar tão cruel, mas este casamento é de conveniência, e tenho certeza de que sabe o que é esperado de você.
— Sei. E estou ansiosa para ter filhos com Dante. — Era verdade. Sempre quis filhos. Tinha até considerado fazer fertilização in-vitro quando ainda estava casada com Antonio, mas queria ter a chance de conhecer Dante melhor antes de tentar engravidar.
Evidentemente, tampouco poderia dizer isso ao pai de Dante. Como esperado, meu irmão substituiu Fiore.
— Estou contente que tenha vindo — falei olhando para ele.
Ele tinha os mesmos olhos verde-escuros que eu e quase os mesmos cabelos pretos, mas essas eram as únicas semelhanças entre nós. Nunca fomos próximos, mas não por falta de tentativa da minha parte. Não sabia ao certo se isso mudaria algum dia. Ele guardava mágoa do nosso pai por me mimar e, algumas vezes, achei que ele guardasse mágoa de mim porque era tudo mais fácil do que para ele.
— Não posso ficar muito tempo — disse simplesmente.
Assenti, não esperando nada de diferente. Orazio evitava nosso pai o máximo possível.
Fiquei contente quando Pietro, o marido de Ines, me chamou para dançar. Ele era um homem calmo e não pisou no meu pé, então, eu não me importaria de dançar com ele até o fim da noite para evitar conversas constrangedoras. Claro que isso teria sido mais do que inapropriado. Depois de Pietro, a hospitalidade me mandava dançar com todos os chefes de Nova York. Enquanto Aria parecia perfeitamente confortável perto de Luca agora, eu definitivamente não. Contudo, aceitei sua mão quando ele a estendeu para mim. Ele não estava sorrindo. Eu só via lampejos de um sorriso de verdade quando ele olhava para Aria. Dante era alto e musculoso, mas com Luca eu tinha ainda que inclinar a cabeça para trás para manter contato visual. Sabia que as pessoas nos observavam enquanto dançávamos. Sobretudo o olhar sério de Dante seguia cada movimento nosso, mesmo que ele estivesse dançando com Aria. Não que Luca parecesse muito feliz com o fato de Dante ter Aria em seus braços. Os homens do nosso meio eram possessivos. Homens como Dante e Luca eram algo totalmente diferente.
Quando terminou uma música e começou outra, quase não consegui esconder meu alívio. A expressão de Luca era de compreensão. As pessoas provavelmente se sentiam desconfortáveis na presença dele. Meu próximo parceiro de dança era Matteo. Eu não o conhecia muito bem, mas ouvi sobre seu temperamento e sua habilidade com a faca.
— Posso? — Perguntou ele com uma reverência exagerada.
Eu retribui com uma debochada. — Claro.
Ele ficou surpreso. Puxou-me para perto dele com um sorriso largo. Mais perto do que Luca arriscara. Mais perto do que qualquer homem são arriscaria.
— Acho que vi seu marido se contorcer um pouquinho agora — murmurou. — Suponho que este seja o equivalente a um rompante emocional para um bloco de gelo como ele.
Soltei um suspiro profundo, tentando reprimir uma risada.
— Você não gosta de enrolar, não é?
Seus olhos negros piscaram de alegria.
— Ah... Rodeios são o meu forte, não se preocupe.
Morri de rir. E não foi uma risada contida e feminina. Foi bem estridente.
— Estou quase certa de que foi inapropriado.
Pude sentir algumas cabeças virando em nossa direção, mas não consegui me conter.
— Você tem razão. Fui avisado para me comportar perto da esposa do Chefe para não causar uma desavença entre Nova York e Chicago — disse ele brincando.
— Não se preocupe. Não direi a ele.
Matteo piscou. — Receio que seja tarde demais.
— Acho que é minha vez de novo — disse Dante, surgindo ao nosso lado, encarando Matteo, que parecia plenamente inalterado.Matteo deu um passo atrás.
— Claro. Quem poderia ficar tanto tempo longe de uma beleza morena dessas? — Ele se inclinou e beijou minha mão. Virei pedra, não pelo beijo, mas por causa da expressão no olhar de Dante.
Coloquei rapidamente minha mão na dele e apertei; de repente, Aria estava ao nosso lado. — Você deveria dançar comigo agora, Matteo. — Ele concordou e Aria, de maneira esperta, afastou-se com ele de mim e Dante.
— Achei que quisesse dançar comigo? — Falei num tom casual forçado, dando uma olhada na expressão rígida de Dante.
Ele pousou os olhos azuis em mim, passou o braço à minha volta e começou a nos embalar no ritmo da música. Não tinha certeza do que o havia deixado com raiva: ciúme ou o desrespeito de Matteo.
— O que ele disse? — Dante acabou perguntando.
— Hã?
— Para você rir...
Talvez ciúme seja a força motora que mais se destaca, afinal de contas. Isso me deixou irracionalmente feliz.
— Ele fez uma piada sobre rodeios.
A expressão de Dante era de compreensão.
— Ele deveria ser mais cuidadoso. — A ameaça era clara.
Ainda bem que nem Matteo nem Luca ouviram.
— Acredito que ele esteja um pouco nervoso por causa dos problemas que anda tendo com Gianna.
— Pelo que ouvi, ele sempre foi instável, mesmo antes do seu noivado com a jovem Scuderi.— Nem todo mundo é tão controlado quanto você — respondi criticamente.
Ele ergueu as sobrancelhas, mas não disse mais nada.
*** Logo depois da meia-noite, Dante e eu nos retiramos. O hotel nos ofereceu a maior suíte para a noite, mas Dante preferiu voltar para casa e eu fiquei genuinamente feliz. Estava ansiosa para finalmente me mudar para a casa de Dante. Embora também estivesse preocupada, já que ele a tinha dividido com a falecida esposa. Devia estar cheia de lembranças. Bibiana cruzou os dedos enquanto eu passava por ela e não pude conter um sorriso.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Maria Izabel
Espero que Valentina desperte o amor que tanto deseja com Dante
só acho que o mais importante é ela falar que Dante vai ser o primeiro homem na vida dela pois o outro casamento dela era de fachada pois o marido era gay
2024-03-18
8
Ione barbosa
seja delicada ensina a ele com se faz amor
2024-01-23
3
Maki Umezaki
Cadê você, autora? Tô precisando de mais um capítulo pra viver. 😂
2024-01-05
1